Falar de justiça social é falar dos direitos básicos de toda cidadã e de todo cidadão. Mas são muitas as injustiças sociais na atualidade: a fome, a miséria, o desemprego, a falta de moradia digna, de escolas, de mais hospitais e de água tratada, de saneamento e de falta de oportunidades, de acesso à cultura, ao esporte e ao lazer. São desrespeitos diários à população.
A Constituição Federal de 1988 preconiza, dentre outros direitos, a erradicação da pobreza, da marginalização e da violência e a redução das desigualdades sociais e regionais. É preciso garantir o cumprimento desses direitos humanos. Felizmente, iniciativas com essa finalidade maior não faltam em nosso meio, seja de pessoas, seja de instituições e entidades.
Por isso, a jornalista Cristiane Silveira e eu lançamos ontem (6/12) o Livro Vidas Que Falam – Volume 2 – Promotores dos Direitos Humanos, da Justiça e da Paz. Para mostrar novamente, assim como fizemos em 2018, na primeira edição dessa obra, que não são poucos os bons e importantes exemplos para ajudar a tornar a sociedade mais justa e igualitária.
Nesta edição, contamos a história de outras 33 pessoas, lutadoras e lutadores, que atuam individualmente ou coletivamente para garantir direitos humanos básicos no Amazonas. Vidas comprometidas por uma causa coletiva.
Vidas como de Amanda Cristina, lutadora na defesa das crianças e dos adolescentes e fundadora do Iacas. Por esse ideal também seguiu Padre Alberto Panichella em Manaus, no processo de evangelização e formação do povo e dos jovens da periferia, sobretudo, na Área Missionária São Francisco, Mutirão, na Zona Norte.
Distribuidora de sorrisos. Assim definem Denise Kassama, economista e fundadora dos Amigos do Papai Noel, que todo ano faz a alegria das crianças, com a distribuição de brinquedos, na semana do Natal. Já Cida Aripória, é mais uma vida que fala da periferia, das causas indígenas e das mulheres e do Hip-Hop como movimento de luta, de resistência e de transformação social. Outra vida que fala muito de servir e não ser servido: Dom Luiz Soares Vieira. Arcebispo Emérito de Manaus, preocupado com a fome e os mais pobres, com os doentes, as crianças, os idosos e os marginalizados.
Uma grande líder também foi Dalila Evangelista, que fortaleceu o povo simples da periferia para lutar por um mundo melhor. Rosha também era uma vida que falava do compromisso ético e da busca pela verdade que o jornalismo tanto ensina a todos que o exercem, desde a resistência operária à defesa dos povos indígenas.
Sonho parecido também vive Magaly, do Lar Batista Janell Doyle, que há algumas décadas cuida de crianças em vulnerabilidade social. Já Nestor Nascimento, foi vida negra que falou nos movimentos sociais-políticos-partidários, defensor dos direitos humanos, no enfrentamento do racismo e do preconceito.
Fé é uma palavra que diz muito sobre a parintinense Maria da Fé. Nos movimentos políticos e sociais, sobretudo, na luta pela moradia digna ao povo mais pobre. Já Dom Alcimar, era evangelizador e transformador de vidas no Alto Solimões nas áreas da saúde, da alimentação, da educação e do emprego e renda.
Assim também atua Marcinava Sateré, primeira mulher coordenadora da Copime, sempre na defesa dos direitos dos povos indígenas. E mais uma vida que fala de luta e de resistência é a de Waldemir José, vereador de Manaus, aguerrido e sempre em busca de melhores condições de vida para o povo.
A luta pela enfermagem no Amazonas teve todo o empenho da enfermeira Margarida Campos, norteada pela busca da justiça social e do bem comum. Mas homem imprescindível foi Antônio Levino, médico, pesquisador e militante político, numa luta incansável por uma sociedade menos desigual e mais democrática.
Verdadeiras “Catadoras de Sonhos” são as amazônidas Irineide Lima e Suelen Ramos, do Movimento dos Catadores no Amazonas, com histórias marcantes de superação e que fortalecem o trabalho ambiental e de emprego e renda a muitas famílias. Profeta é aquele que anuncia a boa-nova e denuncia as injustiças, como o arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Castriani, com atuação na região de Tefé e nos municípios da Arquidiocese.
Lutadora também reconhecemos na vida da professora Nazaré Corrêa, toda dedicada à educação de jovens e adultos, ajudando a reduzir os índices de analfabetismo no AM. Filósofo, professor e advogado, Osvaldo Coelho deixou um legado em defesa da educação e da universidade pública, na construção de uma sociedade mais justa.
Mais uma mulher amazônida de destaque foi Neila Gomes, no Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), na luta pela justiça social e moradia digna. Já Padre Igínio ajudou na formação de agentes de saúde, no ensino de crianças e jovens do Careiro Castanho, como grande evangelizador na Amazônia também pela Rádio Castanho.
Do movimento negro e da religião de matrizes africanas surgem Nonata Corrêa e Alberto Jorge, sinônimos de luta contra a intolerância religiosa, em defesa da negritude e das causas sociais. Cristiane Sales é uma incansável para garantir às mulheres e suas famílias o direito básico à moradia digna, ao instituir o Projeto Orquídeas.
A educação popular na Amazônia foi defendida e praticada com muito êxito pelo Padre Cláudio Perani, também no desenvolvimento do Sares. Já a vida de Valterina dos Santos, foi toda dedicada aos pequenos da Pastoral da Criança e no voluntariado.
Em trajetória semelhante também segue Bete Maciel, junto à Associação das Donas de Casa, empoderando mulheres a serem protagonistas de suas próprias vidas. Sandra e Hiroshi Noda foi casal de pesquisadores dedicado ao meio ambiente, à educação e aos agricultores do Alto Solimões, com as sementes compartilhadas e os plantios cultivados.
O líder seringueiro Manoel Cunha é desses grandes exemplos da Amazônia que desde cedo reivindica direitos coletivos para a construção de políticas públicas, junto à defesa das riquezas naturais da região. Irmã Nilda, outra vida religiosa que falou muito de humildade, de caridade e de amor ao próximo nas comunidades da periferia de Manaus. E a vida que fala muito das causas indígenas é Gersem Baniwa, primeiro indígena concursado em universidade pública, sempre em defesa dos povos da floresta.
Esses são os 33 lutadores e lutadoras dos Direitos Humanos, da Justiça e da Paz. Verdadeiros profetas que fizeram e fazem toda a diferença para tornar a nossa sociedade e o nosso Estado um lugar mais digno de se viver.
Para a concretização de mais esta edição do Vidas que Falam, contamos com a produção textual de pessoas próximas de cada homenageado, amigos, amigas e familiares, relatando o seu testemunho sobre a vida de cada um e cada uma aqui registrada. O nosso agradecimento todo especial, por acreditarem neste importante projeto, que fala de luta, mas também de fé, de amor e de esperança.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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