Nos primórdios de consolidação do governo sob a batuta do partido dos trabalhadores, se criou uma imensa expectativa em relação ao potencial transformador que um partido – criado nas bases da sociedade – poderia causar de mudança radical e significativa no país. Desde o início da década de 90, uma onda publicitária engrandeceu o discurso “engana trouxa” de combate a corrupção, caça aos marajás atrelada a desenvolvimento, paz e justiça social.
A balela se fazia acompanhar, invariavelmente, de uma prática desconectada das condições de possibilidade de desmontar as principais razões estruturais destes mesmos problemas. Fernando Collor era o grande profeta engano.
Quando Lula se estabeleceu no poder, e escreveu a chamada “Carta aos brasileiros”, foi rezada essa ladainha criticando o governo anterior – o inferno são os adversários – enchendo o cidadão de promessas de um futuro melhor, falando tudo que um povo miserável queria ouvir. A farta distribuição de clichês vazios poderiam, facilmente, ser repetidos quase que integralmente no atual momento.
Errar de cálculo e análise crítica é de quem coloca a disputa entre petistas e tucanos como a real batalha dentro da trama política nos últimos anos. Eles podem, eventualmente, até brigar nas discussões do Congresso. Podem até protagonizar uma rivalidade vaidosa na disputa de quem senta na cadeira do cargo mais alto. Mas, em termos de governabilidade, PT e PSDB formam um consórcio. São praticamente iguais, siameses, na essência e frágeis na coerência.
Nunca se viu as classes dominantes e seus representantes ideológicos atacarem os programas sociais implementados nas últimas décadas, muito pelo contrário. Quem faz isso são apenas papagaios reacionários, absolutamente ignorantes, que cassam argumentos políticos para legitimar seus preconceitos enraizados.
Os programas sociais foram uma verdadeira dádiva para os donos do poder. Se resolveram parcialmente o problema da pobreza extrema sem tocar nas suas causas primordiais – não se alterou a estrutura agrária, não se reforçou a indústria como deveria, nem se reformou o poder. Isto é, passaram longe de construir uma condição de autonomia político-econômica do País.
Além disso, se deu uma saída liberal – isto é, pelo aumento da capacidade popular de consumo. Cada vez mais pessoas se tornaram consumidores e adentraram à lógica do capital. Nunca banqueiros e burgueses morreram tanto de amor por um governo que se dizia de esquerda.
Quando compreendidas as bases da nossa socialização capitalista, ainda mais num contexto brasileiro (situado na periferia do capital), passa a ser totalmente ilusória e falsa a noção de “inclusão social” repetida discursivamente pelos petistas. Isso não passa de uma digestão/digressão moral da pobreza.
Simplesmente não existe tal coisa. Não existe ninguém fora da lógica do sistema. Todos fazem parte, seja enquanto sujeitos ou nações. Em outras palavras, só é possível existir burguesia, se existe trabalhadores assalariados. Só é possível existir aqueles que detém propriedades privadas se existir a imensa maior parte da população que não possui propriedade alguma. Só é possível existirem os países do centro do capital se existirem, então, países situados em sua periferia, invariável e necessariamente.
O Brasil se destaca negativamente por ser um país “rico” porém, com estrutura, de cabo a rabo, voltada para um entreguismo imoral e sistematicamente corrupto. Em outras palavras, temos uma exemplo bem sólido e grave dessa lógica: não é atoa que José Serra é Ministro das Relações Exteriores do governo ilegítimo de Michel Temer. O sinistro “Careca” tem acordo desde 2009 com a Chevron para a mudança do regulamento do Pré-Sal. E atualmente, depois do golpe parlamentar, realiza sua função de garçom da canalha Yankee sem maiores constrangimentos ou dificuldades.
Enfim, poucas coisas mudaram em essência nos últimos governos tupiniquins. É preciso então que agora, a esquerda caia na real, se recupere do tombo traumático, se reconstrua para fazer, nas próximas décadas, um trabalho duro de reconquistar a consciência da população ao passo que se recicla em seu plano de governo. Errar na teoria é necessariamente errar na prática. Na teoria, a pratica é a outra.
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Com um sistema político venal você queria que ele fizesse o quê? Já entrou no Congresso segunda feira de manhã para aprovar alguma coisa? Tem que dar jantar. Aí, tem que tem bancada. BANCADA. Cai na real.
E tem que ter BAN-CA-DA.