Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – O vice-prefeito de Manaus e secretário Chefe da Casa Civil, Marcos Rotta, (Progressista) disse que a concentração de partidos políticos na mão de caciques de forma contínua não favorece o surgimento de novas lideranças. Segundo ele, no Brasil não existe sigla que preencha esse anseio de renovação.
“Enquanto nós tivermos partidos comandados de uma certa forma, antidemocrática, que não pensa no bem estar de uma cidade, ou de Estado, que não levam em consideração a juventude, novas idéias, novos ideais, infelizmente nós vamos continuar sendo sujeitos a isso”, disse.
A opinião foi manifestada nesta quinta-feira (17), em entrevista aos jornalistas Felipe Campinas e Valmir Lima, no programa O A da Questão, nos estúdios do Amazonas ATUAL.
“Não temos nenhum partido que atenda esse anseio de renovação. Todos são comandados a mão de ferro”, afirmou Rotta.
Após revelar que está à disposição do prefeito David Almeida (Avante) e que não será candidato a prefeito nas Eleições 2024, Rotta fez uma análise do cenário político para o ano que vem.
“Há uma briga nesse momento intensa nos bastidores, não apenas aqui, mas movimenta Brasília, por comando de partido. Porque hoje, você ser dirigente de partido, ser presidente de partido, é um bom negócio. Você chega no processo eleitoral muito mais fortalecido. Você escolhe as pessoas que vão compor uma chapa, que vão ser ou não candidatos, você insere isso num contexto maior ou menor, dependendo do cenário…”.
Na entrevista, Rotta falou de sua trajetória política e relembrou o processo eleitoral de 2016, quando despontava como favorito em todas as pesquisas na disputa para prefeito, mas foi preterido por seu partido, na época o PMDB (atual MDB) e acabou candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Arthur Virgílio Neto (PSDB).
Rotta reconheceu que ali, perdeu a grande chance política de sua vida. “Não terei uma nova chance. Eu sou muito consciente quanto a isso. Eu tive duas grandes oportunidades de ser candidato majoritário na cidade e no Estado. Uma em 2016, onde a gente tinha pesquisas [favoráveis], a gente monitorava essa questão e eu tinha grande chance de ganhar a eleição. E em 2018, no mandato tampão [eleição suplementar após a cassação do governador José Melo] eu figurava bem, mas em um momento eu vi que não teria mais nenhuma projeção nesse sentido, resolvi me afastar do cenário”.
O vice-prefeito disse ter entendimento da situação que passou e apontou a falta de oportunidade a jovens promessas, promovidas pelos caciques, como causa da não renovação política.
“Na política, quando você começa a querer criar uma asa, vem sempre alguém para podar sua asa e deixar com que a roda fique menor. Porque para quem está no poder, quanto menos a roda girar, quanto menos elementos tiverem nessa roda, maior a chance de quem saiu da roda voltar. Coisa que não acontece com quem quer entrar na roda e não é permitido, infelizmente”.
“Eu fico muito entristecido, embora pertença à classe política, mas às vezes eu me entristeço com alguns fatos que acabam diminuindo a política, de uma maneira geral. E esse fato do comando partidário é um deles”, afirmou.
Marcos Rotta também comentou episódio recente envolvendo a executiva estadual do Progressista, que presidiu de abril de 2022 a março de 2023. Ele revelou na entrevita que o acordado com Ciro Nogueira, presidente nacional do partido, era passar o comando para David Almeida.
“O comando do PP [Progressista] eu já sabia… Eu assumi o partido sabendo que tinha prazo de validade. O que não foi honrado pelo PP à época foi a passagem do comando meu para o prefeito David. Quando eu assumi o PP eu estava do lado do prefeito e com o Ciro Nogueira. Nós três estávamos tendo uma conversa e o Ciro disse: ‘Olha, o Rotta assume o PP e depois da eleição o David Almeida assume o comando do partido no Estado’. Para mim estava ótimo. Isso não foi honrado. Mas, não é apenas o PP. Eu acho que outros partidos são comandados por mão de ferro e isso acaba inviabilizando surgimento de novas lideranças”.
Em março deste ano a executiva estadual foi entregue a aliados do governador Wilson Lima (União Brasil), diferentemente do que Rotta disse ter sido acordado.
O Progressista elegeu a quarta maior bancada de deputados federais em 2022, com 47 parlamentares. Ficou atrás apenas de PL (99 deputados), PT (68) e União Brasil (59). Os partidos com maiores bancadas eleitas em 2022 ficam com o maior tempo de horário de TV e a maior fatia do bolo na distribuição do Fundo Partidário.
Além de PL, PT, União Brasil e Progressista, também tiveram bom desempenho nas urnas em 2022 o MDB, que elegeu 42 deputados, PSD (42) e Republicanos (41). Os partidos são controlados no Estado pelos senadores Eduardo Braga, Omar Aziz e pelo deputado federal Silas Câmara, respectivamente.
(Colaboraram Valmir Lima e Felipe Campinas)