“A culpa é da lua”. Pode parecer uma frase romântica e poética, mas é um bom resumo para a corrida espacial em que a União Soviética e os EUA duelaram pela supremacia em áreas como a fabricação de foguetes, o desvendamento da ciência planetária e o avanço da astronavegação.
O conflito envolvia até a denominação da profissão de piloto (ou tripulante) de uma nave espacial. Para a União Soviética, cosmonauta. Para os Estados Unidos, astronauta.
No fundo, a disputa no espaço era muito mais política do que científica e tinha o nada secreto objetivo de mostrar aos terráqueos qual dos sistemas – capitalismo ou comunismo – seria o mais avançado para o Planeta.
Atualmente, quando se pensa em exploração espacial a primeira coisa que nos vem à mente é a NASA. Especialmente pelo fato de que foi a agência espacial americana a viabilizar a pioneira chegada do homem à lua. Entretanto, antes de um astronauta americano dá o primeiro e “pequeno passo” no solo lunar, quem propiciava os “grandes saltos da humanidade” eram os cientistas e cosmonautas soviéticos. Sim, se for analisada cada rodada desse “campeonato estelar”, vai se verificar que quem “ganhava de goleada” e quem era o líder a ser seguido era a União Soviética, não os ianques.
Um grande exemplo aconteceu um ano antes do Brasil conquistar, nas Suécia, a sua primeira Copa. Em 1957, os soviéticos foram os primeiros a lançar um satélite artificial ao espaço, o Sputnik; quatro meses antes dos EUA. Em seguida, no mesmo ano, outro pioneirismo: a cadela vira-lata Laika, na cápsula Sputnik 2, se torna o primeiro ser vivo lançado ao espaço; uma viagem sem volta.
Em 1966, a sonda soviética Luna 9 consegue as primeiras imagens direto da superfície da Lua; quatro meses antes dos EUA. Em 1970, ano do tricampeonato mundial do Brasil, “Lunokhod” pousa na lua e se torna o primeiro jipe-robô a operar fora do planeta; 16 anos e cinco meses antes dos EUA. Em 1971, a espaçonave (não tripulada) “Mars 3” consegue o primeiro pouso no planeta Marte; cinco anos e oito meses antes dos EUA. Em 1975, a sonda “Venera 9”, é a primeira, e única, a tirar fotos direto da superfície de Vênus. Também têm as várias estações espaciais construídas e os vários recordes de permanência no espaço, estabelecidos por cosmonautas.
A maior façanha espacial da União Soviética (composta da Rússia e 14 repúblicas anexadas) ocorreu em 12 de abril de 1961. Foi quando o cosmonauta Yuri Gagarin, tornou-se o primeiro humano a superar a barreira da atmosfera terrestre e a viajar pelo espaço sideral. Tripulando a nave Vostok I, afastou-se 327 quilômetros da Terra. Ao todo, a viagem durou 108 minutos. Vislumbrando nosso planeta à distância ele teria feito a singela e poética observação que entrou para a história: “A Terra é azul”.
Alguns historiadores, provavelmente torcedores boi Garantido, contestam que a frase caprichosa e famosa de Gagarin teria sido pronunciada durante a histórica viagem. As gravações originais apresentam os seguintes trechos: “Eu vejo a Terra, é magnífica”. “A visibilidade é boa. Eu os ouço perfeitamente”. “O voo procede de forma normal”. “Posso ver tudo. Alguns espaços estão cobertos por nuvens”. “Eu continuo com o voo. Tudo está normal. Tudo funciona perfeitamente bem. Seguindo em frente”. “Eu me sinto bem. Estou realmente bem. Continuo com o voo. Tudo funciona perfeitamente bem. A máquina está funcionando normalmente”.
Apesar desse grande feito, ao longo do tempo, as contribuições soviéticas foram esquecidas e as da NASA celebrizadas. Olhar a terra do espaço pareceu menor do que pôr os pés na lua.
A partir de hoje, com a abertura da Copa, será impossível ignorar o que acontecer na Rússia. Um evento que deixa bilhões de terráqueo orbitando ao redor. O Mundial também é uma competição estelar com mais concorrentes que a corrida especial e com poder de sedução e atração igual à da lua cheia.
A Copa na Rússia também emite um alerta para os tripulantes da nave “Canarinho 6”. Não adianta a Seleção ter superado desafios estratosféricos como as Eliminatórias e alguns amistosos de “alta gravidade”. Quem vai ser mais lembrado não vai ser aquele que olhar a “magnífica” taça, mas aquele que saber usar os pés para conquistar o universo da Copa.