Ninguém duvida que a Zona Franca de Manaus é um sucesso. A receita gerada pelo modelo baseado em incentivos fiscais para as empresas do Polo Industrial de Manaus é fundamental para a economia do Estado e do País (sem ela, o Estado do Amazonas quebraria; com ela, o Estado desfruta de recursos que a maioria dos entes federados não dispõe). Os empregos gerados também são importantes para a economia pujante do Amazonas, principalmente da capital Manaus.
Um amigo da trabalha na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), dia desses, fazia a seguinte análise: “O sucesso do modelo, hoje, é o principal problema da ZFM. O sucesso geral revolta dos Estados pobres, que não dispõem dos mesmos mecanismos para crescer; gera revolta dos Estados ricos, acostumados a monopolizar os benefícios concedidos pela União; e embraga os governantes locais que, tendo garantidas as receitas da Zona Franca, não se empenham tanto em buscar alternativas ao modelo e se concentram em defende-la, buscando sempre o apoio federal”.
A análise é pertinente, há sim, uma ciumeira dos políticos dos Estados vizinhos e, principalmente, dos Estados da região sudeste, que perderam a hegemonia da indústria e, agora, perde a hegemonia da pecuária para o centro-oeste. E o amigo segue na análise: “Do lado do governo federal, o sucesso também é um problema para a ZFM, porque incentivá-la e protegê-la passa a ser praticamente o único discurso para o Amazonas”. É o que temos visto ao longo das últimas duas décadas, pelo menos.
De tempos em tempos, volta-se à carga, principalmente nas proximidades do processo eleitoral. Nas eleições gerais, cria-se uma disputa para ver que candidato mais defende a Zona Franca de Manaus ou que candidato pode ser taxado como “inimigo da Zona Franca”. Agora mesmo, já começaram a aparecer os “amigos” do único modelo de desenvolvimento do Amazonas entre os que pretendem disputar a presidência da República.
Propostas para o desenvolvimento do Estado fora do eixo da indústria já instalada são sempre ignoradas no processo eleitoral, não apenas na agenda dos presidenciáveis, mas também dos candidatos ao governo do Estado. Aliás, os candidatos postos, até aqui, sempre trataram o tema desenvolvimento como um sofisma. Cada governo apresenta um modelo de desenvolvimento para o interior do Estado que morre na sala de parto, como ocorreu com o Terceiro Ciclo de Amazonino Mendes, o Zona Franca Verde de Eduardo Braga e, agora, o Programa Amazonas Rural, de Omar Aziz e José Melo.
Quais os resultados desses programas? Todos eles prometiam a transformação do interior do Estado em ilhas de desenvolvimento, tornando o Amazonas autossuficiente na produção de alimentos. O Amazonas importa desde hortaliças até o peixe. Estados como Rondônia, tem produção de pescado muito mais eficiente do que o Amazonas e seus produtos conseguem “reinar” no mercado consumidor de Manaus.
Por que o Amazonas não avança em nenhum outro setor além do PIM? Havia a promessa de desenvolvimento de um polo de biocosméticos, com a construção do Centro de Biotecnologia da Amazônia. Não ocorreu. A indústria de fármacos é um sonho que não sai do campo dos discursos políticos. A vocação do Estado, com seus rios caudalosos, para a piscicultura sempre foi tratada com desdém pela classe política. O discurso da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável nunca passou de falácia.
Para a pergunta acima, meu amigo a deu a seguinte resposta: Mas, para quê, né? Afinal, a ZFM é um sucesso!”
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.