
Desde a transição do regime militar para um governo civil, chamada de “redemocratização”, a maior parte dos municípios brasileiros são governados por uma pequena elite política que se alterna no poder entre si, visando apenas aos seus próprios interesses, em vez de beneficiar o conjunto da sociedade. Esse domínio político, quando desafiado ou ameaçado de perder o poder, reprime ou destrói qualquer força contrária aos seus nefastos anseios. Esta falsa sensação de liberdade de escolha deixou a população desiludida com os políticos em geral, pois, de acordo com as palavras do filósofo grego Aristóteles: “A sociedade política existe com a finalidade das nobres ações, não por mero companheirismo”.
Essa ausência de opções, para que houvessem renovações nos quadros políticos, fez com que expressões como “direita” e “esquerda” fossem esquecidas no imaginário dos eleitores. E aproveitando-se de toda a revolução cultural que foi implantada silenciosamente, a esquerda e o “centrão” dominaram quase em sua totalidade as eleições, já que a nível federal assistimos ao PSDB e ao PT se revezando por quase duas décadas no poder, e a nível estadual e municipal o “saudoso” Governador Gilberto Mestrinho apadrinhou toda uma geração de políticos que, entrelaçados, se sucederam no poder em uma quarentena política que perdura mais de 40 anos.
No entanto, o cenário político/eleitoral vivenciou uma tendência de mudança ideológica. A população, cansada de escândalos de corrupção e de políticos descompromissados com a coisa pública, foi às ruas reivindicar soluções aos problemas crônicos da sociedade, pois como disse o estadista francês Charles de Gaulle: “Política é uma questão muito séria para ser deixada para os políticos”. Essa mudança de comportamento teve como consequência a eleição de um Presidente da República e de muitos membros do Congresso Nacional e Assembleias Legislativas estaduais ligados às bases ideológicas da direita.
Ficou claro, então, que boa parte do eleitorado comunga com os pensamentos da direita e querem políticos defensores de pautas: pró-vida, pró-armas, maior liberdade econômica, que cumpram a missão de destruir o socialismo, o comunismo e todo manancial de ideias intelectualmente corruptas, quebrando totalmente o establishment. Se vai dar certo, só futuro dirá.
E com as proximidades das eleições municipais, muitos candidatos que a pouco tempo consideravam os termos direita e esquerda apenas como direcionamento de espaço, agora buscam apoio deste eleitorado e usam como meio a este intento, além de enfatizar suas ações voltadas para as pautas da direita, além de propagarem que têm o apoio do Presidente da República.
Com a popularidade em alta, o Presidente seria um cabo eleitoral capaz de transformar pedra em ouro, ou melhor, eleger candidatos que já seguiram diversas ideologias, que são “marionetes” da velha política, liberais e até mesmo desconhecidos da política “baré”, mas que agora se esmeram como representantes da direita.
Porém, a esperança de que esta alquimia se transmute em votos nas urnas se desfaz por dois fatores: 1) o próprio Presidente da República já expressou publicamente que não irá apoiar qualquer candidato; 2) os movimentos de direita, os quais foram essenciais para a vitória nas eleições passadas, são desunidos e não conseguem chegar ao consenso de apoiar e eleger um candidato verdadeiramente da direita, até mesmo porque raras são as opções.
Essa medida de buscar a simpatia dos eleitores da direita e tentar repetir o fenômeno da eleição passada não deve se repetir a nível local, por ser difícil que um raio caia duas vezes no mesmo lugar. Nas eleições municipais, os temas como: asfalto das ruas, coleta de lixo, abastecimento de água, transporte coletivo, educação e saúde costumam pautar o debate eleitoral muito mais que as posições ideológicas entre direita e esquerda.
O engajamento na solução dos problemas de cada bairro e os debates com proposituras concretas darão o tom entre o candidato e os eleitores. Aqueles que ficarem, de certa maneira, apenas fazendo lives e postagens nas redes sociais, sem propostas e projetos específicos para os assuntos do Município, mostrando uma campanha superficial diante dos graves problemas da cidade, tendem a ser meros coadjuvantes das eleições 2020.
As eleições municipais não serão palco para avaliação do governo federal, mas uma nova oportunidade para virar a página de vez, não reelegendo candidatos oportunistas e/ou ultrapassados. Para aqueles que surfaram e ganharam força na onda de 2018, é bom demonstrar estar preparado para assumir a cadeira do Executivo Municipal, apresentando propostas contundentes às necessidades básicas da população, ao invés de tentar se credenciar como fiel depositário do ideário da direita consagrado na eleição passada.
*Sérgio Augusto Costa é advogado, pós-graduado em Direito Público, Direito Penal e Processo Penal, idealizador de uma sociedade justa, buscando a participação do cidadão no debate sobre políticas públicas.
Instagram e Twitter: @asociedadejusta
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