A política é a convivência entre os desiguais. O homem se organiza politicamente por dois motivos: para coisas comuns, essenciais no caos, ou a partir do caos absoluto das diferenças. No pensamento do filósofo Aristóteles, “o homem é por natureza um animal político”. Este animal, por mais egoísta e individualista que seja, mesmo assim não excluiria o convívio em sociedade, pois há interesses comuns que os une. Viver em sociedade é reconhecer que cada cidadão deve se responsabilizar pela Polis – cidade.
Para os gregos, a palavra “cidade” era chamada de Polis, entendida como associação de cidadãos – do grego politikos –, nascidos no solo da Cidade, livres e iguais. Já naquela época, nem tudo era perfeito: mulheres, crianças e escravos não eram reconhecidos como cidadãos. Mesmo assim, através da politika – palavra também de origem grega, usada para tratar de assuntos concernentes a Polis –, a vida em coletividade era a regra.
É evidente que nascemos para o convívio social e a política funciona como uma forma de interação. A própria terminologia da palavra “cidadão” não nos deixa aceitar as pessoas a se referirem como apolíticas, pois se transformariam da matéria prima para o caos.
Foi a partir desta ruptura de pensamento, na qual o cidadão abandonou suas funções e a ética, delegando-as aos “políticos” e aos mecanismos de atuação político-partidário, comprometidos apenas com conflitos de interesses nada elevados, que se chegou ao último declínio democrático. Certamente, o que sustenta uma sociedade política é a atuação do cidadão na defesa do que acredita. Somente assim haverá mudanças na política.
De nada adianta mudar pessoas ou estruturas/mecanismos do poder. Impende trabalhar, primeiramente, na alteração da mentalidade e das ideias das pessoas. É preciso, de fato, mudar as pessoas, pois a política é feita assim: de pessoas. Criar leis, alterar as existentes, sem transformar e conscientizar o cidadão, não passa de politicagem. Modificar a política no Brasil é mais além que apenas mudar quem está no sistema ou a legislação que o sustenta.
A mesma pessoa que causa a desordem no sistema político brasileiro é quem irá gerir as mudanças legislativas ou estruturais quando realizadas. Isto quer dizer que não adianta apenas eleger novos políticos. É mudar apenas de foco, confiando que mudar a engrenagem, muda o sistema.
O início da verdadeira reforma política começa alterando a mentalidade do cidadão, restaurando a política fincada em valores que acreditamos melhorar a sociedade, e não em melhorar a condição de vida individual. Cumprir o nosso papel perante a sociedade e estimular os demais a assumir suas responsabilidades no dia a dia é o início da mudança que todos desejam.
Pode parecer utópico. É sabido que tais mudanças são demoradas. Mas tudo o que foi idealizado, proposto e realizado até hoje, não produziu grandes transformações, capazes de saciar os desejos da sociedade, fazendo com que as pessoas se sintam insignificantes e impotentes.
O sustento da sociedade política deve iniciar restaurando os cidadãos do papel relevante que ocupam na sociedade, ao cumprir suas obrigações e ao utilizar suas habilidades como meios para ajudar outras pessoas. O cidadão precisa ser útil à sociedade, empregando suas destrezas em função do próximo. Não deve, ainda, esperar que o político ou o Estado realizem nosso dever.
A política, ou melhor, a ação política, que significa “ação que visa o bem comum”, é e pode ser prática por todos os cidadãos. Basta cada um fazer o seu papel.
Sérgio Augusto Costa é Advogado, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Eleitoral.
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