Ouvia a rádio CBN na manhã desta quarta-feira (4 de dezembro) e chamou minha atenção o comentário de Armando Castelar Pinheiro, economista, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre o preço da gasolina. Pinheiro disse com todas as letras que a gasolina no Brasil é muito barata e defendeu que os preços sejam majorados para, digamos, “salvar a Petrobras”.
Castelar Pinheiro analisava a situação econômica do país e dizia que o governo vive uma situação de conforto, mas que no futuro a economia pode se complicar. Como exemplo ele citou a gasolina: “Parte do conforto vem que a gasolina tá muito barata. Qualquer um pega o seu carro e vai passear, vai viajar e paga muito pouco. Mas a gente sabe que isso está custando muito à Petrobras”, disse o economista.
Essa tem sido a tônica das análises de economistas e comentaristas do jornalismo econômico no Brasil. A impressão é de que todos estão atrelados à empresa de petróleo para defender os interesses dela, sem considerar os cidadãos que constroem o país e sustentam a própria Petrobas. Castelar Pinheiro conclui a fala dizendo que em algum momento o governo “vai ter que acabar” com a gasolina barata e com a energia elétrica igualmente barata, “porque senão a Petrobras e a Eletrobras quebram”.
Basta comparar os preços dos combustíveis domésticos com os do mercado internacional. É injusto comparar o preço da gasolina no Brasil com os praticados nos países europeus, como também é injusto compará-los com os da Venezuela. Mas é justa a comparação de preço Brasil-Estados Unidos.
O jornal O Globo, em sua versão online, disponibiliza um gráfico com os preços da gasolina em 60 países que mostra o Brasil na 32ª posição no ranking, com o preço médio do litro a R$ 3,30. Só fica atrás dos países europeus. Nos Estados Unidos, o preço médio do litro é R$ 1,87. No México, R$ 1,80. No Canadá, R$ 2,45. Na Colômbia, R$ 2,56. O caso da Colômbia é curioso. Na fronteira com o Brasil, na cidade de Letícia, o preço da gasolina é mais baixo que em Tabatinga, e o combustível é brasileiro, exportado para o país vizinho e vendido ali na porta do Brasil a um precinho mais camarada que no mercado doméstico.
Na Venezuela, o litro custa míseros dois centavos de real (R$ 0,02), e a empresa de petróleo venezuelana não quebrou até hoje, porque grande parte do petróleo é exportado e o país cobra caro dos de fora, não da sua gente. Mas como disse, não dá para comparar o preço do Venezuela com o do Brasil.
O economista entrevistado da CBN usa os parâmetros europeus para dizer que a gasolina brasileira está “muito barata”. Vejamos os números do gráfico do jornal O Globo: a gasolina mais cara é vendida na Turquia: R$ 5,30. Depois, aparece Noruega (R$ 5,29), Países Baixos (R$ 4,75), Itália (R$ 4,73) e França (R$ 4,52). A Alemanha e a Inglaterra também têm preços mais salgados que o Brasil (R$ 4,29 e R$ 4,24, respectivamente).
Um dado curioso são os preços nos grandes produtores de petróleo. De baixo para cima no ranking feito com base em dados da Agência Internacional de Energia e da Agência Nacional de Petróleo (ANP) aparece a Arábia Saudita com o litro vendido a R$ 0,24 no mercado interno, o Kuwait (R$ 0,42), o Egito (R$ 0,45), os Emirados Árabes (0,94) e o Irã (1,24). A Malásia (R$ 1,23), a Nigéria (R$ 1,23), o México e os Estados Unidos completam a lista dos dez países com a gasolina mais barata.
O que faz um país rico como os Estados Unidos, que compra grande parte do petróleo no Oriente Médio, vender a gasolina quase pela metade do preço do Brasil? As reservas de petróleo descobertas recentemente na camada do pré-sal poderiam derrubar os preços dos combustíveis no país? Poderiam, mas isso não vai ocorrer.
O dinheiro da venda do petróleo, que não é nosso, como queria fazer crer a propaganda do regime militar, já está fatiado. Com a promessa de que parte dos royalties dessa exploração será destinada ao financiamento da educação e outra parte para a saúde, o governo tenta confortar antecipadamente o cidadão brasileiro, que nunca verá a cor desse dinheiro.
Vamos continuar a pagar a gasolina mais cara da América, ou melhor, a segunda mais cara, para ser justo (No Chile e na Argentina, outros dois países que aparecem no levantamento do Globo, vendem o litro a R$ 3,46 e R$ 2,77, respectivamente).
Apesar dos números, apesar da realidade, os economistas querem fazer crer que ao segurar o aumento de preço dos combustíveis, o governo ameaça quebrar a Petrobras. A política de preços da Petrobras deveria ser de redução e não de aumento de preços, ate chegar a um patamar próximo ou igual ao dos Estados Unidos. Afinal, o Brasil não quer imitar os estadunidenses em tudo?
Quem está mais incomodado com a falta de reajuste são os investidores, que pagam os economistas e analistas econômicos para emitir esse tipo de opinião nos meios de comunicação. O que a Petrobras deveria fazer era enviar uma equipe para estagiar nos Estados Unidos e aprender como ter lucro e ao mesmo tempo oferecer um produto à população a um preço justo.
Ao professor Armando Castelar Pinheiro, que acha que a gasolina brasileira está muito barata, sugiro que se mude para a Turquia.
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