Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Zurma Silva dos Santos, de 52 anos, entrou na Justiça para pedir R$ 1 milhão em indenização da empresa Viação Nova Integração em razão da morte do neto, o jovem indígena Melquisedeque Santos do Vale, assassinado no dia 16 de dezembro de 2021 em um ônibus da linha 444. A Polícia Civil já prendeu três suspeitos de envolvimento no crime.
Na ação, os advogados James Dirane e Débora Rodrigues, que representam Zurma, afirmam que a mulher tem direito a indenização de R$ 250 mil por danos morais e R$ 799,9 mil de lucros cessantes, valor que Melquisedeque receberia até completar 75 anos, considerando o salário que ele recebia de R$ 1,2 mil [por 660 meses].
O pedido de indenização considera que Melquisedeque, que era recém-contratado como jovem aprendiz em uma empresa na capital amazonense, ajudava financeiramente a avó na manutenção da família. “O de cujus [jovem que morreu] era que trazia a sustentação financeira para seu lar”, afirmam os advogados.
Para Dirane e Rodrigues, nesse caso, a posição da empresa é “extremamente confortável”, pois ela explora o serviço de transporte público, é dona de uma frota de veículos razoável e de um patrimônio “considerável”. Zurma, por outro lado, segundo eles, é uma “senhora pobre, doméstica que tem como renda principal o Bolsa Família”.
O tempo de vida usado para calcular os lucros cessantes supostamente devidos a Zurma considera que a Constituição da República ordena a aposentadoria compulsória dos servidores aos 75 anos de idade. “Atingindo esse limite, o homem alcança o ápice de sua resistência psicofísica”, dizem os advogados.
‘Falta de assistência’
Zurma relata que, no dia do assassinato, o ônibus realizou uma “troca brusca de itinerário”, mas em nenhum momento isso foi detectado pela empresa responsável pelo veículo. A defesa dela sustenta que essa possível falha mostra que “a segurança dos usuários do transporte coletivo fica completamente alheia à sorte”.
A mulher alega que houve “total indiferença da empresa (…) com a perda irreparável da vida desse jovem” e não deu nenhum tipo de ajuda. “Apesar do total desinteresse da ré em propor ajuda a família do de cujus, (…) a requerente se manifesta em ter interesse na realização de audiência de conciliação ou de mediação”, diz outro trecho da ação.
O crime ocorreu quando Melquisedeque voltava para casa após um dia trabalho, em um ônibus que liga a zona norte à zona sul. Segundo a cobradora do ônibus, na Avenida Torquato Tapajós, próximo do complexo viário que dá acesso ao Aeroporto Eduardo Gomes, três homens anunciaram o assalto e passaram a recolher pertences dos passageiros.
A mulher entregou o dinheiro do caixa a um dos homens e fechou os olhos. Nesse momento, segundo ela, houve um disparo de arma de fogo. Ela disse que viu Melquisedeque caído no chão. Os homens, então, ordenaram que o motorista seguisse pela Avenida Santos Dumont e parasse próximo a uma área de mata, onde desceram.
Suspeitos
Na quarta-feira (16), a polícia prendeu Lucas Lima, de 24 anos, por suspeita de participação no assassinato. Lucas relatou à polícia que o autor do disparo contra Melquisedeque foi Janderson Cabral Cidade, de 20 anos. Ele disse que apenas abordou o motorista, e que outro homem, identificado como “Pequeno”, recolheu os pertences dos passageiros.
No dia seguinte, os policiais prenderam Janderson em uma casa no bairro Monte das Oliveiras, na zona norte de Manaus, após denúncia anônima. O delegado da Polícia Civil Adriano Félix disse que o rapaz de 20 anos é considerado peça importante para obtenção de informações que levem ao terceiro suspeito.
A reportagem solicitou informações da Viação Nova Integração, mas nenhuma resposta foi enviada até a publicação desta matéria.