Da Redação
MANAUS – Sem responder a perguntas de jornalistas, o vice-governador do Amazonas Carlos Almeida Filho, que foi alvo da segunda fase da Operação Sangria, afirmou, em pronunciamento na manhã desta quarta-feira, 28, que nunca praticou qualquer tipo de ingerência na Secretaria de Saúde e que não determinou a compra de respiradores da Sonoar, empresa investigada por suspeita de participação em fraude na comercialização dos equipamentos.
O pronunciamento se ateve à relação dele com a Secretaria de Saúde e o uso de um escritório de advocacia no edifício Fórum Business, que foi usado pelo Ministério Público Federal como justificativa para busca e apreensão na casa dele e no gabinete da vice-governadoria, no dia 8 deste mês.
“Em nenhum momento determinei a qualquer pessoa, servidor público ou não, que atuasse visando o direcionamento ou a compra de produto relacionado à saúde. Em nenhum momento determinei a compra junto a fornecedores específicos. Em nenhum momento determinei a compra de respiradores da empresa Sonoar”, disse Carlos Almeida Filho.
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O vice-governador afirmou que quando era secretário da Casa Civil fazia a articulação administrativa com parlamentares, prefeitos, instituições e poderes públicos. Almeida Filho também disse que fazia interlocução com as demais pastas do Governo do Amazonas.
“O exercício de minhas atividades exigia contato permanente com os integrantes de todas as secretarias de Estado, mas nem por isso houve qualquer intromissão nos assuntos de cada pasta, pois jamais pratiquei qualquer tipo de ingerência”, disse Carlos Almeida Filho, citando que articulou o pacote de austeridade do Governo do Amazonas com a ALE (Assembleia Legislativa do Amazonas).
Sobre o uso do escritório de advocacia, que é citado em inquérito da Polícia Federal como ponto de encontro com servidores e uma deputada estadual, Almeida Filho disse que o local foi cedido pelo professor Renan Tamai, que é coorientador de doutorado e advogado dele, para tratar da pauta de moradia, que ele defende. Segundo o vice-governador, ele não conhecia os sócios do local.
“Desde o meu desligamento da Casa Civil, no dia 18 de maio, não uso as dependências do Palácio do Governo pelos motivos transcritos na carta de exoneração, salvo uma única exceção pontual no dia 1º de junho. Pedi ao professor Renan Tamai para usar o escritório para reuniões com a equipe que estava a cuidar da pauta que sempre me dediquei, a da moradia”, disse Carlos Almeida.
De acordo com o vice-governador, nenhum participante das reuniões estava se escondendo ou praticando qualquer ato ilícito e ele sempre se dirigiu ao local com carros oficiais e acompanhado de equipe de segurança institucional. “Sempre de forma pública e transparente. (…) Esclareço que em plena pandemia não achei prudente realizar reunião na minha residência para não expor meus filhos pequenos e minha sogra idosa. Aquele foi o único local disponível naquele momento para uma reunião no final de semana”, disse.
O tumulto ocorreu ao final do pronunciamento quando Carlos Almeida se recusou a responder às indagações de jornalistas. O vice-governador deixou a sala e segurança impediu que os repórteres o seguissem, gerando um empurra-empurra.
Confira o pronunciamento completo:
“PRONUNCIAMENTO
Me dirijo a todos os amazonenses, em especial aos eleitores que me confiaram seu voto.
Registro que não me manifestarei sobre os pontos que a Justiça demanda reserva, tendo em vista o caráter sigiloso dos procedimentos, mas não posso deixar de abordar aqueles que se tornaram públicos pela imprensa ou pela opinião pública, em regra distorcidos e injustos comigo.
E isso me é exigido, justamente por ser detentor de mandato popular e ser minha obrigação prestar contas à população da minha conduta enquanto gestor público, e dos atos decorrentes do exercício do meu mandato.
Destaco que, apesar do meu desejo de ter prestado esclarecimento público, desde o primeiro momento, somente pude fazê-lo agora, em razão da dificuldade do acesso às informações contidas nos processos.
Em síntese, são dois pontos importantes que demandam minha manifestação: (i) a relação com a Secretaria da Saúde e (ii) a utilização de escritório de advocacia.
Exerci a função de Secretário da Saúde de janeiro a março de 2019. De abril de 2019 a maio de 2020, fui Secretário da Casa Civil, exercendo a articulação administrativa dela exigida com parlamentares, prefeitos, instituições e poderes públicos, como também exerci as funções de Secretário de Governo, inerente àquela Pasta, a exigir interlocução com as demais Secretarias do Executivo.
O exercício de minhas atividades exigia contato permanente com os integrantes de todas as Secretarias de Estado, mas, nem por isso, houve qualquer intromissão nos assuntos de cada Pasta, pois jamais pratiquei qualquer tipo de ingerência.
Meu trabalho, sempre público e transparente, consistia em fazer com que as estruturas do Estado pudessem conversar entre si e produzir os resultados esperados pela população.
Fruto de minha experiência anterior como Defensor Público, é notória minha atuação administrativa em mecanismos de saneamento da máquina pública, como, por exemplo, no Pacote de Austeridade, na Reforma Administrativa e na Reforma da Previdência, todas obedecendo à Legislação e sob minha supervisão.
Em relação ao pacote de Austeridade, por exemplo, é de conhecimento público e notório que articulei para sua aprovação junto à Assembleia Legislativa, bem como todas as secretarias pertinentes, como se fez notório pela mídia à época.
Busquei ajudar a implementação de medidas de macrogestão, como por exemplo o fim da terceirização para técnicos de enfermagem, medida saneadora, justa, e transversal, que exigia atuação da Casa Civil de maneira articulada com outras Pastas, como as Secretarias da Saúde, da Fazenda e de Administração. Tal medida economizou 36% dos custos do Estado com o serviço, o que representa uma economia de R$ 36 milhões por ano.
Na Casa Civil, portanto, me dediquei a este tipo de atuação, sem qualquer ingerência em nenhuma Secretaria. Mesmo no estourar da Pandemia, minha atuação enquanto Secretário da Casa Civil se limitava à integração de esforços entre Secretarias e Instituições para o enfrentamento da crise.
Todos os atos decorrentes de minha atuação foram sempre legítimos e em busca da melhor eficiência administrativa.
Minha história é garantia de que entrei para a política para servir ao povo do Estado do Amazonas e contra tudo que sempre discordamos, inclusive contra a corrupção.
Em nenhum momento determinei a qualquer pessoa, servidor público ou não, que atuasse visando o direcionamento ou a compra de produto relacionado à Saúde. Em nenhum momento determinei a compra junto a fornecedores específicos. Em nenhum momento determinei a compra de respiradores da empresa SONOAR.
Cabe observar que não pode haver qualquer dúvida razoável sobre reuniões nos dias dias 18, 19, 20 e 30 de maio em escritório de advocacia. Trata-se de local onde o Professor Rennan Thamay, meu co-orientador no Doutorado e também meu advogado, atende quando está em Manaus, com o qual me encontrei socialmente nos dias 18 a 20 de maio. Não conhecia qualquer um dos sócios do local, sendo meu contato unicamente com o professor.
Desde o meu desligamento da Casa Civil, no dia 18 de maio, não uso as dependências do Palácio de Governo pelos motivos transcritos na carta de exoneração, salvo uma única exceção pontual no dia 1º de junho.
Pedi ao Professor Rennan Thamay para usar o escritório para reuniões com equipe que estava a cuidar da pauta que sempre me dediquei: a da moradia. O local em questão fica em uma das zonas mais movimentadas da cidade, em frente, inclusive, à Justiça Federal, contando com câmeras e registros de entrada de veículos e pessoas. Para lá me desloquei com carros oficiais e acompanhado da equipe de segurança institucional, sempre de forma pública e transparente.
Da mesma maneira, quando questionado por qualquer pessoa sobre a minha localização, indicava onde estava sem qualquer ressalva, o que se infere do registro dos encontros que tive entre os dias 18 a 20 de maio.
Ademais, todos registraram seu acesso ao prédio, a demonstrar que ninguém estava se escondendo ou praticando negócios escusos.
No dia 30 de maio, um sábado, novamente solicitei o uso do local, que conta com uma mesa de reunião, para tratar da pauta de moradia. Nesse dia 30, foi rascunhado um Projeto de Lei sobre o tema da moradia, o que tornou necessária a participação dos servidores presentes na ocasião.
Como sempre ocorreu, a equipe de segurança institucional e todos os demais presentes registraram seu acesso na portaria do prédio, a revelar que nada se fazia às escondidas. Esclareço que, em plena pandemia, não achei prudente realizar grandes reuniões na minha residência, para não expor meus filhos pequenos e sogra idosa ao risco do contágio da COVID19.
Aquele foi o único lugar disponível naquele momento para reunião em um final de semana para não alimentar especulações maldosas que já saiam em blogs locais.
Destaco, ainda, que há pelo menos 8 anos controlo minha alimentação e ando com uma lancheira diariamente. Todas as pessoas que mantiveram contato comigo nesse tempo têm ciência de tal fato.
A mesma lancheira aparece em imagens relativas a diversos outros momentos da minha atuação profissional, dando conta que é usual a sua presença e que em várias ocasiões eu mesmo seguro a referida lancheira.
Por fim, esclareço que as imagens exibidas no Jornal do Amazonas de 17 de outubro e do Jornal Nacional de 19 de outubro, estão nitidamente editadas e montadas, para insinuar que se referem ao mesmo dia, apesar de serem imagens de dias diferentes.
Quem olhar as imagens atentamente perceberá que eu apareço com roupas diferentes, o que demonstra que as filmagens ocorreram em dias distintos, e foram editadas e montadas para parecer uma sequência que nunca ocorreu.
Naquele dia 20 de maio, sou visto portando a mencionada lancheira porque me dirigia a uma reunião na própria TV AMAZONAS, com um de seus diretores, e precisaria fazer uma refeição naquele mesmo horário.
Ao contrário do que se insinua, nunca utilizei o escritório localizado no edifício Fórum Business Center para reuniões ou fins ilícitos, e jamais, em tempo algum, o recebi dinheiro em espécie!
Repudio veementemente todas as ilações levianas!!
Considerações Finais
Algumas das medidas judiciais adotadas obviamente me constrangem enquanto pessoa, compreendo como homem público a necessidade de esclarecimento dos eventos investigados, tanto que voluntariamente procurei a Polícia Federal para esclarecer os fatos, bem como não me furto a quaisquer outros esclarecimentos.
Afirmo que sempre mantive conduta ética, reta e transparente, tendo ingressado na política com o mesmo compromisso que sempre tive nos meus catorze anos enquanto Defensor Público, na defesa dos inúmeros que sempre amparei, onde jamais tive qualquer mancha em minha história.
Confio na Justiça, e como todo Amazonense espero que a verdade sobre os fatos seja esclarecida e que os culpados sejam identificados e devidamente responsabilizados.”