Na sexta-feira passada, o presidente Bolsonaro e o governador Wilson Lima inauguraram um anexo do Centro de Convenções Vasco Vasquez, na avenida Constantino Nery. Enquanto isso, as obras do novo hospital do Hemoam, que fica do outro lado da rua, continuam inacabadas. O que realmente é prioridade nestes governos: a saúde da população ou obras sem urgência no momento atual?
Já são 12.517 mortes por Covid no Amazonas, até dia 25 de abril, e 391 mil no Brasil. O Bolsonaro veio ao Amazonas, mas não trouxe mais vacinas, nem medidas que reduzam as mortes e as contaminações. E o maior absurdo foi a Assembleia Legislativa do Amazonas ter aprovado, a “toque de caixa”, a concessão do Título de Cidadão do Amazonas para o presidente, que não merece esta honraria.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro, com suas atitudes e descaso, contribui para o aumento da contaminação e mortes. Por negar a gravidade da doença, estimula o uso de medicamentos sem eficácia, negligência nas medidas de enfrentamento, anda sem máscaras, incentiva aglomerações, questiona as medidas de distanciamento e lockdown e ainda, de forma cínica e insensível, tripudia do sofrimento da população.
Por isso, faltaram oxigênio e UTI em Manaus e no AM, causando centenas de mortes, que poderiam ser evitadas.
Esse título é uma afronta ao povo do Amazonas. O Governo Federal ameaça a ZFM, os incentivos e a economia do estado. Cortou recursos da Ufam, do Ifam, do Inpa, da pesquisa, da saúde, do saneamento, da moradia e da assistência social. Um Governo que está desmontando as estruturas de fiscalização ambiental e incentiva o desmatamento e a grilagem de terras.
Também está entregando o patrimônio público para interesses privados, com as privatizações da Refinaria de Manaus, do Gasoduto, de Urucu, da distribuição de energia, do aeroporto, e agora dos Correios, aumentando o preço da conta de energia, do gás de cozinha, da gasolina e dos alimentos.
Esse Governo cortou o Auxílio Emergencial e favoreceu a volta da fome. Já tem quase 20 milhões de pessoas passando fome e cerca de 54% da população vivendo na insegurança alimentar, além de 14 milhões sem emprego. E muitos são do Amazonas.
Ele não merece esse título, nem o seu ministro “sanfoneiro”, do turismo, que veio mentir dizendo que vai realizar investimentos de R$ 128 milhões no turismo no Estado. O Governo não está cumprindo com nada que promete. Nem BR-319, nem empregos, nem investimentos na infraestrutura.
O que deve ser prioridade é a vacinação. Sem vacinas não dá para voltar às aulas, não é possível garantir segurança e saúde para os trabalhadores e o retorno às atividades econômicas. E vacinas, a comitiva do Bolsonaro não trouxe.
A saúde é prioridade. Os eventos, shows, festivais estão suspensos. Não podemos incentivar aglomerações. Lamentável que o próprio evento do governador promoveu intensa aglomeração nas dependências do Centro de Convenções. E a inauguração do anexo não vai ajudar a economia neste momento.
Por isso, o mais urgente é cuidar da saúde. É terminar obras, como do Hemoam, que poderia ser concluído com R$ 20 milhões, enquanto na obra do anexo do Centro de Convenções gastaram R$ 40 milhões. Uma incoerência e característico desses governos que não têm priorizado a saúde. E todos dando mau exemplo, como o ex-ministro Pazuello, passeando em shopping de Manaus, sem máscara.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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