
Pronunciar o substantivo masculino ‘fora’ se tornou esporte nacional. Versátil, o termo também é usado como advérbio, interjeição, preposição e locução prepositiva. A classificação gramatical preferida é a interjeição: ‘Fora Temer’, ‘Fora Dilma’, ‘Fora Cunha’. Fora qualquer coisa que seja diferente do que a militância pensa. Não importa a diversidade de opinião, desde que seja única. Isto é, esteja de acordo com o que os líderes populares dizem o que é a verdade. O resto é ‘golpe’, inclusive contra a Língua Portuguesa.
Nessa turma em que o ‘fora’ tem um único sentido, não se admite o antônimo. E é aí que o bicho pega. O bom senso recomenda, e a racionalidade exige, que para tirar é necessário ter uma opção viável para substituir o que está aí. Cadê, portanto, as alternativas? Não vale o ‘Fica Dilma’, porque esta opção já se provou ser mais um dano que um bônus para o país. Há controvérsias, admito. O dilmismo – que é uma versão capenga do petismo –, porém, resultou em um fosso político e um apocalipse econômico. Há quem discorde, mas prefiro os fatos aos discursos de palanque.
O ‘Fora Temer’ também não pega. As outras únicas alternativas propostas ao ‘temismo’, que ainda nem virou embrião, são o ‘Eleições já’ e o ‘Plebiscito agora’. São ideias surgidas mais da falta de propostas viáveis do que realmente da convicção dos militantes de que essas são as saídas mais urgentes, e eficazes, para a inépcia política e o cadafalso econômico.
A única coisa que faz sentido nesse caldo de ideias congeladas é que nenhum dos lados quer perder a zona de conforto. É a tese de que é preciso mudar para deixar tudo do jeito que está. Evacuam para a opinião pública a primeira coisa que vem à cabeça. Alguns com a clara intenção de jogar sujeira no ventilador, outros com a má intenção de abanar as chamas para ver o circo pegar fogo.
Nessa política de fisiologismo incendiário, o cidadão é o único que sai queimado. Os incendiários observam de longe a fumaça baixar sem o risco de inalar a poeira tóxica. É proposital. Um lado, o que ficou de fora, não tem propostas pragmáticas para tirar o país do atoleiro em que o meteram. O outro, que entrou pela janela, busca radicalizar com projetos imediatistas que buscam alcançar mais um resultado político favorável do que realmente implementar uma mudança eficaz de longo prazo.
Com esse jogo de subtrair conforme o interesse de cada grupo partidário, o risco é todos ficaram de fora, pois a classificação gramatical aí é de expressar sentimento. Ou seja, se o estado de espírito nacional é só tirar sem nenhum desejo de colocar, ao cidadão fica a sensação de abandono permanente, sempre à margem de suas representativas políticas. O dilema que se impõe aí é: ser mais racional ou emotivo para decidir pelo ‘fora’ todo mundo ou pelo ‘estamos dentro’. Afinal, é você que decide quem fica dentro ou sai. As urnas estão aí para isso.
Cleber Oliveira é jornalista, graduado pela Faculdade de Comunicação e Turismo Hélio Alonso (RJ). Foi repórter e editor na Rádio Federal (RJ), jornal A Notícia (Manaus), Folha Popular (Manaus), e repórter, editor e editor-executivo da TV Cultura Amazonas (Funtec) e dos jornais Amazonas em Tempo e Diário do Amazonas, ambos em Manaus. Também foi articulista no Diário do Amazonas e atualmente é editor no site AMAZONAS ATUAL.
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