A saúde é uma das áreas mais afetadas pela irresponsabilidade e o descaso com o problema público que assola nosso país. Diversamente da China, que levantou um hospital em seis dias para tratar vítimas de coronavírus – proeza utilizada como instrumento político naquele país – o Brasil ainda não oferece tratamento digno à população.
Sabe-se que é histórico o desdém com a saúde. Vivemos num país onde um pequeno mosquito – “carapanã” para nós, amazonenses – não consegue ser controlado e que já matou milhares de pessoas com a dengue, adoeceu outras centenas de pessoas com a febre Chikungunya, provocou a microcefalia em muitos bebês e contaminou outras tantas com Zika vírus, o que podemos esperar então da estratégia do governo para conter o avanço de um vírus o qual é transmitido pelo ar e pelo contato pessoal?
Muitos especialistas preveem que, mais cedo ou mais tarde, haverá uma pandemia incontrolável a qual matará milhões de pessoas mundo afora. Quais serão então as providências tomadas pelos nossos governantes? Faltam leitos, infraestrutura básica e assistimos diariamente ao drama de quem precisa de atendimento. Essas dificuldades em conter tragédias anunciadas mostram o equívoco de misturar política com saúde.
A maioria dos nossos profissionais da área são preparados para realizar exames e cirurgias, verificar diagnósticos, aplicar vacinas, preparar medicações, administrar remédios, receitar medicamentos, além de prestar assistência a qualquer enfermo, garantindo seu conforto e bem-estar durante o tratamento de doenças e internação hospitalar. Não há, entre a maior parte dos profissionais, a figura do gestor em saúde. Mesmo assim, não é raro vermos pessoas sem essa qualificação administrando (ou tentando administrar) a saúde, sejam em hospitais ou em secretarias de governos.
A politização da saúde pública é o que tem decretado a falência nessa área. Portanto, fica claro que esse espaço deve ser ocupado por quem realmente entende do assunto. A gestão eficiente e profissional é interessante para todos: para a sociedade, que receberá serviço público de qualidade, e para o governo, que economizará com o uso assertivo dos recursos.
Enquanto não houver vontade política em promover a verdadeira mudança na forma como a gestão em saúde é realizada, continuaremos assistindo aos males de saúde enfrentados pelo Brasil. Por ironia do destino, o coronavírus avança sobre a classe política, que agora deixam seus egos e vaidades de lado e passarão a buscar soluções para as longevas e permanentes omissões. Para problemas complexos, não existem soluções paliativas.
O Brasil enfrenta um enorme desafio de conter o coronavírus e deve aproveitar tal momento para construir novas políticas públicas e aperfeiçoar as já existentes, que, apesar de ser um direito assegurado constitucionalmente, muitas vezes não é garantido apenas por falta de gestão profissional.
O engajamento dos poderes em todas as esferas no combate à pandemia é de extrema necessidade. Primeiro para evitar o agravamento da doença e, por conseguinte, atenuar a recessão a qual tende a se instalar no país. Aliado a tudo isso, nós, que somos o verdadeiro poder, também precisamos fazer nossa parte, suspendendo nossas atividades, evitando aglomerações e imprescindivelmente priorizando a higiene individual e coletiva.
Precisamos, portanto, levar a sério a doença, sem entrarmos prematuramente a um nível de pânico. É, de fato, muito importante exigir de nossos governantes mais verdades e menos propaganda quando o assunto é coronavírus. Não podemos usar essa pandemia como arma política ou dar um tom de irracionalidade à situação. O que esperamos, no final, é ver a nação unida no combate a um inimigo comum.
Sérgio Augusto Costa é Advogado, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Eleitoral.
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