Da Redação, com informações da Folhapress
MANAUS – Com o primeiro caso de coronavírus em Manaus confirmado no dia 13 de março e a primeira medida do governo estadual para combater a Covid-19 tomada três dias depois, o Amazonas reagiu com “intensidade e rapidez” à chegada da doença no país, segundo um grupo de pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo).
Conforme o estudo, o Amazonas aumentou o nível de rigidez das medidas de distanciamento social com o crescimento exponencial dos casos de coronavírus e, com isso, está atendendo as recomendações da OMS referentes às políticas para diminuir a velocidade da transmissão do vírus.
Os quatro indicadores da pesquisa são o (1) fechamento de escolas, (2) do comércio, (3) da indústria e as (4) restrições às aglomerações públicas. Conforme a pesquisa, dentre os quatro, o Amazonas não pontuou em apenas um: não houve decreto do governo estadual que determinasse o fechamento da indústria, apesar de algumas fábricas terem anunciado o fechamento temporário por conta própria.
“Em vários indicadores de rigidez, o Amazonas, rapidamente, alcançou o ponto máximo. O único indicador que a gente não está detectando que houve um fechamento ou suspensão oficial das atividades é na questão da indústria”, afirmou a cientista política Lorena Barberia, coordenadora do grupo.
Nesta segunda-feira, 13, o estado amazonense registrou 1.275 casos confirmados de coronavírus e 71 mortes.
De acordo com os pesquisadores, a maioria dos estados acertou ao adotar políticas para restringir a circulação de pessoas contra o avanço do coronavírus, impondo medidas drásticas quando havia poucos casos de infecção conhecidos.
Os governadores reagiram rapidamente ao avanço da epidemia com as medidas de distanciamento social e mantiveram essas políticas por um número de dias prolongado, em alguns estados antes mesmo que os primeiros casos de Covid-19 fossem notificados, afirmam os pesquisadores.
“Vários estados responderam cedo à situação de acordo com as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e com mais clareza que o governo federal”, diz Lorena Barberia. “Eles entenderam que essas medidas são importantes para controlar o contágio”.
Parte de uma rede multidisciplinar que começou a estudar o impacto das políticas de combate ao coronavírus no Brasil, o grupo adotou a mesma metodologia que pesquisadores da Universidade de Oxford desenvolveram para monitorar medidas adotadas por governos de vários países.
O grupo criou um Índice de Rigidez do Distanciamento Social para avaliar restrições impostas por governos a escolas e empresas e para evitar aglomerações. O indicador varia de 0 a 100. Quanto maior o número, maior a rigidez das políticas adotadas.
Segundo o primeiro relatório do grupo, 18 dos 26 estados e o Distrito Federal atingiram índices entre 51 e 75 – entre eles, Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro, onde se concentra a maior parte dos casos notificados até agora. Quatro alcançaram índices de 76 a 100: Acre, Alagoas, Ceará e Goiás.
No caso do Amazonas, no dia 13 de março não havia nenhuma medida de combate ao coronavírus. Os decretos que aumentaram o nível de rigidez das medidas de distanciamento social foram surgir na segunda etapa, no dia 20 de março, e se intensificaram dia 27 do mesmo mês, ou seja, na terceira etapa.
Em 20 estados, as medidas de fechamento do comércio atingiram o nível de rigidez mais alto. Na maioria, a política foi adotada para todo o território, e não apenas na capital e nas principais cidades do interior. Somente cinco estados restringiram às maiores cidades as medidas dirigidas ao comércio.
No caso do Amazonas, o fechamento do comércio foi decretado no dia 23 de março, ou seja, 10 dias depois do primeiro caso confirmado de Covid-19. Aquela altura, o Estado já registrava 32 infectados pelo coronavírus.
Cinco estados impuseram restrições às indústrias também: Alagoas, Ceará, Goiás, Rio Grande do Norte e Roraima. Embora a maioria não tenha adotado medidas específicas para o setor, muitas fábricas fecharam as portas ou reduziram o ritmo de produção mesmo assim por causa da paralisia geral da atividade econômica.
São Paulo, onde o primeiro caso de Covid-19 do país foi notificado, em 25 de fevereiro, foi o primeiro estado a impor restrições. O relatório do grupo da USP observa que as medidas começaram a ser tomadas num estágio inicial da transmissão da doença.
Escolas e universidades fecharam e aglomerações foram proibidas em São Paulo em 16 de março, quando só havia 152 casos conhecidos em todo o país. O comércio fechou no dia 24, quando os casos confirmados eram 840. Na Itália, medidas semelhantes só foram tomadas quando milhares estavam infectados.
No Amazonas, a suspensão por 15 dias das aulas na capital, anunciada no dia 16 de março, foi a primeira medida tomada para combater o coronavírus. A expansão do cancelamento das aulas para todos os municípios do interior e a proibição de aglomerações públicas veio um dia depois, em 17 de março.
Cinco estados mandaram fechar as escolas antes que o primeiro caso de Covid-19 fosse divulgado pelas autoridades: Amapá, Maranhão, Piauí, Rondônia e Roraima. A maioria dos estados adotou as políticas de restrição logo depois de São Paulo, sem esperar pela multiplicação de casos, conforme o relatório.
De acordo com Lorena Barberia, a pontuação do estado no índice de rigidez não significa que o Amazonas está “indo no caminho certo”, mas aponta se o governo estadual está apoiando o isolamento e distanciamento social. “Dizer que o Estado está no caminho certo é uma coisa muito mais complexa”, disse.
O presidente Jair Bolsonaro, que defende o afrouxamento das políticas de isolamento para evitar prejuízos que elas causam à atividade econômica no curto prazo, tem pressionado o Ministério da Saúde e os governadores a relaxar as medidas, mas a maioria tem ignorado os seus apelos.
Na semana passada, o Ministério da Saúde orientou governos locais a avaliar, a partir desta semana, um possível alívio nas restrições, mantendo apenas grupos de risco no isolamento, se suas redes hospitalares não estiverem sobrecarregadas, com mais de 50% dos leitos ocupados por doentes da Covid-19. A maioria dos estados não fez mudanças.
Nas próximas semanas, os pesquisadores da USP pretendem analisar dados de operadoras de telefonia e empresas de tecnologia para avaliar os efeitos das políticas que restringiram a circulação das pessoas e tentar identificar áreas em que o cumprimento das medidas pode ter ficado aquém do desejado.
O grupo também pretende examinar o impacto das ações dos governos estaduais na evolução da doença. “As políticas de isolamento social são importantes para combater a epidemia, mas não são suficientes se o sistema de saúde não estiver preparado para tratar os doentes”, diz Barberia.