Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – O ex-vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho, pretende acionar a Justiça para ingressar no PT. Ele sofre resistência do presidente regional do partido, deputado estadual Sinésio Campos.
Em novembro, o pedido de filiação de Carlos Almeida, que é defensor público, foi rejeitado por Sinésio, que alegou ser o ex-vice-governador “aliado de Bolsonaro”. A justificativa incomodou Almeida, que disse que o deputado o acusa “da coisa que ele faz”.
Em entrevista ao ATUAL nesta quinta-feira (4), Almeida afirma que o resultado do recurso contra a decisão de Sinésio enviado à Executiva Nacional deve sair ainda este mês. Conforme o ex-vice-governador, caso a decisão contra a filiação seja mantida, ele vai acionar a Justiça.
“A construção de um processo, principalmente em um partido plural como o PT, precisa ser pelo coletivo, e a análise do coletivo precisa levar em conta as discussões democráticas internas. É o que o Sinésio não está fazendo. O Sinésio quer ser um ditadorzinho dentro do partido e isso está errado. Ele sabe que eu vou bater de frente com isso. Eu vou bater mesmo. Mas isso não está nada ligado com disputa municipal. Agora, se a compreensão estrutural do partido for nesse sentido, eu respeito para onde ela queira ir, desde que ela seja democrática”, disse Almeida.
Em junho passado, após se encontrar com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o ex-vice-governador protocolou o pedido filiação na direção municipal do partido. Dias depois, o requerimento dele foi alvo de impugnação. Um dos filiados alegou que Carlos Almeida foi vice-governador de Wilson Lima e que ambos eram aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O pleiteante ocupou cargo de vice-governador do ano de 2019 a 2023 ao lado do atual governador Wilson Lima, ambos aliados do então presidente Jair Bolsonaro e opositores ao Partido dos Trabalhadores, em especial nos pleitos de 2018, 2020 e 2022”, diz trecho da impugnação.
Em novembro, Sinésio avocou as atribuições da direção municipal e barrou o ingresso do ex-vice-governador na sigla. A justificativa do deputado para negar o pedido de filiação irritou o ex-vice-governador. Ele prometeu ir “até o fim” contra o que chamou de “hipocrisia” de Sinésio, que compõe a base do governador na Assembleia Legislativa do Amazonas.
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“Eu aceito ser expulso por esse fundamento, desde que o Sinésio se expulse primeiro. Ele está me acusando daquilo que ele está fazendo. Que maluquice é essa?”, questionou Carlos Almeida. “A Nacional vai apurar. Se a Nacional resolver passar a mão na cabeça dele, eu vou para a Justiça. Isso não é problema”, completou o ex-vice-governador.
Até as eleições de 2022, Almeida era filiado ao PSDB, mas não chegou a disputar cargo.
Nesta quinta-feira, ao ser questionado sobre o desejo de disputar o cargo de prefeito, ele respondeu que tem interesse e que o PT seria o partido “correto” para isso, mas entende que este ano não é o momento ideal. Segundo ele, o partido em Manaus precisa se “refundar”.
“Tenho interesse, sim, em algum momento disputar um processo para poder entregar o que eu entendo como correto? Com certeza. Eu acho que 2024 é o momento para isso? Eu acho que não. Até porque o seguinte: eu entendo que o PT é o partido correto para tanto, o problema é que o PT precisa se refundar. Olha uma cidade como Manaus onde uma pesquisa demonstrou que 47% dos amazonenses ainda são bolsonaristas a despeito de todos os absurdos que o bolsonarismo representou”, disse Carlos Almeida.
Pesquisa divulgada no dia 29 de dezembro pela Perspectiva Opinião e Mercado mostrou que 47,4% disse preferir o ex-presidente Bolsonaro. Os que se manifestaram a favor de Lula totalizaram 23%.
O defensor também afirma que nunca se colocou como candidato a prefeito e que quem fez isso foi o próprio presidente estadual do PT.
“Quem está me colocando como candidato desde o primeiro momento é o Sinésio. Eu estive com a Gleisi em junho, depois apresentei o meu pedido na municipal. O Sinésio, antes de qualquer coisa, foi dar uma entrevista dizendo que eu estava querendo botar a carroça na frente do boi porque estava querendo me colocar como candidato. Em nenhum momento eu disse isso”, disse Carlos Almeida, que admite ser querer ser candidato, mas em outros pleitos.
O defensor afirmou que o PT “carrega uma responsabilidade histórica e simbológica que precisa ser respeitada, coisa que ele [o Sinésio] não faz”. Para ele, o deputado teme uma liderança que possa o ofuscar na eleição de 2026 e ameaçar a relação dele com o governo.
“Eu me pus contra o Wilson, rompi contra o Wilson, aguentei as consequências disso em pleno exercício do poder do Wilson para vir um camarada e me inventar uma mentira dessa e dizer que sou bolsonarista. Pelo amor de Deus!”, disse o defensor.
“Tem um ditado amazonense: ‘quem disso usa disso cuida’. Ele que se acusa das próprias acusações. A propósito, nas redes sociais dele, você vai verificar coisas de dois dias ele inaugurando prédio e felizinho ao lado do Wilson. Se o fundamento que o Sinésio me aponta para me expulsar do partido é que eu era vice do Wilson, o que ele está fazendo lá do lado dele?”, questionou o defensor.
O ATUAL procurou o deputado Sinésio Campos, mas não houve resposta até a publicação da matéria. Mensagem no WhatsApp do deputado foi visualizada, mas ele não respondeu.