
Por Gabriel de Sousa e Guilherme Caetano, do Estadão Conteúdo
BRASÍLIA – Pouco depois de se tornar réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que é alvo de acusações “graves e infundadas”. Bolsonaro também voltou a atacar as urnas eletrônicas, afirmando que não é obrigado a confiar em um “programador”.
Segundo o ex-presidente, que junto com outros sete aliados foi tornado réu após decisão unânime da Primeira Turma do STF, ele é acusado injustamente de liderar a trama golpista por defender o voto impresso e questionar o resultado das eleições de 2022.
“Eu espero, hoje, colocar um ponto final nisso aí. Parece que tem algo pessoal contra mim e as acusações são muito graves e são infundadas”, afirmou Bolsonaro.
Bolsonaro disse ainda que colaborou com a transição do governo após o fim das eleições. Segundo o ex-presidente, ele atuou para impedir obstrução de vias por caminhoneiros e pediu por manifestações ordeiras. O capitão reformado declarou ainda que não era obrigado a passar a faixa presidencial para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Graças a Deus eu saí daqui no dia 30 de dezembro, porque eu não queria passar a faixa para um cara com um passado como o Lula tem. Não há crime nenhum em não passar faixa. Não está escrito que é proibido não passar a faixa”, afirmou.
O ex-presidente também rebateu a denúncia da PGR que o acusou de ter convocado comandantes das Forças Armadas para consultá-los para uma eventual ruptura democrática por uma decretação de estado de sítio. Segundo o ex-presidente, um golpe jamais seria concretizado a partir de um mecanismo constitucional.
“Nem atos preparatórios houveram para isso, se é que para você trabalhar com dispositivo constitucional é sinal de golpe. Golpe não tem lei, não tem norma. Golpe tem conspiração com a imprensa, o parlamento, setores do poder Judiciário, setores da economia, fora do Brasil. Forças Armadas em primeiro lugar, sociedade, empresários, agricultores. Aí você começa a gestar um hipotético golpe, nada disso houve”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro voltou a disparar acusações, sem provas, de fraudes no sistema eleitoral brasileiro. “Eu não sou obrigado a acreditar e confiar em um programador”, afirmou. Ele também disse que Moraes “bota o que quer” nos processos judiciais relatados por ele: “Por isso os seus inquéritos são secretos ou confidenciais”.
Por unanimidade, os cinco ministros da Primeira Turma do STF tornaram Bolsonaro e outros sete aliados réus por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Os magistrados acompanharam o voto do relator Alexandre de Moraes, que aceitou, na íntegra, a denúncia feita pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Com a decisão, o ex-presidente e os demais denunciados se tornam réus em um processo penal por cinco crimes – organização criminosa armada, golpe de estado, tentativa de abolição violenta do estado democrático, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado contra o patrimônio da União. As penas em caso de condenação podem chegar a 43 anos de prisão.
Além de Bolsonaro, vão responder ao processo: Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-diretor da Abin), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha) e Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro).
Moraes
Bolsonaro voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes. Segundo o ex-presidente, Moraes “coloca o que quer nos inquéritos”. “Lamentavelmente, as imagens não estão no inquérito do Alexandre de Moraes. Ele bota o que ele quer lá. Por isso seus inquéritos são secretos ou confidenciais”, declarou.
Bolsonaro mencionou em mais de uma oportunidade o ministro da Defesa, José Múcio, que teria afirmado no programa Roda Vida, da TV Cultura, que “não houve tentativa de golpe”. Ele também citou o ex-presidente Michel Temer (MDB), que teria dito algo semelhante, segundo o capitão.
“Durante a transição conduzida pelo senador Ciro Nogueira, tive um encontro com o futuro ministro da Defesa, José Múcio. No dia seguinte ele foi atendido em tudo e pediu que eu nomeasse os comandantes militares indicados pelo presidente eleito Lula da Silva, foi o que fiz”, continuou Bolsonaro. “Se tivesse qualquer ideia (de golpe), não deixaria os comandantes do Lula assumir”.
Bolsonaro aproveitou o pronunciamento para ler um trecho discurso que leu em 2022 após eleição de Lula. Ele reclamou que a sua fala não foi incluída por Alexandre de Moraes no inquérito.
“As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda que sempre prejudicaram a população como invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”, leu o ex-presidente.
O capitão reformado afirma também que não compareceu ao STF nesta quarta-feira, 26, porque “sabia o que ia acontecer” e que a decisão de ontem foi de última hora. “Parece que tem algo pessoal contra mim. E são acusações muito graves e infundadas”, disse Bolsonaro.