EDITORIAL
MANAUS – Políticos amazonenses amantes do presidente Jair Bolsonaro soltaram algumas pérolas depois da publicação do Decreto 10.979/2022, que reduziu o IPI em 25%, uma delas a de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não conhece a Zona Franca de Manaus, o Amazonas e a Amazônia.
O ministro conhece a Zona Franca de Manaus muito bem, e Bolsonaro também. Nenhum nem outro agiram por ignorância. Ambos sabem o que estão fazendo. Só os políticos e empresários iludidos com o bolsonarismo podem achar que houve um mal-entendido e que a situação pode ser revertida.
Aliás, Paulo Guedes avisou há 3 anos que a Zona Franca de Manaus não tinha qualquer importância para o Brasil e anunciou que ela morreria de inanição.
Políticos e empresários do Amazonas preferiram não acreditar, acharam que não passava de arroubo do ministro fanfarrão e incompetente (essa opinião é do ATUAL, não dos atores do Amazonas).
Quem ainda lembra da entrevista de Paulo Guedes, em abril de 2019, quarto mês de mandato de Bolsonaro, concedida à jornalista Míriam Leitão? Ele falava em reforma tributária, unificação e exclusão dos impostos federais. Míriam Leitão perguntou sobre como ficaria a Zona Franca de Manaus. A resposta foi a seguinte:
“Quer dizer que o Brasil agora não pode ficar mais eficiente porque tem que manter a Zona Franca? Ela vai ficar do jeito que ela é, ninguém nunca vai mexer com ela. Agora, quer dizer que não vou simplificar impostos no Brasil? Eu tenho que deixar o Brasil bem ferrado, porque senão não tem vantagem para Manaus?”
Não precisa ser especialista em comportamento humano para perceber o ranço do ministro para com o modelo Zona Franca de Manaus. Guedes, antes da eleição de Bolsonaro, durante a campanha eleitoral de 2018, já havia prometido a Salomé a cabeça do polo industrial incentivado do Amazonas.
E desde que assumiu o posto de ministro, trabalha para “ferrar” a Zona Franca de Manaus e “salvar” o Brasil. Guedes faz isso porque é muito cômodo para qualquer político. O Amazonas é um Estado com a maior extensão territorial do Brasil, mas com um eleitorado insignificante, comparado com outras regiões.
O ministro da Economia não tem nada de genial, mas deu uma tacada de mestre ao reduzir o IPI para todo o território nacional. É um Brasil inteiro contra o Amazonas. Que empresário não quer a redução de impostos? Que brasileiro não quer ver a carga tributária menor? A medida foi abraçada por todos. Só o Amazonas está esperneando.
Quem vai vencer essa batalha? O Amazonas? Certamente que não. O jogo já terminou para a Zona Franca de Manaus nessa questão do IPI. Se isso vai afetar a indústria local e os empregos, o tempo irá dizer.
Guedes, ao anunciar a redução do imposto, disse que a intenção da equipe econômica era cortar pela metade, mas cortaram em 25% para não prejudicar a Zona Franca de Manaus. Na cabeça do ministro e de sua equipe, a questão está mais que resolvida.
Paulo Guedes quer substituir o incentivo fiscal do IPI por créditos de carbono, uma “moeda” que, de fato, não existe. Talvez nem a equipe econômica consiga explicar como o Polo Industrial de Manaus se beneficiaria com essa nova modalidade de recurso.
O que o governo Bolsonaro está fazendo é a retirada do principal pilar da economia do Amazonas e recomendando que o Estado encontre alternativa para sobreviver.
Quem conheceu Manaus antes da Zona Franca, sabe como o modelo foi importante para o desenvolvimento da capital. A saída da indústria incentivada da região certamente levará a cidade a uma derrocada econômica e social sem precedentes.
Não é tão simples como Paulo Guedes e Bolsonaro pensam sair de um modelo econômico para outro. Se fosse simples, o Estado já seria autossuficiente e não dependeria mais da Zona Franca.