Os cientistas nos garantem que tudo começou com uma grande explosão chamada de Big Bang. Já o povo Tukano tem uma explicação mais poética e sensual para a origem do mundo. A criação só foi possível graças à manifestação de uma música misteriosa e de um ritual de embelezamento.
O Gênesis Tukano é detalhado no livro do pajé Gabriel Gentil ‘Mito Tukano: Histórias proibidas do Começo do Mundo’. Na obra sobre a cosmogonia dessa etnia do Alto Rio Negro é relatado que: “No princípio antes do tempo, havia um vão chamado a Casa do Vento onde não tinha nada, nem forma, som ou luz. Tudo era espaço, escuridão, silêncio, e triste e sem ideias”.
Até que surge de dentro de um redemoinho o primeiro ser vivente, a entidade feminina chamada Ye’pá. Despertada por uma música misteriosa e sagrada, ela aparece dançando formosa e deslumbrante pelos ares.
Também estava lá o Avô do Mundo. Estar presente e disponível, porém, não basta para fazer as coisas acontecerem. No caso, não era suficiente para agradar a bela e exigente Ye’pá. Assim, o vovô ficou solitário e tristonho. Até que teve uma ideia transformadora: fazer um ritual para ficar atraente e seduzir Ye’pá.
Não, desconfiado leitor. Esse ritual de embelezamento não envolveu apresentação de um carrão ou exibição de um extrato da conta bancária. Também não teve cirurgia plástica.
O Avô do Mundo “começou a fazer Cerimônia para ele ser bonito”, conta Gentil. Deu certo: Ye’pá começa a olhar para ele e “gostava e dava sorriso”. A criadora finalmente diz sim e o casal se une. Após o casamento – modelo de união de casais entre os Tukanos – nascem os filhos. Logo, a criação começa e tudo – árvores, animais, rios – é gerado. Milênios depois, estamos todos aqui, descendentes da música fecundadora e de uma liturgia estética.
O mito desse povo amazônico pode não ser tão conhecido, mas a ideia de que a beleza é uma poderosa força criativa permanece universal. “O ser humano cria também segundo as leis da beleza”, disse, por exemplo, Karl Marx, em Manuscritos de 1844.
Essa ideia serve até para a Seleção Brasileira. Depois de enfrentar um verdadeiro “Big Bang” no 7 a 1 da Alemanha e um período “vazio, triste e sem ideias” com o técnico Dunga, o Brasil voltou, na semana passada, a assumir a primeira posição no ranking da Fifa.
A Seleção não ficava no topo desde antes da Copa de 2010 e, durante esse tempo, amargou posições ruins: chegou a ser 22º colocada em 2013. A música que mudou tudo não era nada misteriosa. Era o som do grito dos torcedores exigindo mudanças.
Com essa “canção”, quem “dançou” foi Dunga e Tite foi convocado para ser o treinador. Ocupar o cargo, “estar lá”, porém, não é suficiente para as coisas acontecerem. Era necessário um ritual de embelezamento. O rito está sendo realizado: o Brasil voltou a jogar bonito e o povo “gostava e dava sorriso”.
Assim, sob o comando de Tite e com um futebol agradável e sedutor, o Brasil ganhou todas as oito últimas partidas pelas Eliminatórias sul-americanas (e também um amistoso), garantindo vaga para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.
É claro que há uma outra teoria sobre o “ritual para ficar bonito” por que passou a Seleção Brasileira. Alguns acreditam que o encanto que fez tudo mudar aconteceu mesmo quando a graciosa atriz Bruna Marquezine aceitou voltar a namorar o principal jogador nacional, o atacante Neymar.
De qualquer forma, os Tukanos estão certos em apontar a participação da beleza nos momentos decisivos e transformadores. O russo Fiódor Dostoiévski concorda com isso e ainda prevê um papel significativo da estética sobre o destino da humanidade: “A beleza salvará o mundo”.
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Fascinante a matéria .