Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Acusado de participar de esquema de fraudes que desviou R$ 104 milhões da saúde pública no Amazonas, o ex-secretário da Casa Civil do governo de José Melo, Raul Zaidan, disse, em interrogatório na manhã desta quarta-feira, 7, na Justiça Federal, que as visitas de Mouhamad Moustafá à casa dele eram para participar de missas que são realizadas periodicamente e não para entregar dinheiro de propina como denunciou o MPF (Ministério Público Federal) em ação na Justiça. Mouhamad era dono do Instituto Novos Caminhos, empresa utilizada para o esquema, segundo o MPF, que considera o médico líder dos desvios.
Raul Zaidan disse que Mouhamad Moustafá esteve duas vezes na sua casa “socialmente” para participar de missas que são realizadas todos os meses. Segundo o ex-secretário, o médico, que é muçulmano, estava enfrentando problemas com a mulher por conta de traição no casamento. “Ele teve filho fora do casamento e ela queria terminar. Ele pediu para levá-la nas missas. Foram duas missas”, afirmou, ao negar que frequentava a casa do médico da Maus Caminhos.
Zaidan disse que conheceu Mouhamad quando ficou internado em um hospital de São Paulo no segundo semestre de 2014. “Fui internado imediatamente e começaram a fazer exames. Quando vejo, um camarada que não conhecia, grandalhão, entrou na UTI, conversou com os médicos e foi se apresentar dizendo que ficou sabendo que eu tinha sofrido infarto, mas não era um infarto”, afirmou.
Naquele dia, segundo Raul Zaidan, Mouhamad permaneceu com ele por mais de 12 horas o “tranquilizando” e acompanhando exames, pois ele temia “fazer cirurgia de peito aberto”. “Meu pavor era ter que fazer cirurgia de peito aberto, mas ele me tranquilizou e passou mais de 12 horas lá. Só o exame de seriado de enzima é de 6 a 8 horas. Ele me acompanhou lá e foi aí que o conheci”, disse o ex-secretário.
Qualificação do INC
Sobre a acusação do MPF de que facilitou a qualificação do INC como organização social para participar de licitação sem verificar os requisitos, Raul Zaidan afirmou que “qualificar uma OS é olhar para os requisitos da lei e verificar se a documentação bate”. No caso do INC, segundo o ex-secretário, a CPQOS (Comissão Permanente de Qualificação de Organização Social), da qual era presidente à época dos fatos, realizou apenas uma análise documental porque “a comissão não tinha atribuição para fazer diligências externas”.
“A documentação que nos foi entregue já tinha sido pré-avaliada. Foi análise meramente documental para qualificação da OS. Nós não tínhamos a atribuição de fazer diligências externas. Nós qualificamos uma OS para participar de uma licitação”, disse Raul Zaidan.
De acordo como ex-secretário, o “tratamento diferenciado” ao INC se justifica porque em uma parceria público-privado “a empresa que vai investir passa a ser sócia e tem que ter um tratamento diferenciado”. O ex-secretário disse que optou-se pela contratação de uma organização social por conta da “agilidade e economia” na compra de produtos e serviços e que apenas o INC se interessou pela licitação.
Carro de luxo
Sobre o carro de luxo blindado Dodge Journey, avaliado em R$ 200 mil, comprado por Mouhamad e que lhe foi presenteado, Zaidan disse que pagou pelo veículo em dólar diretamente ao médico e registrou a compra no Coaf (Conselho de Controles de Atividades Financeiras). “Eu estava com 54 mil dólares”, disse.
De acordo com Zaidan, a compra do veículo se deu em momento de greve de policiais militares em 2014, quando ele mandou investigar oito diretores de associações que participaram de protesto que terminou com veículos depredados e pessoas agredidas. Segundo o ex-secretário, um dia após esse episódio ele recebeu diretores e teve “desequilíbrio emocional” e se desentendeu com os diretores.
“Esses oito foram identificados, passaram a responder inquérito, foram afastados das funções e aí começaram as ameaças isoladas que me traziam o próprio secretário de Segurança, secretário de inteligência, conversas em grupos e tal. E eu resolvi comprar um carro blindado”, disse Zaidan.