O cinismo da ‘companheirada’ do PT está tão exacerbado que, se eles pudessem, tudo viraria às avessas, ou seja, agentes da Polícia Federal, procuradores do Ministério Público e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) iriam parar na cadeia e os jornalistas, na forca. Assim seria se as ações do ‘lulopetismo’ fossem suficientes para interferir na vontade dos cidadãos. Felizmente, a cidadania brasileira dá sinais de maturidade. Seguem considerações ilustrativas:
A ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo Rosimary Noronha, indiciada pela Polícia Federal (PF) na Operação Porto Seguro, na semana passada, divulgou nota informando que não praticou qualquer ato de corrupção, que “nunca fez nada ilegal, imoral ou irregular”. As fartas provas da PF, anexadas ao processo da operação, não deixam dúvidas do contrário.
As conversas reveladas em e-mails anexos ao processo, mostram Rosimary com acesso irrestrito ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem, segundo as mensagens, eram solicitadas nomeações de servidores que agora foram presos na operação. No dia seguinte à revelação dos e-mails, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou que Lula nada tem a ver com as falcatruas perpetradas pela subordinada.
Em postagens no seu blog pessoal, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu tratou de defender Lula dos inevitáveis respingos (para dizer o mínimo) da operação da PF. Partiu para o ataque ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que acusou Lula de confundir o público com o privado, e chamou a ‘Porto Seguro’ de ‘operação Mensalão 2’.
O presidente do PT, Rui Falcão, apressou-se a dizer que a operação Porto Seguro e o envolvimento de Rosimary nada tem a ver com o partido. “É uma pessoa que está sendo acusada. Se esses fatos se comprovam, são graves. Mas não é o PT que está sendo envolvido em escândalo”, disse.
No julgamento do mensalão, o cinismo do PT é insuperável. O partido chegou a elaborar uma nota para contestar a decisão do STF de colocar na cadeia os envolvidos com a compra de parlamentares com dinheiro público. José Dirceu e José Genoíno, ambos condenados, divulgaram notas ‘peitando’ os ministros e culpando a mídia pelo que consideram perseguição política.
Dirceu tenta confundir as ‘traquinagens’ da administração petista comparando a era Lula-Dilma com a de FHC, como se os feitos do PT, cujos méritos não podem ser negados, justificassem qualquer malfeito. “Os fatos históricos não mentem e nada, nenhuma tentativa tucana e da grande mídia de reescrever a historia recente do Brasil apagará a revolução social e econômica que fizemos no País – que fizemos Lula, o PT e aqueles que conosco construíram o projeto politico que agora o novo udenismo, com o sempre presente apoio da grande imprensa, tenta negar”, escreveu Dirceu.
Não guardo saudosismo do governo FHC, tampouco nutro qualquer desejo de que o PSDB ou a direita volte a governar o País. Há méritos na gestão de FHC, assim como há méritos na de Lula, mais do que na do antecessor, é verdade. Dilma Rousseff tem conseguido administrar o País com habilidade e certamente deixará sua marca, principalmente para a população de baixa renda. Na economia, há mais acertos do que erros. No entanto, nenhum feito do governante justifica o saque aos cofres públicos e a delinquência administrativa.
É lamentável ver homens e mulheres que defendiam a ética e a moralidade como valores inegociáveis negligenciando tais valores em nome da continuidade no poder. O que a ‘companheirada’ deixa transluzir é que está muito bem acomodada nos cargos públicos e não querem abir mão do confortável ‘emprego’ conquistado à base da camaradagem. Tal comportamento atinge a todos, dos intelectuais aos militantes sem formação, com as raras exceções. A velha máxima, condenável, de que “os fins justificam os meios”, deixou de escandalizar os ‘companheiros’, para a felicidade deles.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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