Numa cidade como Manaus, uma metrópole em plena explosão-implosão de suas contradições, a proposta de construção de um teleférico como “projeto transformador de intervenção urbana e de alto impacto turístico” soa nada mais como uma invenção surreal de quem desconhece a realidade e os problemas da cidade manauara. É isso que tem sido anunciado pelo prefeito David Almeida como projeto revolucionário.
Trata-se do projeto “Nosso Centro”, que visa o financiamento com a iniciativa privada, no objetivo de igualar a grandes projetos que transformaram os centros urbanos de várias cidades em espaços de “convivência digna”. E, para isso, David Almeida objetiva trazer grandes iniciativas e financiadores internacionais para que tomem suas partes na cidade.
A benevolência desses homens racionais de boa vontade à primeira vista pode soar como grande iniciativa de transformação da nossa cidade, mas convido o leitor a pensar em alguns pontos:
- qual será o grande impacto e benefícios que trará a construção de um teleférico de 1,2 quilômetros de trajeto que liga uma determinada parte do centro da cidade à orla do bairro de São Raimundo?
- o projeto de construção do teleférico promete ser um modal de transporte viável para todos, mas lhes pergunto: não teríamos outros problemas quanto a questão dos transportes e mobilidade urbana na cidade?
Numa cidade que é refém das empresas de transporte coletivo, resultando numa baixíssima qualidade no serviço que milhares de trabalhadores necessitam cotidianamente. Aliás, Manaus segue sendo uma das cidades que mais matam ciclistas. Segundo o Pedala Manaus, no período de 2013-2020, 31 pessoas perderam suas vidas nas vias da cidade, como é o caso do jovem Saulo Ferreira, que faleceu no início de agosto após ser atropelado por um ônibus da empresa de transporte coletivo Expresso Coroado. Tal iniciativa é desdenhar dos problemas já existentes em nossa cidade, é uma tentativa de mascarar a realidade vivenciada por mais de 2 milhões de habitantes que compõem a cidade manauara. É o construir de uma cidade de costas para aqueles que nela estão a produzir o seu cotidiano.
Em seu clássico “O Direito à Cidade”, o filósofo francês Henri Lefebvre explica bem o papel desses racionalistas cegos que pensam e pretendem mudar a cidade. Eles, os racionalistas de boas vontades, não reconhecem nem as condições de sua própria existência, se enxergam como médicos da sociedade e de seus problemas, mas passam longe de assim serem – carregam consigo uma coerência vazia de conteúdo incapaz de apreender os reais problemas da sociedade urbana.
Os racionalistas cegos e de boa vontade são eles, os urbanistas tecnocráticos que enchem a cidade de grandes projetos indiferentes à nossa realidade; os gestores-administradores ligados ao poder público que se disfarçam sob as vestes das técnicas e se colocam como redentores dos nossos problemas urbanos e os promotores imobiliários que não perdem a oportunidade de parcelarem a cidade de todos para alguns poucos.
O único objetivo que esses homens racionais de boa vontade conseguirão alcançar para Manaus será na constituição de uma cidade para o negócio e não para os que nela habitam. A produção de uma Manaus para poucos, uma racionalidade cega que passa por cima dos reais problemas da cidade.
Ótima contribuição
PARABÉNS DOUTOR FERNANDO SEU ARTIGO ESTA CIRÚRGICO CONCORDO PRENAMENTE COM O SENHO
ESSE PROJETO NÃO VAI AJUDAR EM NADA NO PROBLEMA DA CIDADE, LOGO QUANDO SOUBE DA NOTÍCIA EU FIQUEI INDIGNADO PELA A FALTA DE RESPEITO PORQUE ISSO NÃO E PARA AJUDAR A CLASSE TRABALHADORA E SIM PARA FAZER SORRIR OS TURISTAS.
SO QUEM SABER O QUE O TRANSPORTE PÚBLICO EM MANAUS E QUEM ANDA E NÃO QUEM VER.
O projeto do teleférico é muito bem vindo, ajudará muito no desenvolvimento turístico atraindo investimentos a nossa cidade, eu sou cidadão manauara e esse projeto me agradou muito, perdoe me, mas humildemente discordo de sua matéria.