MANAUS – No dia 1° de dezembro de 2021, um grupo de jornalistas, todos com diploma, lançaram o selo “É Fato – Jornalismo Profissional com Responsabilidade”. No diz 7 de abril – quinta-feira da semana passada – o Sindicato dos Jornalistas do Amazonas lançou o selo “Jornalismo Profissional – Verificado pelo SJPAM”.
Os dois selos incomodaram e muito aqueles que julgam estarem fazendo jornalismo, mas não seguem regras e nem se submetem ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros da Federação Nacional dos Jornalistas.
Não era para tanto. Nem um nem outro selo pretende impedir qualquer pessoa de fazer o que bem entender nos meios de comunicação, mas apenas marcar posição em relação ao fazer jornalístico. Explicamos neste espaço alguns dos motivos que resultaram na criação dos selos.
Vamos entender primeiro a motivação do selo “É Fato”. Criado por um grupo inicial de 15 veículos de comunicação do Amazonas, todos com sede em Manaus, este selo foi pensado com dois objetivos: dar uma satisfação aos leitores que buscam informação confiável na internet e mostrar ao “mercado” que existe jornalismo profissional que merece uma fatia do bolo publicitário das empresas.
O primeiro objetivo se justifica pela quantidade de sites e “portais” que se apresentam como produtores de conteúdo jornalístico, mas grande parte não tem nem equipe nem profissionais da área. A legislação brasileira não impede que qualquer pessoa, formada ou não em curso superior de comunicação social atue como jornalista, desde que siga os parâmetros do que se convencionou chamar de jornalismo.
Um simples relato de um fato pode ser feito por qualquer pessoa, como ocorre nos perfis pessoais das redes sociais, mas esse relato não se encaixa nos padrões jornalísticos. O conteúdo para ser considerado jornalístico, deve conter pelo menos três elementos: atualidade, veracidade e periodicidade.
No caso do Amazonas, grande parte dos sites, blogs e “portais” não produz qualquer conteúdo e se “especializou” em roubar conteúdo alheio para republicar, sem ao menos mencionar a fonte. É preciso que se diga, no entanto, que não basta mencionar o site que produziu o conteúdo, como fazem alguns. Utilizar o conteúdo de um site que investe no pagamento de profissionais e em toda a logística do fazer jornalístico é, no mínimo, falta de respeito a essas empresas e profissionais.
Em relação ao segundo objetivo, é necessário lembrar que antes do surgimento da internet como propagadora de conteúdo jornalístico, as empresas privadas tinham nos jornais impressos, rádio e televisão o foco de sua publicidade. Com a internet tragando esses veículos, não houve a migração da publicidade para os sites, blogs e portais.
Inúmeros fatores contribuíram para a escassez de publicidade na mídia digital, mas o principal deles é a quantidade de veículos que foram criados. São tantos no Amazonas que ninguém tem um número exato deles. Assim, todos os sites, blogs e “portais” foram colocados no mesmo balaio.
É necessário mostrar que nem todos são bons e nem todos são ruins. Foi pensando nisso que os profissionais resolveram se organizar e formar o grupo para mostrar-se ao “mercado”, não como os melhores, não como os únicos, mas como veículos de mídia que atua no mercado com responsabilidade.
Não há a intenção de apontar o dedo contra nenhum veículo. O que se quer é a busca de reconhecimento profissional de um trabalho que é feito com o sacrifício que a profissão exige.
Por outro lado, o Sindicato dos Jornalistas, enxergando um ambiente infestado por notícias falsas, pelo sensacionalismo e pela busca de audiência a qualquer custo, inclusive da honra alheia, resolveu criar um selo que demonstre ao leitor que aquele veículo que o usa se submete ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, à legislação trabalhista e à legislação civil brasileira.
Uma comissão formada por jornalistas e por representantes da sociedade civil analisará os pedidos para aquisição do selo e só aqueles que seguem as normas acima terão direito a estampá-lo em seus veículos de mídia.
Quem não quiser adquirir o selo, não terá qualquer problema em se manter na internet ou em qualquer meio de comunicação. Se quiser o selo, precisa se enquadrar às regras. Ninguém é obrigado a adquirir o selo; ninguém é impedido de adquiri-lo.
É bobagem pensar que o selo “É Fato” ou o selo “Jornalismo Profissional” foram criados para perseguir “a” ou “b”. Todos terão seu espaço para fazerem o que bem entenderem. E para quem sair da linha, não serão os sites criadores do “É Fato” nem o Sindicato dos Jornalistas que estabelecerão as devidas punições, mas a Justiça, desde que acionada por quem se sentir ofendido. Já é assim, e assim será.
Em suma, nada muda na relação dos sites, blogs e “portais” com a sociedade. Mas o leitor terá como identificar e cobrar que o veículo que utiliza o selo ou os selos entregue um jornalismo de qualidade. Porque o selo não é garantia de que seus usuários não cometerão erros. A diferença é que eles têm a obrigação de não errar.
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