MANAUS – Muitas análises foram feitas após as eleições de 2024 em relação ao desempenho do PT e resultados alcançados. Tivemos nossas vitoriosas e precisamos dar valor a elas, mas precisamos reconhecer que o PT ficou aquém do que se esperava e que precisa repensar suas estratégias, principalmente no Amazonas.
No Brasil, apesar de ter a presidência da República, com o governo Lula obtendo excelentes resultados e grandes avanços sociais e econômicos que melhoram a vida da população, o PT elegeu apenas 252 prefeituras, um pouco mais que 2020, com 184 prefeituras, sendo que em cidades de menor densidade eleitoral, num universo de mais de 5.500 municípios. O PSB elegeu 312 prefeituras. Os partidos de direita e extrema direita cresceram: PSD (891), MDB (864), PP (752), União Brasil (591), PL (517), Republicanos (440) dentre outros.
Dos 26 estados brasileiros, em 6 o PT não elegeu prefeito em nenhum município e em 3 elegeu apenas um prefeito. Nas capitais somente Fortaleza vai ser administrada pelo PT. É pouco para os avanços que estão sendo ampliados no Brasil.
Em termos de vereadores, o PT elegeu 1.267 em todo Brasil, distante do MDB (8.062), PP (6.913), PSD (6.581), União (5.438), PL (4,930), Republicanos (4.617), PSB (3.558), PDT (2.477), Pode (2.314), Avante (1.514) e PRD (1.400).
No Amazonas não foi diferente. No Estado, que tem 62 municípios, o PT lançou candidatura a prefeito em apenas 13 municípios e vice em 8 municípios, vários municípios se quer tiveram chapa de vereador. Desses, elegeu apenas 2 prefeitos e 3 vice-prefeitos. Foram eleitos prefeitos do PT em São Gabriel da Cachoeira e Urucurituba, municípios que o partido já administrava. Ou seja, o PT manteve o que tinha, num cenário onde Lula teve mais de 70% das intenções de votos no interior. Os demais partidos que compõem a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), não elegeram prefeitos no Amazonas.
Em 17 municípios o PT, em vez de lançar candidato próprio, foi levado a apoiar candidatos da direita. Em muitos municípios simplesmente não teve candidaturas a nada. Interessante que o interior o Estado deu a vitória ao Lula, na eleição de 2022, mas a ampla maioria dos prefeitos eleitos em 2024 são de partidos da direita e extrema direita. O União Brasil, do governador Wilson Lima, elegeu 24 prefeitos. O MDB do Eduardo Braga conseguiu 14 prefeituras. O Republicano, do deputado federal Silas Câmara, tem 9 prefeitos eleitos. O PSD, do senador Omar Aziz, tem 6 prefeitos eleitos e o PL do Capitão Alberto tem 2 prefeituras.
Nos três maiores municípios do interior do Estado a participação eleitoral do PT foi muito fraca, grandes lideranças foram alijadas do processo. Em Itacoatiara teve um retrocesso de 20 anos, pois o PT se dividiu apoiando candidatos da direita e não elegeu vereadores. Em Parintins não foi diferente, sem ouvir e unificar a base em prol de um candidato próprio, não se elegeu vereador. Em Manacapuru o PT também não teve candidato a prefeito e não elegeu vereadores.
Em muitos municípios do Estado chapas de vereadores já montadas foram desarticuladas. O PT elegeu 26 vereadores no Amazonas. Apesar de eleito 11 vereadores a mais que 2020, onde alcançou 15 vereadores, o partido está longe do União Brasil (150), PSD (107), Republicanos (106), MDB (96), PP (58) e PL (36), dentre outros.
Na capital, Manaus, o PT lançou candidato próprio, com Marcelo Ramos, que conquistou 6,03% (66.528 votos) do eleitorado, tendo o menor desempenho eleitoral desde as eleições de 2008, apesar do apoio de Lula.
A Federação Brasil da Esperança lançou 40 candidaturas a vereador e elegeu 2 vereadores: Ze Ricardo (PT) com 17.395 votos e Jaildo Oliveira (PV) com 8.411 votos. O PT lançou 19 candidatos, mas elegeu apenas um vereador. O vereador Sassá da Construção Civil, do PT, não foi reeleito, apesar de 5.506 votos. A votação do PT, entre votos de candidatos e de legenda, alcançou 40.144 votos. Se não estivesse na Federação, o PT possivelmente poderia eleger 2 vereadores.
O resultado eleitoral do PT em 2024 não pode ser considerado apenas de vitórias, não podemos deixar escondido que tinha potencial para mais e as causas precisam ser discutidas, principalmente nas decisões tomadas pela direção estadual e direções municipais, com estratégicas que fortaleceram os partidos de direita e enfraqueceram o PT e o campo da esquerda no Estado.
O PT nasceu para ser alternativa de poder. Mas parece que no Amazonas ainda tem dirigentes que acreditam mais nos partidos, tidos aliados que no próprio PT. E pior, alguns estão “nos braços” da direita. É bom lembrar que no Amazonas, alguns aliados de hoje do Governo Lula, foram os golpistas de 2016 e contribuíram para o Amazonas ter tanta gente passando fome e vivendo na pobreza. O PT precisa ser reconstruído no estado do Amazonas.
A eleição interna, no ano que vem, pode ajudar neste processo. Novas filiações estão ocorrendo. O Lula disse no Seminário Nacional do PT, em Brasília, no dia 6 de dezembro, que os filiados e dirigentes precisam ler novamente o Manifesto de Criação do PT, de 1980, e lembrar que o partido deve estar nas lutas de base, na defesa dos trabalhadores, junto com o povo.
Para 2026, defendo que o partido dispute todos os espaços. Temos nomes, temos história e temos excelentes resultados para apresentar ao povo brasileiro e ao Amazonas.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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