MANAUS – Nos últimos dias, muito se fala sobre a produção de potássio no Amazonas e os possíveis benefícios para a economia. Mas, será que a produção de alimentos não seria mais urgente e prioritária?
O Governo Estadual anunciou que foi aprovado o licenciamento ambiental para a exploração de potássio no município de Autazes, no Amazonas. Os estudos mostram que no Amazonas tem grandes reservas minerais e poderá abastecer o mercado brasileiro, o que poderá favorecer a produção de fertilizantes utilizados na agricultura, principalmente o agronegócio.
Há promessa de milhares de empregos e respeito ao meio ambiente e aos direitos dos povos indígenas, na implantação e funcionamento do empreendimento, onde tem interesses internacionais envolvidos. Há controvérsias, sobre o assunto e não está claro em relação aos benefícios que os povos indígenas terão com suas terras sendo exploradas. O tempo talvez vai trazer respostas.
Mas quando confrontamos a realidade de pobreza no Amazonas e em Manaus, os indicadores mostram que 55,1% da população do Amazonas (cerca de 2,2 milhões de pessoas), vivem na pobreza. Em Manaus, cerca de 1 milhão de pessoas dependem do Bolsa Familia. Há insegurança alimentar, tem pessoas que não tem alimentação suficiente, ou a renda é insuficiente.
Apesar da queda dos preços da cesta básica desde o início do ano e da redução da inflação, o custo com a despesa de alimentação das famílias, seja as mais pobres, as assalariadas ou as de classe média, tem um peso muito grande.
Por isso, a produção de alimentos no estado, principalmente em Manaus, é o caminho para garantir uma oferta de alimentos mais baratos e de boa qualidade.
Hoje, em todas as feiras, mercadinhos, supermercados e, até mesmo, em bancas nas esquinas de ruas, boa parte da alimentação vendida vem de outros estados.
Muitas frutas, como banana e melancia vêm de estados vizinhos. Peixe vem de Roraima e Rondônia, até hortaliças e farinha vem de longe, quando podia ser produzido localmente.
Quando a BR-319 for asfaltada, o estado de Rondônia será o maior beneficiado, visto que sendo o maior produtor de alimentos do Norte, vai atingir o maior mercado regional, que é Manaus, onde existem 2 milhões de pessoas para alimentar todos os dias.
Portanto, priorizar a produção de alimentos é ativar com mais rapidez a economia do Estado. Em Manaus, na medida que os agricultores familiares, pequenos produtores, que mais produzem alimentos, forem apoiados, na manutenção de ramais, crédito, assistência técnica, regularização da terra e espaço no mercado, certamente a oferta de alimentos será maior.
Muitos pequenos produtores não conseguem escoar a produção pela inoperância da Prefeitura e do Governo Estadual em garantir a manutenção e recuperação de ramais e estradas. Além de garantir que a lei que obriga o poder público comprar 30% de alimentos para alimentação escolar, de associações e cooperativas de agricultor familiares dela cumprida.
Assim, a exploração de potássio poderá ser uma atividade que gere alguns empregos e arrecadação pública, principalmente de royalties, que precisará ser bem fiscalizada, mas a produção de alimentos trará benefícios mais rápido e com muito mais abrangência para a população de Manaus e de todo o Amazonas.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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