EDITORIAL
MANAUS – Uma lei municipal que proíbe supermercados e mercadinhos de fornecer gratuitamente as sacolas plásticas tem gerado polêmica em Manaus menos pelo objetivo da medida e mais pelo valor cobrado pelos supermercados, que agora são obrigados a vender as sacolas.
Não é novidade a cobrança pelas sacolas plásticas em supermercados de Manaus. Um atacadista com lojas em diversas zonas da cidade, desde que chegou à capital do Amazonas, há mais de 5 anos, cobra pelo produto disponibilizado nos caixas: começou com R$ 0,20 e, agora, cobra R$ 0,25, isso desde muito antes da vigência da lei.
Outro supermercado conhecido também já estava cobrando, antes da lei municipal, R$ 0,03 pela sacola ofertada nos caixas.
Alguns consumidores reclamavam tanto de R$ 0,25 quanto de R$ 0,03, e “caçavam”, e “caçam” nos supermercados caixas de papelão ou outras embalagens para carregar suas compras.
O objetivo da lei é desencorajar os consumidores a usar as sacolas plásticas que muito poluem o meio ambiente e demoram séculos para se decomporem na natureza.
O problema, no entanto, não será resolvido com uma lei desse tipo. Os supermercados e mercadinhos não foram afetados com a medida, muito pelo contrário. Passaram a ganhar e ganhar muito dinheiro, se comparado o preço de custo das sacolas com o valor de venda ao consumidor.
Mas esse também não é o problema central. O plástico na natureza é o problema. E esse produto, ao que tudo indica, não deixará de ser descartado nas ruas, praças e lixões de Manaus.
As sacolas plásticas são apenas a mínima parte de uma indústria e comércio que despejam centenas de milhares de toneladas de plástico na natureza todos os anos. As embalagens de produtos estão cada vez mais sofisticadas e produzidas com plástico que podem permanecer por séculos na natureza.
As lâmpadas são um exemplo: as embalagens são de plástico duro de alta resistência, que precisa ser cortado com uma tesoura ou faca na hora de retirar o produto. Nem sempre foi assim. As lâmpadas incandescentes, no mesmo formato das atuais lâmpadas de led de bocal E27, eram vendidas – em um passado recente – em caixas de papel, facilmente degradáveis na natureza.
As garrafas pets também são um produto da era moderna, que veio para dar comodidade ao consumidor, mas deixa um rastro de destruição da natureza. Os igarapés de Manaus são o esgoto preferido das garrafas plásticas.
Até a década de 1980 e início dos anos de 1990, os refrigerantes eram vendidos em garrafas de vidro retornáveis. Havia, inclusive, um comércio de garrafas vazias, a exemplo do que ocorre atualmente com as latas em alumínio de cerveja e refrigerantes.
Portanto, o plástico não deixará de poluir o meio ambiente apenas proibindo os supermercados de vender as sacolas. Para muitos consumidores, a compra das sacolas nem será sentida no bolso. E os que não têm educação ambiental – a grande maioria – continuarão descartando as sacolas nas ruas, praças e igarapés.
A lei também não previu um problema sem perspectiva de ser resolvido no curto prazo: como o lixo doméstico será acomodado para ser recolhido pelos carros coletores sem as sacolas plásticas.
Suponhamos que todo tipo de sacola plástica seja proibido. As famílias vão disponibilizar em que tipo de recipiente o lixo de forma que os funcionários das empresas de coleta possam transportar esse lixo até o carro coletor?
A intenção da lei que proibiu a doação, mas não a venda, das sacolas plásticas nos estabelecimentos de varejo não é ruim. Mas ela não terá efeito sobre o meio ambiente sem que haja uma nova ordem para o uso do plástico.
O problema precisa ser combatido na origem. Se o plástico polui tanto o meio ambiente, por que não o substituir por um produto mais biodegradável? Por que as autoridades continuam a permitir a produção em grande escala de garrafas plásticas quando já há novos produtos para embalagens que podem ser recicláveis ou retornáveis?
Essa é a discussão que precisa ser travada em todo o Brasil. Seria um grande passo para a preservação do planeta.