No dia em que o Brasil atingiu a terrível marca de 500 mil mortes devido à pandemia da Covid-19, o povo mais uma vez foi às ruas para protestar contra o Governo Bolsonaro, cobrando vacinação, auxílio emergencial, emprego, alimentação e denunciando os cortes na educação, as ameaças aos indígenas e as privatizações no país.
Os atos “Vacina no Braço, Comida no Prato e Fora, Bolsonaro”, que ocorreram dia 19 de junho de 2021, em continuação dos atos do dia 29 de maio, mostraram a insatisfação crescente da população com o Governo de Bolsonaro. As manifestações ocorreram em 427 cidades, em todos os Estados e o Distrito Federal e em 17 países do mundo, reunindo 750 mil pessoas, que gritavam “fora Bolsonaro genocida”, “vacina para todos, já”, e cobravam auxílio emergencial de 600 reais para as pessoas.
No Rio de Janeiro, a deputada federal Benedita da Silva (PT) disse que “são meio milhão de pessoas mortas por conta da negligência e da negação do Bolsonaro. Milhares de pessoas não estão mais conseguindo um prato de comida, milhares de desempregados, sem oxigênio nos hospitais, sem assistência. Não podemos mais morrer de Covid e nem de fome”.
Muitas das 500 mil mortes pela pandemia poderiam ser evitadas. O Governo Bolsonaro é responsável, em função de sua atitude sistemática de negar a ciência, as medidas de proteção na saúde e de distanciamento social. Além disso, a falta de ações para comprar vacinas no ano passado, que a CPI do Senado está demonstrando com mais detalhes, influenciou no número de mortes. E a campanha de vacinação continua lenta. Até este final de semana, apenas 11% da população estavam vacinadas com a 2ª dose.
Os indicadores do IBGE estão mostrando o aumento da fome e da miséria. O auxílio emergencial que o Governo está pagando, em média 250 reais por família (em muitos casos, apenas 175 reais), é insuficiente para garantir a alimentação. O botijão de gás de cozinha, que já sofreu novo reajuste, em alguns lugares chega a 120 reais.
No Amazonas, já são 13.220 mortes até domingo (20), devido ao novo coronavírus. Tiveram protestos contra o Governo em Manaus e também Parintins, Itacoatiara, Tefé, Humaitá e Manacapuru. Foram 5 mil pessoas participando. Em Manaus, começou na Praça da Saudade, com caminhada pela Epaminondas, 7 de Setembro e Eduardo Ribeiro, terminando com ato no Largo de São Sebastião.
A mensagem principal em Manaus era em defesa da vida, contra o desemprego, pelo auxílio de 600 reais, contra a fome e a carestia, pela vacina já para todos e todas, contra a reforma administrativa, contra as privatizações e, fora Bolsonaro. Jovens diziam, “não tire a máscara, tire Bolsonaro”. A mensagem dos estudantes e das entidades estudantis era contra os cortes na educação e na defesa da ciência e da vacina e na defesa do SUS, da máscara e da vacinação. Muitos indígenas presentes dizendo que “vidas indígenas importam” e “abaixo Bolsonaro, agora”.
Trabalhadores do setor público, professores, operários dizendo “emprego sim, armas não” e questionando as privatizações de empresas públicas, como os Correios, a Eletrobrás, a Petrobrás e a Infraero e os aeroportos, e a reforma administrativa em tramitação no Congresso Nacional.
Não há dúvida que as manifestações tendem a crescer no Amazonas e no país. As condições de vida da população estão cada dia mais deterioradas. No estado, temos ainda a questão da situação do sistema de saúde, que continua precário, e as enchentes, que deixaram milhares de vítimas. E a ação do Governo é lenta.
Apesar de que as palavras que mais se ouviram nos protestos tenham sido o “Fora, Bolsonaro”, não acredito que a maioria dos parlamentares federais tenha se sensibilizado para colocar em pauta um dos mais de 100 pedidos de impeachment adormecidos na Mesa Diretora.
Mas, certamente, essa indignação do povo vai ser expressa nas Eleições de 2022, com grandes mudanças à vista.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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