Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – O deputado estadual Doutor Gomes (PSC) afirmou, em sessão virtual da ALE (Assembleia Legislativa do Amazonas) desta terça-feira, 23, que irá apresentar um projeto de lei para que os partos cesarianas possam ser filmados. O parlamentar, que é médico, também disse que há “exagero sobre a questão da violência obstétrica”.
“Se existe violência obstétrica, eu até acho que deveria ser filmado. E eu vou apresentar um projeto de lei para que todos os partos cesarianas possam ser filmados. Evidentemente que isso vai passar por uma discussão da sociedade porque a paciente, a partir do momento em que ela é anestesiada para uma cesariana, ela perde o sentido, a noção”, disse Gomes.
A declaração de Gomes ocorreu em discussão sobre a violência obstétrica nas maternidades de Manaus. Na ocasião, o deputado Serafim Corrêa (PSD) citou que a presença de acompanhantes é “legítima”, mas “tem que ser cercada de algumas cautelas” para evitar problemas no momento da cirurgia e a deputada Mayara Pinheiro (PP) defendeu que a parturiente possa escolher quem a acompanhará.
Gomes disse que o esposo é a pessoa “mais ideal” para acompanhar o parto, mas que a presença de parentes “tem limites”. “Eu entendo que, nessa questão, a pessoa mais ideal seria o esposo, o companheiro, aquele que convive. Porque não tem nada a ver um irmão assistir um parto cesariana de uma irmã. Então, a presença de um parente eu acho que tem limite, na minha concepção de médico”, disse.
O deputado afirmou que acha que “está havendo um exagero sobre a questão da violência obstétrica” e questionou se a presença de acompanhantes na sala de cirurgia seria uma exigência da família para evitar agressões. Gomes disse que não se pode falar em violência obstétrica de forma generalizada “porque existem médicos responsáveis”.
“Existem médicos e enfermeiros responsáveis e inseridos em um processo de trazer a vida a uma criança. Eu acho que está havendo um exagero sobre a questão da violência obstétrica. Vamos filmar para ver, analisar e entregar aquela filmagem para a família. Eu acho que essa questão da violência obstétrica tem que ser discutida com maior amplitude”, disse Gomes.
Ao afirmar que é contra a presença de acompanhantes no momento do parto cesariana, Gomes justificou que o médico se sente “tolhido”. “O médico se sente pressionado psicologicamente com alguém de baixo do manto, no direito de estar lá acompanhando. Fica nas entrelinhas a desconfiança de que aquele profissional vai cometer uma violência obstétrica”, disse.
No Amazonas, os casos de violência obstétrica ganharam repercussão em fevereiro de 2019 quando um vídeo gravado em 2018 que mostra um grávida sendo agredida durante o parto em uma maternidade de Manaus circularam nas redes sociais. Na época, o Igoam (Instituto de Ginecologia e Obstetrícia do Amazonas) afastou o médico Armando Araújo.
Após a repercussão do vídeo, o ATUAL publicou que o médico já respondia por corrupção passiva, estupro e erros médicos e mantinha o registro profissional regular no CRM (Conselho Regional de Medicina). Em um dos casos citados pela reportagem, envolvendo a cobrança de R$ 2 mil para realizar parto em maternidade pública, Araújo foi condenado a 3 anos de prisão em julho de 2019.
A reportagem solicitou o posicionamento do CRM sobre a proposta, mas até o fechamento desta matéria nenhuma nota foi enviada.