Dentre as marcas de 2015, chama atenção o nível a que chegou a insegurança global, sobretudo potencializada por “velhas e novas” tensões e conflitos, em especial aqueles que se utilizam do terror sistêmico, da guerra e da economia das drogas para tentar impor seus dogmas obscurantistas.
No ano que nessa semana se encerra deram-se diversas tensões: sociais, econômicas, políticas, ideológicas e institucionais. Parece algo ininterrupto desde o atentado às torres gêmeas, mas que de 2008 em diante tomou proporções ainda maiores, principalmente por conta da crise econômica global, das guerras que se arrastam, da expansão da economia do crime e da radicalização do terror empregado como método político pelo Estado Islâmico para sujeitar o Ocidente. Um ano pra refletir e aprender, nunca esquecer.
A crônica questão social se agudizou mais nesse ano, especialmente com a crescente precarização do trabalho, o retorno da inflação e do desemprego, além da crise migratória em diversos países. Obviamente, esses aspectos não deixam de interagir com as questões econômicas e políticas atuais. Em 2015, o movimento migratório, sobretudo procedente da Síria, evidenciou a migração não só como questão social, mas também como problema humanitário.
Ressaltou-se com maior clareza nesse ano que os padrões de produção e consumo do capitalismo vigente não são suportáveis pela condição ambiental do planeta nem compatível com a qualidade de vida na sociedade planetária. Na mesma tendência, enfatizou-se que o capitalismo financeiro há muito atingiu um patamar extremamente nocivo de especulação e requer um mínimo de regulamentação nos mais diferentes mercados. A dinâmica da economia, cujo “céu” do consumismo e da especulação não tinha freio, agora vê-se pressionada pelos limites do meio ambiente, da qualidade de vida coletiva e pela necessidade de um mínimo de garantia às transações de capital. A natureza, a sociedade e a economia real impõe ao mercado e ao capitalismo especulativo a exigência de alguma racionalidade.
No campo da mediação política, em 2015, os modelos, atores e arranjos políticos flagraram-se notoriamente ultrapassados, exauridos quando não corrompidos, e ineficazes para lidar com as questões herdadas pela contemporaneidade. O tempo atual demanda maior responsabilidade e consequência da medição e da participação política, fundamental ao desenvolvimento e à difusão da experiência democrática como padrão civilizatório. Ficou ainda mais nítido, no curso desse ano, por conta dos reiterados fatos e eventos críticos expostos, que a práxis política estacionou no jogo político-eleitoreiro, apodreceu as instituições de mediação política tradicionais e está corroendo seriamente as perspectivas reais do democracia, no Brasil e no mundo. É preciso reavivar a relevância do aprofundamento da experiência democrática não só no Ocidente, mas disseminar a mesma em toda parte, sobretudo no resguardo aos direitos fundamentais, em especial da liberdade, da justiça social e da solidariedade.
O recrudescimento do obscurantismo fundamentalista tem conduzido povos e culturas a um espécie de radicalização ideológica de consequências violentas e criminógenas, tendência essa acentuada em 2015. Não tem sido raros nem inofensivos as expressões e atos que tem dado última forma ao obscurantismo. Esse processo ganha cada vez mais adeptos diante da banalização da violência, da expansão da economia do crime e da falta de melhores horizontes de vida em sociedade que pregam princípios e valores democráticos sem oportunizar a coerente efetividade social dos mesmos.
Esse contexto geral de insegurança e de obscurantismo, potencializado em 2015, tem concorrido para gerar, em muitos países, um ambiente favorável à reinstalação da cultura fascista ou neonazista em instituições, sobretudo em determinados veículos de imprensa, entidades corporativas, pseudo-representações profissionais, e em setores de governo. Vê-se, gradualmente, grupos perseguindo outros na esfera da administração estatal, inclusive precarizando o trabalho, fazendo uso leviano de meios de imprensa de massa, alimentando ódios, subjetividades obscuras e irracionalidades contra indivíduos, grupos e carreiras, sem o menor fundamento real. Busca-se assim naturalizar o ódio, as injustiças e as leviandades praticadas contra os perseguidos, a fim de dar um verniz de “legitimação” aos hediondos atos praticados de perseguição, bullying, assédio moral e tortura institucionalizada. Tais práticas selvagens, típicas da barbárie pré-Hamurabi, coincidem com o que os nazistas fizeram contra os judeus e outros povos, na segunda guerra mundial, utilizando a imprensa e a publicidade para o extermínio em massa de populações não alinhadas com o propósitos do Terceiro Reich. Esses processos são potencializados quando grupos sociopatas e entidades neofascistas chegam ao poder e seus objetivos se aliam aos interesses torpes da imprensa sombria, marrom, e de agentes econômicos obscuros, de práticas individuais e sociais ilícitas. Nesse contexto, assiste-se a formação de verdadeiras quadrilhas e organizações crimininosas que tentam, a qualquer preço, manipular a opinião pública pra satisfazer seus propósitos escusos, mesmo que isso custe a vida e as carreiras de profissionais idôneos, lícitos e competentes. Um nocivo golpe às perspectivas democráticas, que conduz a retrocessos institucionais e à queda da qualidade das relações entre a sociedade e o Estado.
São esses, portanto, alguns dentre os relevantes aspectos e fatos destacáveis de 2015 para uma sucinta reflexão. O ano que termina e o ano prestes a começar reflete, enfim, o tenso e conflituoso cenário em que vivemos, tempos difíceis desde o 11 de setembro de 2001, marco tragicamente singular do recente século XXI. Infelizmente, os indicadores objetivos que estão postos para as tendências socioeconômicas e políticas do próximo ano não são os mais promissores. Mas é preciso acreditar e seguir fazendo o melhor para que uma nova realidade seja possível já a partir de 2016, pois é crendo que se começa a reverter as tendências. Por isso, apesar de tudo, creiamos num ano melhor – Feliz Ano Novo!
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.