Soube dessa história real ontem e achei interessante compartilhar. É mais ou menos assim:
Toda manhã o menino ficava de mau humor. Não gostava de acordar cedo para ir à escola e ainda tinha que esperar a mãe dele lhe preparar a merenda. Normalmente, um suco natural e um sanduíche.
Para quê? Ela bem que poderia lhe dar algum dinheiro e ele mesmo compraria o lanche na cantina escolar. Lá, sim, tinha muitas coisas gostosas. Muitas guloseimas, hambúrgueres e doces que lhe fazia invejar os colegas que sempre compravam aquelas delícias.
Naquela semana tinha sido pior. Era quinta-feira e, de novo, o lanche era pão com manteiga. Era gostoso? Sim. Mas, por que a mãe não o entendia e lhe dava o dinheiro da merenda? Devia ser porque ela não gostava dele tanto assim quanto dizia. Isso mesmo. Aquele sanduíche era uma evidência de que ela preferia lhe castigar a atender um simples pedido.
Ainda estava pensando nisso quando chegou a hora do recreio. Pegou o sanduíche bem embrulhado em papel alumínio. Era o momento de sua pequena vingança. Iniciou uma pelada no corredor da cantina e a bola improvisada era o seu lanche.
Não deu tempo de ficar divertido. Uma servente da escola interrompeu a peraltice e começou a ralhar a garotada. “Não acredito que estão brincando com comida!”, disse ao pegar a “bola” de alumínio. Em seguida, ela abre o embrulho e pergunta de quem era aquele sanduíche. Ninguém responde. Ao ver o conteúdo do sanduíche, a servente fica visivelmente emocionada e sua voz fica embargada.
“O dono desse sanduíche é alguém muito amado. A manteiga não foi passada de qualquer jeito. Quem o fez teve o cuidado de passar manteiga em todos os cantos do pão. Essa merenda é uma prova de amor”.
O menino agora não se importa com os colegas e seus lanches comprados. Começa a se denunciar a todos ao chorar em altos soluços. Tinha acabado de aprender uma grande lição na escola, ministrada por uma servente educadora: “O amor se revela até em um pão com manteiga passada em todos os cantos”.
Nos vários cantos e ruas do Brasil também era expressado um outro sentimento especial: a esperança. A cada quatro anos, os brasileiros demonstravam essa emoção ao pintar e enfeitar as ruas para a Copa do Mundo.
Essa tradição “maternal” sempre foi um bom exemplo do que o País devia fazer. Os moradores promovem cotas e eventos para arrecadar dinheiro para comprar tintas e enfeites. Nenhum centavo é desviado ou as aquisições, superfaturadas. Na hora de botar a mão na massa, esforço coletivo. Nada de ficar só olhando e pondo defeito. Também não tem essa de colocar o filho do morador mais rico para pintar se ele não tem aptidão para o trabalho. Todos são escalados por suas habilidades técnicas.
As ruas pintadas e coloridas eram uma demonstração de que os brasileiros suspendiam o pessimismo, a descrença para ter um pouco de esperança. Um momento para cultivar a crença de que o sucesso de brasileiros em um evento mundial lá fora, pudesse também ter algum impacto socioeconômico aqui dentro.
Nesse Mundial, dessa vez, quase não se vê por aqui o verde e amarelo derrotando o cinza do asfalto. Também não se enxergam bandeiras do Brasil em pontos de destaques nas casas e ruas. O mau humor domina. Falta dinheiro. A gente fica achando os “lanches” dos outros mais apetitosos.
“Toma tua merenda, Brasil”. É hora de superar o “7 a 1” da corrupção e do desgoverno. É hora de perceber que nossa alma tem cores. Que não podemos mais deixar passar o “ônibus da história”. Que a Seleção na Copa seja um combustível para nos mover para um destino melhor. Que a camisa canarinho não seja apenas para protestar contra o que achamos errado, mas também seja usada para comemorar um país que dá certo. Com “açúcar e com afeto”.
Um país em que seus moradores, enfim, seja tratados com o devido cuidado “da manteiga passada em todos os cantos”.