
MANAUS – A chamada direita brasileira tenta se fazer de vítima e compara as prisões de delinquentes que destruíram o patrimônio público e atentaram contra a democracia com a repressão militar nos anos de chumbo que durou duas décadas no Brasil. Pura canalhice.
Os mesmos vagabundos e vagabundas que exaltam o asqueroso presidente dos Estados Unidos Donald Trump torceram contra a premiação do Oscar à atriz Fernanda Torres e ao filme Ainda Estou Aqui. Fernanda Torres não ganhou a estatueta, mas o filme foi reconhecido como o melhor produzido fora dos Estados Unidos, para decepção dos e das canalhas.
A reação e repulsa ao filme e à atriz Fernanda Torres ocorrem por ignorância de alguns e por falta de caráter de outros. O filme apenas retrata com fidelidade um caso concreto de uma família que teve o pai morto pela ditadura militar, que não apenas prendia, mas prendia para matar. Não havia julgamento, mas tortura nas prisões. Em muitos casos, tortura até a morte.
A canalhada bolsonarista e direitista quer escamotear a verdade dos fatos, negar a história. E fazem isso com um grau de sadismo impressionante, como faz o então deputado Jair Bolsonaro na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que exaltou um dos maiores torturadores do período sombrio, o coronel Carlos Brilhante Ustra.
Nas redes sociais, os e as canalhas editam e reproduzem vídeos com a fala de Fernanda Torres sobre a época da repressão militara, e enxertado com falas de jornalistas de emissoras de direita que distorcem os fatos, porque os fatos enxertados são atuais, dos presos por delinquência, não por defender uma ideologia.
Enquanto esses delinquentes ocupavam as calçadas dos quartéis em protesto contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não foram incomodados por qualquer autoridade. Deveriam ter sido retirados pelas forças militares, mas grande parte dos militares estava apoiando os atos antidemocráticos.
As prisões ocorreram depois que essas pessoas, crentes de que era possível tomar o poder pela força, invadiram e quebraram a sede dos três poderes. Esperavam que seus atos criminosos geraria uma reação das Forças Armadas, que tomaria o poder, novamente, como fizeram em 1964. Queriam essas pessoas que o país continuasse sob o julgo de Bolsonaro, que não conseguiu ser eleito pelo voto popular para o segundo mandato.
Os canalhas também defendem o ex-deputado Daniel Silveira, condenado em 2022 a 8 anos e 9 meses de prisão por ameaçar integrantes do Supremo Tribunal Federal de morte e invocar um novo AI-5 (Ato Institucional número 5, que na ditadura militar tornou a repressão aos inimigos dos ditadores ainda mais dura) com o objetivo de afastar ministros do Supremo, como fizeram os militares.
Agora, essa gente prega a anistia aos criminosos, como foi feito quando do fim do regime militar. Naquela ocasião, os deputados e senadores fizeram um acordo para anistiar os militares que reprimiam e os seus algozes, que pegaram em armas para defender a democracia, colocando-os no mesmo nível, como se isso fosse possível. Ora, o armamento do Exército e das polícias estaduais que reprimiam os adversários do regime era incomparavelmente mais potente e poderoso do que os dos insurgentes.
Portanto, não é possível, a não ser por força do mau-caratismo, comparar o atual regime democrático, em que todos podem dizer o que bem querem, desde que não cometam crime, com o regime militar em que as pessoas eram perseguidas mesmo sem se manifestar, apenas pelo fato de se reunirem.
As pessoas de bem não podem concordar com a impunidade dos delinquentes. E devem cobrar de deputados e senadores o cumprimento da lei. Sem anistia!
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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