Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Ao pedir medidas cautelares contra investigados na segunda fase da Operação Sangria, deflagrada nesta quinta-feira, 8, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo afirmou que o vice-governador Carlos Almeida Filho usou salas em um prédio comercial onde funciona um escritório de advocacia, para fazer, em maio deste ano, reuniões com diversos servidores públicos, uma delas com a participação da deputada estadual Alessandra Campêlo (MDB), presidente da comissão do impeachment na Assembleia Legislativa.
De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), o escritório pertence a Rafael Moreira Furtado Queiroz, Frank Gomes Azevedo, Ueslei Freire Bernardino e Willians de Lima Cruz. Segundo Lindôra Araújo, Rafael Queiroz é filho de Júlio Cézar Furtado de Queiroz, proprietário da empresa Queiroz Serviços e Gestão em Saúde Ltda e “que possui diversos contratos com o Governo do Estado do Amazonas (muitos na área da saúde), recebendo ao longo do período a quantia de R$ 27.412.281,54”.
Para a subprocuradora-geral da República, causou estranheza Almeida Filho não usar o gabinete da vice-governadoria para realizar as reuniões com funcionários do alto escalão do Governo do Amazonas e políticos. “Esse aspecto levanta suspeitas sobre os propósitos das mesmas, sugerindo que a intenção do investigado era esconder a ocorrência dos mesmos”, escreveu Lindôra Araújo, no parecer enviado ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
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O MPF afirma que entre os servidores que chegaram a participar das reuniões no prédio comercial estão o ex-secretário executivo de Saúde João Paulo Marques dos Santos, que foi preso na primeira fase da operação; o ex-chefe da Casa Civil Lourenço dos Santos Pereira Braga; a chefe de gabinete do governador Lúcia Carla da Gama Rodrigues; e o coordenador da Unidade de Gestão Integrada da Casa Civil, Rodrigo Cavalcante dos Santos.
“Com efeito, infere-se que o escritório de advocacia é um ponto de encontro do vice-governador Carlos Almeida para assuntos ligados, ao menos, a questões de governança, já que, nesse intervalo de tempo, reuniu-se com funcionários do alto escalão do Executivo e Legislativo”, afirmou Lindôra Araújo.
O MPF afirma que a reunião com a deputada Alessandra Campêlo ocorreu no dia 20 de maio, antes de ela ser nomeada presidente da Comissão Especial que analisou os pedidos de impeachment do governador e do vice-governador. Ainda conforme Araújo, em agosto, o processo foi arquivado e a deputada foi uma das que votou pelo arquivamento.
“Vale destacar, por oportuno, que, no mesmo mês do encontro, Marcellus Campêllo, primo da deputada estadual Alessandra Campelo, foi nomeado para a Secretaria-Executiva da pasta da Saúde do Amazonas”, afirmou Lindôra Aráujo.
Segundo o MPF, as apurações “lançam ainda mais dúvidas sobre os propósitos das reuniões realizadas por Carlos Almeida no escritório de advocacia em referência, tanto pelas pessoas envolvidas quanto pelas circunstâncias em que os encontros ocorreram”. Isso porque os participantes sempre estavam com “bolsas, maletas, mochilas, e até mesmo lancheiras ou vasilhames, algo deveras inusual”.
Na decisão, o ministro Francisco Falcão cita que a Polícia Federal teve acesso a mensagens que indicam a participação direta do vice-governador na compra dos equipamentos. O magistrado também afirma que as “circunstâncias peculiares” dos encontros registrados pelas câmeras de segurança do edifício foram “objeto de divulgação, em rede social, de informação no sentido de que o vice-governador estaria utilizando uma bolsa para transportar dinheiro em espécie”.
Falcão considerou ‘pertinente e razoável’ a realização de buscas em endereços vinculados a Carlos Alberto de Almeida, inclusive na sede do governo do Estado e também nas salas comerciais no Edifício Fórum Business. “Não se pode afastar a possibilidade de que existam nesses locais elementos necessários à comprovação dos crimes praticados”, afirmou.
Influência
De acordo com o MPF, o vice-governador tinha grande influência na gestão da Secretaria de Saúde – pasta na qual atuou durante os três primeiros meses de governo. As provas apontam que a cúpula da Secretaria de Saúde se reportava frequentemente ao vice-governador para tratar de contratos da área de saúde, inclusive sobre pagamentos.
O outro lado
Nesta quinta-feira, 8, o Governo do Amazonas afirmou, em nota enviada aos jornalistas, que a maioria dos servidores investigados pela Polícia Federal e alvos da segunda fase da Operação Sangria não faz mais parte da estrutura do Estado. Outros não atuam como ordenadores de despesas ou não têm poder de decisão na estrutura do Estado ou da investigação em questão.
A reportagem solicitou o posicionamento do vice-governador Carlos Almeida Filho e da deputada Alessandra Campêlo, mas até a publicação desta matéria nenhuma resposta foi enviada. A assessoria do vice-governador informou que ele não vai se manifestar até que conheça o teor da investigação em que ele foi envolvido.