![ATUAL surgiu há 11 anos da insatisfação com o jornalismo tradicional do Amazonas pelos jornalistas Valmir Lima e Paulo Figueiredo (Foto: AM ATUAL)](https://amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2024/11/Amazonas-Atual-jornalismo.jpg)
Do ATUAL
MANAUS – O AMAZONAS ATUAL completa 11 anos de existência neste dia 25 de novembro.
Fruto de uma insatisfação com o jornalismo local, o site de notícias foi criado no ano de 2013 a partir de uma conversa entre os jornalistas Valmir Lima e Paulo Figueiredo, que também era advogado. Hoje, o site é referência no jornalismo amazonense e hospeda milhares de matérias que registram a história do Amazonas.
“A ideia de criar um site nem foi minha. Eu tinha um blog [Blog do Valmir Lima] e o doutor Paulo Figueiredo, articulista do jornal Diário do Amazonas, me provocou. Ele disse: ‘Valmir, o jornalismo está muito ruim. Os caras não estão levando a sério o jornalismo. Acho que a gente precisa fazer alguma coisa, um blog’. E eu disse: ‘É melhor a gente criar um site de notícias'”, afirmou Valmir Lima, fundador do site, ao relembrar da conversa com Paulo Figueiredo, falecido em 2018.
De acordo com Valmir, naquele momento, os blogs [conteúdo opinativo] estavam se popularizando entre os usuários da internet, mas já existiam sites de notícias, sendo os principais aqueles de propriedade de empresas que atuavam na mídia tradicional.
Em pouco tempo, o AMAZONAS ATUAL se tornou referência na cobertura política no estado, com conteúdo exclusivo e técnico, nos moldes do jornalismo profissional.
“O Paulo topou e a gente começou a fazer. Ele tinha boas fontes na política. E a gente começou a fazer um site mais pegado, com uma veia política. Isso foi dando muito certo. A gente começou a ter um certo respeito na sociedade amazonense. O site cresceu e hoje a gente completa 11 anos de trabalho”, afirmou Valmir Lima.
Em 11 anos, o site publicou dezenas de milhares de matérias e artigos. A contagem oficial foi prejudicada em razão de ataque digital que gerou a perda de milhares de publicações. Atualmente, o sistema interno indica que o site tem 127 mil posts.
A maior parte do material produzido pelo site registra fatos históricos do estado amazonense, que poderão ser consultados pelas próximas gerações, incluindo as eleições, a pandemia de Covid-19 e as operações deflagradas a partir de investigações policiais.
O site se tornou referência para os poderes do Estado, incluindo o Judiciário. O ATUAL foi fonte de informações do Ministério Público e foi citado em decisões do STF (Supremo Tribunal Federal).
O jornalista Cléber Oliveira, que edita o site há 10 anos, cobriu diversos fatos históricos da última década, mas menciona as eleições como as mais marcantes. “Para mim, os fatos históricos mais significantes são as eleições, que renovam a democracia no país”, afirmou Oliveira.
“A eleição de 2018, quando o Bolsonaro foi eleito, quebrando um ciclo da esquerda dividida com a direita, do governo Lula e do PT, foi um fato marcante porque era uma nova trajetória política de um candidato de extrema direita totalmente diferente do que o país já tinha experimentado antes, muito radical, e com uma popularidade muito grande”, afirma o jornalista.
“Isso foi um fato muito marcante até pela preocupação sobre os rumos do país a partir dali. A terceira eleição do Lula mudou completamente isso. Foi outro fato histórico que marcou porque se deu em meio a uma tensão política muito grande no país, com tentativa de golpe. Hoje, a Polícia Federal descobriu que havia até tentativa de matar o presidente eleito e seu vice. Então, isso é história, é o que faz o jornalismo ser o que é. Você vai ter isso pra sempre registrado. Se alguém quiser fazer pesquisa, por exemplo, vai ao ATUAL e está lá registrada a história daquele momento”, completa Oliveira.
Assim como foi no começo, o site continua a produzir matérias atendendo os requisitos do jornalismo profissional. Para Cléber Oliveira, é isso que diferencia o ATUAL da maioria.
“O jornalismo profissional exige a metodologia técnica do jornalismo, que é a apuração, investigação, entrevistas, checagem de documentos, checagens de dados, o que muitos veículos de internet não fazem”, afirmou o jornalista.
“A maioria desses sites reproduzem o que as redes sociais jogam para a opinião pública. O ATUAL não. O ATUAL investiga aquilo que está em evidência, no caso das redes sociais. Esse é o grande diferencial. A gente defende e pratica as regras técnicas do jornalismo profissional”, completou Oliveira.
Desde 2021, o ATUAL tem sede própria, localizada no bairro Petrópolis, na zona centro-sul de Manaus. O prédio conta com estúdios próprios para produção de conteúdo audiovisual. Alguns estão disponíveis no canal no Youtube.
Atualmente, o site conta com oito jornalistas, sendo o diretor, Valmir Lima; o editor, Cléber Oliveira; os repórteres Feifiane Ramos, Felipe Campinas, Milton Almeida, Conceição Melquíades e Murilo Rodrigues, a social media Jenny Branches e a assistente de estúdio Érica Mota.
Neste ano, teve importante atuação na cobertura das eleições municipais, integrando um grupo de sites de notícias especializados na cobertura política para realizar pesquisas eleitorais.
Para o fundador, Valmir Lima, o jornalismo profissional ainda enfrenta barreiras. “Fazer jornalismo profissional no Brasil é difícil. Não se faz jornalismo sem dinheiro. A gente precisa de bons profissionais, que têm que ser bem pagos. A iniciativa privada, que historicamente bancou o jornalismo profissional, meio que se afastou dos sites, do jornalismo na internet”, afirmou.
“Só os grandes veículos de comunicação hoje têm patrocínio garantido pela incitativa privada, e muito por conta de outros veículos que ainda são fortes como a televisão e o rádio. Quem está começando no jornalismo profissional tem certa dificuldade. A não ser que você tenha um nome muito forte nacionalmente. Mas a iniciativa privada olha com muita desconfiança para o jornalismo online”, completou o jornalista.
Nos veículos de comunicação que fazem jornalismo online, a receita para arcar com as despesas vêm de publicidade. No entanto, as mudanças ocorridas nos últimos anos, influenciadas por mudanças no comportamento na internet, criaram novos desafios para a manutenção do jornalismo profissional.
“A publicidade tomou outros caminhos. Antes a publicidade era feita nos veículos de comunicação: ou nos programas de entretenimento ou jornalismo. E com a internet, com as redes sociais, as empresas passaram a fazer publicidade direta. Então, a empresa X cria um canal no Youtube, divulga as coisas delas lá, ou cria uma página no Facebook, um perfil no Instagram… E o Instagram, Facebook, o Google é que hoje capturam essa publicidade que antes era dos veículos de comunicação. Sobra pouca coisa pro jornalismo online”, afirmou Lima.
O poder público, ao cumprir o princípio da publicidade, previsto na Constituição da República, também se torna fonte de receita para os veículos que fazem jornalismo profissional. No entanto, conforme afirma o jornalista, a relação tem alto risco de conflitos em razão do caráter do jornalismo, que tem como foco o poder público.
“Mas a gente tenta vencer essa barreira. Você sabe que depender do poder público, dependendo de quem está no poder, o gestor vai querer te cercear, vai querer impor regras para você publicar qualquer coisa às vezes. Então, você não tem a liberdade que você teria se fizesse jornalismo totalmente independente, pago pela iniciativa privada. Teria muito mais liberdade pra fazer”, afirma Lima.
“O principal foco do jornalismo é o poder público. A iniciativa privada aparece no noticiário só quando erra, quando comete um crime ou quando é vítima de um crime. Mas o foco do jornalismo é o poder público. É meio que incompatível fazer jornalismo mostrando as vísceras do poder e esse mesmo poder patrocinar esse jornalismo”, completa Lima.