Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Ao pedir busca e apreensão contra investigados na segunda fase da Operação Sangria, deflagrada nesta quinta-feira, 8, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo afirmou que os ex-secretários Rodrigo Tobias, João Paulo Marques e Perseverando da Trindade criaram um grupo no aplicativo de mensagens WhatsApp para alinhar discursos na CPI da Saúde da ALE (Assembleia Legislativa do Amazonas).
“Verificou-se que o grupo criminoso arquitetou, de maneira consciente e voluntária, o ‘alinhamento’ dos discursos que seriam proferidos no âmbito da CPI da Saúde no Amazonas. Ressalte-se, por oportuno, que, dentre as diversas investigações, a Comissão Parlamentar estava também apurando a compra dos ventiladores pulmonares superfaturados da Vineria Adega”, afirmou Lindôra Araújo.
De acordo com a PGR, o grupo se chamava “Só nós aqui” e tinha apenas os três ex-secretários. “Outro fator que chamou atenção da equipe de investigação foi um grupo de Whatsapp chamado “Só nós aqui”, tendo como integrantes Rodrigo Tobias, Perseverando da Trindade e João Paulo Marques (estes últimos foram presos na Operação Sangria)”, afirmou Araújo.
As investigações identificaram que no último dia 9 de junho, João Paulo mandou uma mensagem no grupo direcionada a Rodrigo Tobias solicitando que o ex-secretário de Saúde não apagasse “aquelas mensagens”. “Tobias. Não apague aquelas msgs (sic). Por favor. Aquilo pode salvar Perseverando e eu”, escreveu o ex-secretário executivo de Saúde.
A existência do grupo foi citada pela subprocuradora-geral da República para sustentar a afirmação de que Rodrigo Tobias tinha “efetiva participação no esquema fraudulento” engendrado no âmbito da Secretaria de Saúde do Amazonas para a compra dos respeitadores com preço superfaturado.
Lindôra Araújo também citou depoimento da ex-gerente de compras da Susam Alcineide Pinheiro à Polícia Federal sobre a atuação do empresário Gutemberg Leão Alencar como operador de compras dos respiradores. Pinheiro afirmou que Rodrigo Tobias “estava ciente e acompanhava todo o processo de aquisição fraudulenta dos ventiladores pulmonares”.
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Na manhã desta quinta-feira, 8, a Polícia Federal prendeu o ex-secretário Rodrigo Tobias, a ex-secretária executiva de Saúde da capital Dayana Priscila Mejia, o engenheiro clínico Ronald Gonçalo Santos, o marida da ex-secretária de Comunicação Daniela Assayag, Luiz Carlos Avelino Júnior, e o empresário Gutemberg Leão Alencar. Assayag foi alvo apenas de busca e apreensão.
Superfaturamento
Na peça enviada ao STJ, a subprocuradora-geral da República indica que o inquérito em curso investiga o direcionamento na contratação da empresa; sobrepreço e superfaturamento na aquisição dos respiradores; organização criminosa; lavagem de dinheiro; montagem de processos e adulteração de documentos, com a finalidade de encobrir os crimes praticados.
Para Lindôra Araújo, há “uma verdadeira organização criminosa que se instalou na estrutura do governo do estado do Amazonas, com o objetivo de desviar recursos públicos destinados a atender às necessidades da pandemia de Covid-19”.
O esquema de compra fraudulenta de 28 respiradores movimentou R$ 2,9 milhões, com envolvimento direto da cúpula do poder do estado. Um laudo pericial da PF atesta sobrepreço de 133,67% na compra feita pela Secretaria de Saúde do estado com dispensa de licitação. Os respiradores foram fornecidos por empresa especializada no ramo de bebidas alcoólicas, denominada “Vineria Adega”.
Em uma manobra conhecida como triangulação, uma outra empresa vendeu os respiradores à adega por R$ 2,4 milhões; essa, por sua vez, repassou os equipamentos ao governo do Amazonas por R$ 2,9 milhões. A suspeita de superfaturamento de R$ 496 mil foi registrada pela Controladoria-Geral da União, assim como o direcionamento da venda.