As ações organizadas para invadir áreas públicas e privadas no entorno da cidade de Manaus, principalmente nas zonas norte e leste, não deixam dúvidas de a indústria das invasões está de volta. Multiplicam-se em nome e número, enquanto aumenta a incapacidade do poder público estadual e municipal na prevenção dessas ações.
As invasões de terras, seguidas de ocupação desordenada, estão na raiz de muitos problemas da cidade de Manaus. São bairros inteiros que não conseguem oferecer a seus moradores dignidade por que sua origem é a desigualdade social, a estupidez dos políticos e a esperteza de oportunistas que vendem as áreas invadidas.
Nessas áreas, a primeira vítima é o meio ambiente, já que as queimadas e derrubada da mata nativa é o primeiro passo para a criação da comunidade. Sacrificam-se nascentes, espécies animais e vegetais, afugentam-se as aves e compromete os corredores ecológicos naturais.
Em seguida, surgem as demandas por serviços como saneamento, energia e iluminação, além de água tratada, todas reivindicações justas e obrigações do poder público, mas é preciso reconhecer as dificuldades financeiras e as consequências da falta de planejamento na execução de obras e serviços a toque de caixa.
As invasões e ocupações desordenadas acabam transformando o direito sagrado do cidadão à moradia digna em um pesadelo já que esses lugares acabam virando guetos de exclusão social, causados pela ausência de condições mínimas de sobrevivência. Falta de escolas, de postos de saúde, de policiamento, de saneamento ou água tratada.
Ao contrário do que pensa o político ou o poder público omisso, essa conta será paga por todos, no futuro, pois as crianças desassistidas serão nossa força de trabalho no futuro, o jovem abandonado e sem oportunidades pode ser o assaltante de amanhã ou o trabalhador com baixa produtividade.
Enfim, não adianta cuidar da cidade apenas nas áreas centrais, é preciso cuidar das pessoas, do meio ambiente e da economia com a mesma atenção e carinho. Só assim alcançaremos a sustentabilidade de uma sociedade justa e harmônica.
Para isso é preciso humildade para ouvir todos os seguimentos sociais, políticos e econômicos; liderança para conduzir um processo efetivo de planejamento e execução de obras e serviços essenciais; compromisso com as gerações futuras e, acima de tudo, a clareza de que não precisamos de um guia, mas de líderes, muitos, vários, quantos estiverem dispostos. Assim, no plural.