É uma multa muito pesada para o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Manaus assumir o ônus da greve que paralisou 100% do sistema de transporte público convencional nesta terça-feira, 17. A Justiça do Trabalho determinou multa de R$ 100 mil por dia em caso de greve. Com a desobediência, o juiz a aumentou para R$ 50 mil por hora, numa tentativa de restabelecer o serviço. Os sindicalistas bateram o pé e mantiveram a paralisação pela tarde.
Sabe-se há muito tempo que a família que domina o Sindicato dos Rodoviários (Givancir, Josildo, Jaildo e Josenildo de Oliveira Silva) há mais de uma década nunca foi “inimiga” dos patrões, muito pelo contrário. Sempre que querem pressionar as empresas por melhoria salarial ou benefícios para a categoria, o sindicato aponta sua artilharia para o lado mais fraco dessa disputa: o usuário – que, diga-se, não tem nada a ver com a história.
Há muito vem-se sugerindo que o sindicato use como medida para pressionar, não a paralisação, mas a liberação das catracas para que os passageiros viagem de graça. Tal medida poderia trazer implicações para o sindicato, obviamente, com possíveis ações na Justiça cobrando o prejuízo. Mas não é menos problemática do que as multas que a entidade tem recebido pelas paralisações.
Mas ao sindicato não interessa atingir o bolso do patrão. É mais fácil deixar a população de uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes sem o transporte público. Não há como negar o prejuízo às empresas com a paralisação, mas em menor escala, porque poupa combustível e pneus.
Portanto, não se pode descartar a hipótese de que a paralisação desta terça-feira tenha o apoio patronal. É sabido também que eles têm pressionado a Prefeitura de Manaus em busca de reajuste da tarifa, sem sucesso.
Obviamente, não se pode aqui eximir o poder público e o gestor da cidade de Manaus de culpa. Sendo o município o poder concedente dos serviços de transporte, precisa tomar as rédeas, ditar as regras e aplicar as sanções, em caso de descumprimento das empresas.
Portanto, é necessário não apenas punir o Sindicato dos Rodoviários com multas, mas o poder concedente também pode e deve punir as empresas por deixarem de prestar o serviço à população. Custa a qualquer cidadão acreditar que o sindicato, sozinho, tenha força de parar 100% as empresas de ônibus sem uma mão amiga.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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