O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem dito em suas pregações macabras que armar a população é uma condição para se alcançar a liberdade. Seus discípulos acreditam nessa versão patética e andam a repetir a tolice pelos quatro cantos do país.
No sábado, mesmo dia em que um discípulo de Bolsonaro invadiu uma festa de aniversário de um militante do PT e o matou a tiros, o deputado pelo Amazonas Capitão Aberto Neto (PL-AM) exibia uma bandeira do Amazonas em frente à sede de um evento organizado pelo movimento #Proarmas, em Brasília.
Na descrição da foto, o deputado bolsonarista escreveu: “Não é sobre armas, é sobre liberdade. III Encontro Nacional Pela Liberdade!” O Proarmas é o maior grupo armamentista do Brasil e aproveitou o evento para fazer campanha ao presidente Jair Bolsonaro, que concorre à reeleição.
O grupo armamentista se define como um movimento pela busca do “direito fundamental” da legítima defesa e apoia mais de 50 pré-candidatos a diferentes cargos na eleição de outubro.
A defesa da posse ou porte de armas é legítima, mas o argumento de que uma pessoa armada tem mais liberdade do que uma desarmada é mentirosa. Liberdade não se mede pelo uso da força ou pelo uso de meios que podem gerar violência e crime.
O problema principal dessa gente é a falta de leitura. Não fazem ideia de como a humanidade construiu o ideal de liberdade e, portanto, não fazem ideia do que seja liberdade.
No caso do capitão deputado, a defesa da liberdade pelas armas mais parece um subterfúgio para a frustração da corporação que ele serve de “perder a guerra” para o crime.
Uma sociedade com ideal de liberdade prima, primeiramente, pela vida, não pela morte. O Brasil sempre proibiu o uso de armas e por muito tempo o controle funcionou, mas nos últimos anos o crime organizado se mostrou muito mais eficiente do que as forças policiais.
Não são poucos os casos e exemplos de policiais, suboficiais e oficiais envolvidos com esse crime organizado, que as forças de segurança fingem combater. Há também casos de autoridades do Poder Judiciário, do Poder Executivo e do Poder Legislativo envolvido com ou protegendo o crime.
Protegido e com alto poder de compra, o crime organizado fica cada vez mais forte e mais difícil de se combater no Brasil.
Essa leniência somada à uma aliança criminosa de parte das forças de segurança, de membros dos poderes constituídos e de pessoas com alto poder econômico ajudou a pulverizar o crime em todas as esferas da sociedade.
O tráfico de drogas se alimenta e se fortalece com o dinheiro de ricos e pobres; e para se manter forte, era preciso armar seus “soldados”. Esse “sistema” resultou na banalização das armas. Qualquer garoto passou a ganhar uma arma de fogo e esse produto passou a circular livremente no mercado clandestino.
Na cabeça de pessoas como Bolsonaro e Alberto Neto, a única forma de virar esse jogo é armando a população.
Uma pessoa armada, no entanto, pode usar o equipamento tanto para o bem quanto para o mal. O caso concreto ocorrido na noite de sábado (9) em Foz do Iguaçu ilustra bem esse argumento. Uma discussão por motivação política resultou na morte de um homem que comemorava o seu aniversário. Por pouco não ocorreu uma tragédia maior, como mostram as imagens dos circuitos internos do local onde o crime ocorreu.
Bolsonaro se manifestou nas redes sociais não para lamentar o ocorrido, não para pedir que sua militância acalme os ânimos, não para pedir o fim da violência. Ele sugere que os violentos passem para o outro lado, que se juntem à esquerda que, segundo ele, tem histórico de violência.
E o capitão Alberto Neto reproduz na sua conta de Twitter todos os tuítes de Bolsonaro, reverberando o que fica caracterizado como um incentivo à violência e à morte.
Não é disso que a população brasileira precisa; mas é violência que estamos assistindo neste ano no processo eleitoral que ainda nem começou de fato e de direito. Isso nada tem a ver com liberdade.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.
O nobre redator se equivoca inúmeras vezes ao longo do texto, de certa forma até “propositalmente”, na ingênua tentativa de desclassificar a idea de um civil (entenda-se alguém que não é policial nem militar) ter e portar arma de fogo.
Diz que “armar a população é uma condição para se alcançar a liberdade”, mas não é. É, pois, condição indispensável para se MANTER A LIBERDADE, para GARANTI-LA frente a, sobretudo, um governo tirano.
Outro ponto, dizer que “uma pessoa armada tem mais liberdade do que uma desarmada é mentirosa” é mentira mesmo — até porque ninguém nunca disse isso, e desafio o nobre redator a mostrar quem disse e quando disse isso. Entre uma pessoa com uma arma (obviamente que não tenha nenhuma intenção de fazer mal uso dela) e uma pessoa sem uma arma, esta última simplesmente não tem com o que se defender contra possíveis agressores — e, sim, eles estão por aí.
O nobre redator diz que “liberdade não se mede pelo uso da força ou pelo uso de meios que podem gerar violência e crime”, é verdade e, mais uma vez, NINGUÉM NUNCA DISSE ISSO. Liberdade se mede pela possibilidade de se fazer o que quiser — OBVIAMENTE que NÃO o mal às outras pessoas — sem ter que pedir permissão para fazê-lo. E se defesa pessoal é um dos direitos humanos básicos — sim, está no Artigo 3º da Declaração da qual o Brasil inclusive é signatário –, não se deve ter que pedir permissão para exercê-lo. Parece que essa leitura o nobre redator se esqueceu de fazer, não é?
O redator também afirma que “Não fazem ideia de como a humanidade construiu o ideal de liberdade e, portanto, não fazem ideia do que seja liberdade.” Ora, e como o senhor acha que os países que um dia conquistaram sua independência — inclusive o Brasil — fizeram-no? Exatamente, por meio do uso de armas, assim como EUA, México, Venezuela, Bolívia, Colômbia, etc., Parece que essa leitura também lhe faz falta, não é?
“O Brasil sempre proibiu o uso de armas e por muito tempo o controle funcionou, mas nos últimos anos o crime organizado se mostrou muito mais eficiente do que as forças policiais”. Ora, aqui é uma falácia sem igual. O Brasil não proíbe o uso de arma desde sempre, mas, sim, passou a fazê-lo de forma muito mais contundente a partir da Era Vargas — isso, mesmo, foi implementada pelo ditadorzinho que muitos tanto idolatram. E o fato de as organizações criminosas serem “mais eficazes do que a polícia” (mas eficazes em que? Mais eficazes em cometer crimes do que a polícia em preveni-los ou resolvê-los?) é simples de analisar: CRIMINOSOS NÃO OBEDECEM LEIS, MUITO MENOS AS QUE DIZEM “ARMAS SÃO PROIBIDAS”. É a coisa mais ridícula pensar que bandidos de qualquer nível ou natureza as obedeceriam.
O eminente redator diz também que “na cabeça de pessoas como Bolsonaro e Alberto Neto, a única forma de virar esse jogo é armando a população”. Não, não, não, não, não! Não é nada disso! Primeiro porque ninguém vai “armar a população”. Que está distribuindo armas por aí? Quem as está dando de graça? Criaram o Auxílio Arma de Fogo e eu não estou sabendo? Ora, é mais do que fato, em todo e qualquer país do mundo que as forças de segurança NÃO POSSUEM CONDIÇÕES DE PROTEGER TUDO E TODOS, e por motivos óbvios: não há agentes suficientes, jamais haverá. Logo, não parece MINIMAMENTE JUSTO que se o Estado falha de forma gritante neste quesito, as pessoas possam poder defender a si mesmas e a suas famílias contra QUALQUER TIPO DE AGRESSOR?
A possibilidade de uma pessoa poder ter, portar e usar armas de fogo (sim, no PLURAL, mesmo, ARMAS) não se trata de “terceirizar”. Trata-se, sim, de as próprias pessoas serem as primeiras responsáveis pela própria segurança e de seus entes queridos. Ninguém que não seja policial quer ter armas para sair fazendo patrulhas. Ninguém que não seja policial quer sair por aí investigando crimes.
O que se quer é poder ter a PLENA liberdade de escolher NÃO TER QUE ESPERAR POR UM ESTADO QUE É E SEMPRE SERÁ FALHO E QUE NÃO AS MÍNIMAS CONDIÇÕES OU O REAL INTERESSE em manter as pessoas seguras.
Se eu quero me proteger, eu devo poder fazê-lo sem ninguém questionar.
Afinal, nobre redator, O PREÇO DA LIBERDADE É A ETERNA VIGILÂNCIA. Sabe quem disse isso? Foi John Philpot Curran. Mas essa leitura o senhor também não tenha feito.
O nobre leitor faz uma argumentação muito pertinente, mas ao mesmo tempo equivocada. Uma leitura mais atenta poderia deixá-lo entender que não se trata de um texto contra o porte ou a posse de armas, mas tão somente contra a argumentação de que “uma população armada jamais será escravizada” (frase muito usada por Bolsonaro). Jorge Alberto, você usa frases minhas incompletas para construir seus argumentos, distorcendo o sentido delas. “A defesa da posse ou porte de armas é legítima, mas o argumento de que uma pessoa armada tem mais liberdade do que uma desarmada é mentirosa.” Você usa apenas a parte depois da vírgula como o claro objetivo de criar um entendimento de que estou contra a liberdade de as pessoas escolherem ter ou não armas. Para não me alongar, o texto que lhe motivou a escrever o comentário acima é exatamente contra o entendimento que o senhor tem de liberdade, que é o mesmo de Bolsonaro e de Alberto Neto. O meu conceito de liberdade é incondicional, o de vocês parece ser apenas um direito de escolha entre ter arma e não ter arma.
Prezado redator, grato por me responder. De fato, utilizei recortes de suas frases justamente porque são estes cortes que se mostram sem qualquer embasamento exceto o “achismo”.
Todas as evidências empíricas — e estatísticas — que se encontra em qualquer lugar do globo terrestre no qual acesso a armas de fogo é mais fácil ou até mesmo irrestrito é de que, sim, quanto mais armas nas mãos de civis, menores são as taxas de crimes, principalmente os violentos.
O senhor diz que seu conceito de liberdade é “incondicional”, pois bem. Meu entendimento é exatamente o mesmo, apenas muito mais claro em quanto ao tópico “armas de fogo”, em comparação ao seu. E não é porque foi Bolsonaro que disse, mas porque a frase é a pura realidade: um povo armado jamais será escravizado. Veja o que acontece hoje na Ucrânia: por causa do acesso restrito a armas de fogo, civis estão sendo treinados DURANTE a guerra, EM OUTRO PAÍS (Polônia) para aprender a usá-las e, TALVEZ, poder ajudar seu país de alguma maneira. Fosse o contrário, certamente até mesmo a própria Rússia pensaria duas vezes antes de ter começado o que começou.
Por fim, escolher ter ou não ter arma é justamente um dos corolários da liberdade: compra, tem, coleciona, usa, etc., quem quiser; quem não quiser, tudo bem.