Já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada, seus segredos sei de cor…”, cantava o poeta no estandarte de sua agonia lúcida e lúdica. O impasse político e institucional ora vivido pelo país remete à necessidade de se repensar o o que é o Brasil, que país queremos e qual é o projeto civilizatório de nação que podemos costurar em mutirão? A cada dia, se evidencia que todas as tentativas de desenvolvimento concomitante ao combate as injustiças fracassaram como uma tragédia sem rescaldo.
É preciso, então, que se coloque o pé no chão no sentido da aproximação com a realidade, e que se faça recorrência ao conceito de práxis política – isto é, rever o que perpassa, a partir dos quadros teóricos, em termos de iluminação de uma práxis de transformação. Cabe, pois, apostar n um projeto prático inovador, que traga à materialidade o que sempre esteve em potencialidade do discurso teórico e idealizado.
O Brasil é um país situado na (semi) periferia do capital, e por mais modernizado e desenvolvido que venha a ser nunca poderá transcender a esta categoria, dada a totalidade e estruturação do sistema capitalista.
Existe uma barreira, bem definida, onde nós não passaremos em hipótese alguma. Isto é, assim como no confronto dialético do Senhor e do Escravo, para haver países do centro do capital, deverá necessariamente existir países da periferia – um não existe sem o outro.
Somos um país subdesenvolvido, e dependente – política e economicamente – das potências do centro. Contudo grande parte dos intelectuais e dos jornalistas daqui estiveram por um tempo repletos de ilusão, levando o senso comum a se comportar como partícipes de uma nação diferenciada, em relação ao resto da América Latina. Esse engano se tornou exacerbado quando, durante o segundo governo Lula, nosso PIB bateu o sexto maior do mundo. “Eba, ultrapassamos a Inglaterra!”, gritavam os incautos!
Sempre achou-se que para o objetivo de se tornar um país moderno era uma questão de tempo, ou algumas medidas de políticas públicas, reformas e investimentos. Por que não poderíamos ter uma Social Democracia como a da Alemanha, ou um poderio militar como o dos Estados Unidos? A resposta está na história.
Esta terra fora, desde o início de sua constituição, usada para favorecer os interesses de alguns poucos. Sejam estes poucos estrangeiros ou tupiniquins. Essa relação de parasitagem sempre esteve evidente, e no momento atual não se torna menos explícito – pelo contrário, ela explica boa parte da movimentação dramática dos últimos anos.
Empurramos para debaixo do tapete, a explicitação dos problemas mais antigos e enraizados que preocupam a todos, e que sempre são usados em propagandas políticas como apelação afetiva para obtenção de votos. Uma das mazelas é a questão educacional e a outra é a violência atávica, desde a transformação do país em depósito da bandidagem europeia. Eis porque a violência é marca registrada de países subdesenvolvidos. Isso não é uma afirmativa é uma provocação. Assim como problemas na saúde, educação, infraestrutura, até questões mais estruturais e menos apelativas como as desigualdades de classes, raciais e regionais? Por que a Polícia de São Paulo é a que mais mata e a que mais morre do mundo? Vê-se também tantos problemas ambientais, parcialidade sistemática do judiciário, sistemas legislativos e tributários que nitidamente favorecem ricos e prejudicam pobres, enfim…
Entretanto não se deve dizer que tais problemas são exclusividades dos países pobres. Pode-se ver também os EUA – paraíso da ala ignorante dos liberais – problemas gravíssimos tais como os citados anteriormente. Com suas particularidades e historicidades também. Para toda regra há exceções.
Para aferir como tal superação é improvável basta ver a história da China, isto é, mesmo com o processo de industrialização mais intenso de toda a história, com um mercado interno e externo gigantesco, um crescimento econômico em liderança por seguidas décadas, e o segundo maior PIB do mundo, este país não passou a ser um país de centro do capital.
Portanto, não se conquista um novo patamar, nas regras do modo de produção capitalista, por excesso ou por falta de evolução do capitalismo. E por, justamente, termos entrado nesse jogo com enorme desvantagem e atraso é que estaremos subordinados às regras de quem comanda o tabuleiro.
Com isso, o que se observa na história econômica da periferia é uma analogia ao mito do Sísifo, a eterna condenação de carregar a pedra de mesmice do sopé ao topo da escravidão… Haverão investidas modernizantes e injeções de capitalismo avançado, para que assim se desenvolvam as estruturas, porém, de tempos em tempos, haverá um desmoronamento das conquistas, fazendo com que o trabalho feito seja jogado ladeira do despreparo abaixo, fazendo-se necessário retomar todo o trabalho feito em vão. Que resta a Sisifo fazer ou ser e que rumo de brasilidade queremos e podemos tomar?
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