É difícil escrever sobre temas locais, como é a proposta dessa coluna, enquanto o mundo chora os mortos pelo terrorismo em Paris, o horror de cristãos sendo massacrados no oriente ou a catástrofe ambiental ocorrida em Mariana. O mundo anda cada vez mais inexplicavelmente dividido e irracional.
Diante de fatos assim, capazes de mobilizar sentimentos, governos e redes sociais ao redor do globo, pode parecer insignificante falar da corrupção em Iranduba, de falta de merenda escolar nas escolas de Manaus ou da violência contra as mulheres no Amazonas.
Parece, mas não é. As grandes tragédias humanas, ambientais ou religiosas nascem de questões locais: ausência de diálogo, transparência, inclusão social e tolerância religiosa. A exclusão social e a falta de perspectivas dos jovens nos grandes centros urbanos criam as condições ideais para o recrutamento ao tráfico e à violência, bem como para o discurso radical religioso.
Todos os dias assistimos os maus exemplos das lideranças políticas nacionais e locais. Parece não haver mais saída para resolver os problemas da corrupção e do desvio de dinheiro público. Nesse particular, o município de Iranduba junta-se a casos como Coari, onde escondiam-se os milhões da corrupção em forros de casas, enquanto os munícipes sofriam com a ausência de serviços públicos essenciais, sem saneamento, saúde ou educação de qualidade.
Assim, parece não haver mais bom senso de políticos e gestores: em qualquer sociedade civilizada a merenda escolar deveria ser prioridade, ou melhor, as crianças deveriam ser tratadas como prioridade. Assim, a falta de merenda nas escolas deveria causar preocupação da sociedade, constrangimento aos gestores e explicações imediatas dos políticos, sem meias palavras ou marketing. Onde estão os vereadores de Manaus, eleitos para fiscalizar o bom uso dos recursos públicos?
É difícil falar de esperança enquanto nossos jovens estão sendo mortos nas periferias, enquanto somos o quinto país em quantidade de assassinatos de mulheres e enquanto nossas crianças não têm direito à alimentação adequada. Não basta fazer ativismo nas redes sociais, é preciso agir e cobrar providências das autoridades e dos representantes políticos. Um futuro melhor só será possível com educação, respeito à igualdade de gêneros, ao meio ambiente preservado e, acima de tudo, ao ser humano.