Cheirinho, golpe ou tríplex. Sem considerar os termos que nunca deixam de ser mencionados como corrupção, crise e confusão – só para ficar nos que começam com a letra C – qual foi a melhor palavra para retratar o ano de 2016 no Brasil?
Escolher uma palavra para resumir um ano já é tradição em alguns países. A American Dialect Society (ADS), por exemplo, escolheu vocábulos como: metrossexual (2003); ‘plutado’ (2006), significando ser rebaixado como Plutão, que deixou de ser planeta; subprime (2007), adjetivo usado para descrever um empréstimo, hipoteca ou investimento de risco e que esteve na origem da grave crise econômica. Até data já foi a palavra do ano. Em 2001, por causa dos atentados terroristas às torres gêmeas, em Nova Iorque (EUA), ocorridos no dia 9 de setembro, a escolhida foi “11/9”.
As palavras do ano mais famosas são as selecionadas pelo prestigiado Dicionário Oxford. Já foram eleitas, por exemplo, termos que demonstram o avanço e o domínio das tecnologias nas vidas das pessoas como podcast (2005); GIF (2012) e selfie (2013).
Já para ser a palavra internacional do ano de 2016, o Dicionário Oxford escolheu “pós-verdade” (post-truth). A locução foi definida pelo dicionário como um adjetivo “relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que apelos à emoção e à crença pessoal”. A adoção da palavra se deveu, principalmente, ao que aconteceu nas campanhas do plebiscito do Brexit e da eleição americana, ambas marcadas pela disseminação de notícias falsas nas mídias sociais.
Pode ser uma novidade para os que usam o idioma inglês, mas os brasileiros estamos muito acostumados com esse tal conceito de pós-verdade. O poeta Mário Quintana, por exemplo, dizia no livro “Sapato Florido”, publicado em 1948, que: “A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”.
O problema é que as pós-verdades que nos contam não são nada poéticas. Podem até ser embrulhadas em falas bonitas, mas o conteúdo costuma ser tenebroso. É um “fato objetivo” ou uma pós-verdade que a PEC do Teto realmente vai ajudar a melhorar o Brasil?
O fato é que pós-verdade parece ser uma boa palavra para definir um país dominado pelos que não têm ou não cumprem a palavra. E onde “palavra de honra” sempre parece uma expressão em desuso e estranha.
O momento mais polêmico da história do Dicionário Oxford, ocorreu no ano passado, quando o júri de especialistas decidiu que a palavra do ano não seria uma palavra. Em 2015, foi eleita uma imagem pictográfica que simboliza uma palavra ou frase. No caso, a imagem vencedora foi um emoji que representa um “rosto com lágrimas de alegria”.
Aquela face redonda do “chorando de tanto rir”. Se “no princípio era o verbo”, no fim dos tempos a comunicação se dará por imagens ou gestos?
Segundo a Oxford, a cada cinco emojis utilizados no mundo, um deles é o “chorando de tanto rir”. E a imagem é escolhida para as pessoas expressarem que acharam algo tão engraçado, que gargalharam tanto até começarem a chorar. Uma demonstração de que, apesar de tudo, as pessoas ainda estão conseguindo encontrar motivos para rir.
O futebol, ainda uma das maiores fontes de alegria nacional, também gerou vários termos que poderiam resumir o ano. Os flamenguistas, por exemplo, queriam que “cheirinho” fosse a palavra mais definidora de 2016. O Palmeiras, porém, foi um time muito mais sólido e acabou abocanhando o Campeonato Brasileiro. Literalmente, “não deu pro cheiro” este ano. Também riram por último e melhor os torcedores do Grêmio. Além do título da Copa do Brasil, ainda viram o arquirrival, Internacional, serem rebaixados à segunda divisão. O que fez explodir o uso de alguns emojis no Rio Grande do Sul.
Dizem que não será em 2017, mas seria muito bom que chegasse o tempo em que o brasileiro tivesse – além de passatempos como o futebol – muitos e fortes motivos para ficar satisfeito, contente. E enquanto não é possível ter razões para chorar de tanto rir, não é só fuga, é também resistência: rir para não chorar.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.
Magnífico!
Rir ainda é o melhor remédio!!