Na semana passada comentava-se aqui nessa coluna a possibilidade remotíssima de Lula, de forma inédita, convocar as massas e com isso formar uma nova força política concreta e competitiva no País.
A ideia escorreu pelo ralo horas depois, quando Lula mais uma vez demonstrou que não aprendeu quase nada com o tempo. Revelou mais uma vez sua essência apaziguadora e de conciliação desmedida. O que era em tese uma virtude política, esse comportamento o fecha num caixão – pelo menos para a disputa das eleições deste ano.
Perante o público, naquele discurso apelativo e emotivo, com desconfiada embriaguez alcoólica e ideológica, Lula embarcou numa viagem de ego, adotando um discurso derrotista: “Eu não sou um ser humano, sou uma ideia” afirmou o petista.
Com isso, é preciso mais do que nunca refletir sobre o que, afinal, é essa bendita ideia. Se Lula foi sintetizado, e até transcendido, numa ideia, o fato é que essa ideia tem que acabar. Lula representa a ideia de parar no tempo. A ideia de rejeitar o protagonismo das massas. A infeliz ideia de se juntar ao que há de pior na política brasileira. A insistência de ignorar o povo, e o olhar apenas como uma variável, e não como agente. A ideia da conciliação com os personagens com que não deve haver pacto algum.
Com isso, há aqueles que logo se apressam em colocar na prática, até mesmo quando excessiva, e ideologicamente descabida, da conciliação como uma necessidade perante nosso sistema político, ou até, algumas vezes, como pilar fundamental da democracia liberal representativa.
De fato, não é nenhum absurdo, a priori, pensar assim. Pois faz sentido ser algo a se temer a possibilidade de chegar no poder e não ter a maioria no Congresso Federal. Porém, a afirmação é perigosa. Historicamente falsa. E carente de coragem e inteligência inventiva, de formas sintomáticas.
Isto é, esse pensamento tem como principal base uma teoria pra lá de fajuta, dum sociólogo tucano. O chamado “presidencialismo de coalizão” encara não só como natural, mas principalmente como necessário essas alianças, troca de favores, cargos e tudo mais. Por costume, de maneira espúria. Ignorando tanto a igualdade como a eficiência.
De algumas maneiras, o surgimento e a chegada ao poder pelo PT podem ser comparados com as demais elevações dos governos e partidos e esquerda pelo mundo, mas primordialmente pelas experiências da América Latina. Portanto após o controle do executivo, as histórias então tomam rumos particulares.
Porém, em todas elas, o fato que se dá é que em nenhuma das vezes que um partido popular chegou ao poder ele teve maioria dentre os membros do Senado e da Câmera. Mas pôde não apenas governar, como também transformar radicalmente o Estado, fazendo jus a sua própria essência – a maior virtude que um partido de esquerda pode buscar – que é ser, fundamentalmente, popular.
Com o tempo, partidos que outrora representavam visões diferentes de reformismo – principalmente PT e PSDB – passaram a não apenas adotar práticas políticas e econômicas muito semelhantes, como também perderam sua capacidade de reformismo. São verdadeiros zumbis políticos.
Na contra mão de tudo isso, vale a lembrança de que as experiências ao nosso redor nos dão uma saída imprescindível para os impasses gigantescos que aterrorizam a nação: lembrar ao povo seu estatuto de classe. E não qualquer classe! Aquela que tudo produz e a que tudo pertence.
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