Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – As alterações em itinerários de linhas de ônibus feitas pela Prefeitura de Manaus nos últimos três meses têm a finalidade de aumentar a frequência dos veículos para os usuários nas paradas, segundo Paulo Henrique Martins, diretor-presidente do IMMU (Instituto Municipal de Mobilidade Urbana).
Para Fernando Monteiro, do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia e do Grupo de Pesquisa Geografia Regional e Produção do Espaço, o ideal seria o emprego de mais veículos para evitar lotações.
Com a inauguração de quatro estações de transferência de passageiros E1 (São Jorge), E2 (Santos Dumont), E3 (Arena) e E4 (Parque das Nações), percursos de algumas linhas foram reduzidos. É o caso das linhas A301 e A328, com saída na zona norte. A primeira seguia do bairro Terra Nova até o Centro. A segunda ia do Conjunto João Paulo ao Terminal 2. Agora, ambas têm como parada final a estação Parque das Nações, na Avenida Max Teixeira, onde os passageiros desembarcam e pegam outra linha para o resto da viagem.
Paulo Martins afirma que com essa mudança o veículo fará mais viagens reduzindo o tempo do passageiro dentro do ônibus. Ele cita o veículo que sai do bairro Alvorada, zona centro-oeste, para a estação Arena, na Avenida Constantino Nery. “Esse ônibus que ia ao Centro, não precisa mais ir até lá. Então, se você usava duas horas para ir ao Centro e voltar, esse ônibus fazia uma única viagem. Esse mesmo veículo vai fazer quatro viagens até a estação mais próxima que é a da Arena. Então, ele vai e volta com uma frequência muito maior”, diz.
Segundo Martins, há mais opções de linhas nas estaçoes. “Ele (usuário) vai se deslocar em um tempo menor até a primeira estação. E daí ele tem os ônibus que passam no corredor porque na Constantino Nery tem ônibus para todos os lugares”.
O diretor-presidente do IMMU diz que a intenção é melhorar as viagens sem aumentar a frota. “Essas mudanças que visam a otimização do itinerário também buscam, com menos veículos ou com a mesma quantidade de veículos, fazer mais viagens diminuindo o tempo do intervalo de um ônibus e outro”.
Fernando Monteiro já considera necessário aumentar a quantidade de ônibus. “O conforto do usuário do transporte público coletivo em Manaus seria o emprego de mais veículos em linhas a fim de evitar lotações”, diz.
O especialista afirma que o aumento no número de paradas para se chegar ao ponto final não é o maior dos problemas. “Os usuários estão se adaptando às mudanças, o que leva tempo”. Para ele, a questão é outra. “Quando falamos de Manaus, uma cidade sem um plano de mobilidade devidamente aplicado, que permita uma locomotividade adequada em seus espaços, a possibilidade de otimização do tempo de viagem para os usuários do transporte público coletivo é o aumento do número de linhas a se utilizar. Na prática, ainda não conseguimos observar essa otimização se fazendo valer, mas isso por outros problemas”.
Paulo Martins entende que para o usuário o que vale é o tempo na parada e não o número de veículos. “Nem sempre se resolve o problema colocando mais ônibus. Se resolve o problema diminuindo o tempo de viagem dele para que ele possa passar em um intervalo de tempo menor. É isso que está sendo feito”, afirma.
Para Fernando Monteiro, essa estratégia funciona na teoria, mas não na prática. “O que podemos identificar é que, com a diminuição de percurso, menor são também os veículos nas linhas. O que resulta em lotações e o mesmo tempo de espera, onde o trabalhador ainda terá que descer em outro ponto para pegar outra linha e assim chegar ao seu ponto final”, diz.
O ATUAL conversou com alguns usuários de ônibus na Estação Parque das Nações (Max Teixeira) na quinta-feira (26). Para Ane Araújo, de 27 anos, vendedora, que pega a linha 450, a mudança piorou. “Eu estou indo para o Planalto (zona oeste). Eu demoro em torno de 20 minutos. Só que o tempo de espera na parada é mais que o tempo que levo para chegar lá, 30 minutos, 25 minutos. E não bate com o que diz no aplicativo (Cadê Meu Ônibus)”, reclama.
Segundo ela, o veículo está mais lotado. “Tem ônibus que ia ao T2, T1 e não está indo mais. Aí o que é que acontece? Ao invés de distribuir a rota, eles ficaram mais lotados. Por exemplo, para ir para o (shopping) Manauara antes tinha o 328, o 414. Aí tiraram esses dois e está passando só o 415. Acaba que tudo vai para o mesmo ônibus”, diz. “Vem aqui 6 horas para ver como está o 415. Não entra ninguém”.
Marilene da Silva, 60 anos, auxiliar de serviços gerais, reclama da linha 059. “Demora demais. Em final de semana é pior ainda. A gente espera uma hora esse ônibus”. Já Éder Linhares, 39 anos, separador de carga, avalia positivamente. “Antes eu tinha que ficar lá na saída (Torquato Tapajós) para pegar. Agora ele entra aqui e já vou direto. O 059 não lota não”, conta.
Tatiana da Silva Souza, 30 anos, também viu a mudança de forma positiva. “Melhorou, não fica muito lotado como nos terminais. Para mim melhorou porque é pouca gente e também pela segurança”, diz.
Maria Rosângela, de 38 anos, considerou boa a quantidade de opções que tem na estação e a linha que frequenta lotava mais. Mas o tempo de viagem não diminuiu. “Lá do bairro tinha o 307 que já ia direto para o Centro. Agora ele está indo até a plataforma do Santos Dumont. Agora só tem o 315 para ir direto para o Centro. Antes era mais fácil, a gente pegava só o 307 e já ia direto”.
Criação de linhas
Atualmente, Manaus possui 1.082 ônibus e 208 linhas. Paulo Martins afirma que a criação de novas linhas depende de demanda. “Você imagina que uma linha em uma determinada avenida tenha que entrar, faz um ‘laço’ dentro de um determinado lugar e volta para o mesmo ponto. Só compensa você fazer esse laço, de gastar 10 ou 15 minutos na ida e volta se tiver passageiros”, explica.
O diretor-presidente do IMMU diz que eliminando percursos considerados improdutivos ou unindo linhas com trajetos semelhantes é possível fazer mais viagens com a mesma frota ou uma frota menor. “Se juntar as duas, cinco ônibus em uma linha com um intervalo de meia hora e cinco ônibus de outra linha com intervalo de meia hora, colocar os 10 veículos fazendo uma única linha, o intervalo dessa única linha deixa de ser meia hora para ser de 15 minutos. O usuário sai ganhando. No final ele pode até andar 50 metros ou 200 metros a mais, mas ele vai ter um ônibus mais rápido”, diz.
Fernando Monteiro considera a aquisição e distribuição dos novos ônibus na cidade desigual, pois há zonas de Manaus que não são contempladas com carros novos. “Em abril recebemos cerca de 40 novos ônibus, boa parte desses veículos se concentra na zona sul e zona oeste manauara. Ainda temos veículos articulados do início da década passada rodando e são eles que realizam as coletas dos usuários nos E1, E2, E3 e E4, assim como os coletores dos bairros também ultrapassam o tempo de rodagem que seria de 10 anos”, critica.
“A Eucatur opera veículos de 2008 e 2009 na zona norte, a Global com carros de 2009 e 2010 na zona leste. Manaus tinha mais de 120 ônibus articulados em 2012, hoje temos menos de 100 e isso por conta do processo de sucateamento levado a cabo pelas empresas (principalmente a Global) e isso reflete em menos ônibus rodando na cidade”, afirma.
Para Monteiro, a cidade é refém das empresas que comandam o serviço e a administração pública pouco interfere. “Veja o caso da Açaí Transportes que da noite para o dia resolveu fechar as portas, deixando os usuários sem transportes e trabalhadores sem empregos. Não sabemos as medidas tomadas pela gestão municipal quanto a isso”, conclui.
(Colaborou Alessandra Taveira)