
Do ATUAL
MANAUS — O senador Omar Aziz (PSD) e o ex-deputado federal Marcelo Ramos (PT) foram alvos da “Abin Paralela”, grupo que fazia monitoramento clandestino de opositores durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), segundo o inquérito da Polícia Federal enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) no dia 12 deste mês.
A menção a Aziz e Ramos consta na parte que relata as ações de monitoramento de membros do Poder Legislativo, mais especificamente, nas conversas entre Marcelo Araújo Bormevet, ex- chefe do Centro de Inteligência Nacional, e o agente da Abin Giancarlo Rodrigues.
De acordo com o inquérito, cujo sigilo foi levantado nesta quarta-feira (18), o grupo ligado ao ex-presidente usou o software “espião” FirstMile para obter dados dos parlamentares, que na época faziam dura oposição ao governo federal.
A investigação aponta que os agentes, que eram responsáveis por “caçar podres” e atacar sistematicamente adversários de Bolsonaro, participaram de levantamentos sobre os senadores da CPI da Covid, presidida pelo senador Omar Aziz, e de assessores dos parlamentares. Os agentes faziam a busca de informações negativas para alimentar perfis de desinformação, segundo a PF.
“O mestre me pediu para consultar os processos judiciais dos três senadores patetas do circo. Você consegue os CPFs?”, perguntou um dos indiciados a outro, que respondeu: “kkkkkk vai ter trabalho. Kkkkkk”. O primeiro disse: “Sei disto”. E o segundo: “Acho que dá pra achar sim, sem usar sistemas. É só ir na prestação de contas”.
O relatório também menciona que um dos integrantes pediu a outro para produzir “relatório robusto” com “rolos” do tenente-coronel da Polícia Militar do Amazonas Marcelo Carneiro Garcia, cedido a Omar Aziz. Não há, no relatório final, mais informações sobre o policial amazonense.
A PF também apurou que Marcelo Ramos, que à época era vice-presidente da Câmara dos Deputados, foi incluído na lista de monitorados. Em uma das mensagens, um dos investigados afirma: “Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara. Outro vagabundo para olhar com carinho”. O outro responde: “Vou dar uma dica para o pessoal lá do grupo. Kkkk”.
O nome de Aziz também é mencionado no trecho em que a PF relata investigação contra jornalistas. Segundo o relatório, a jornalista Vera Magalhães foi alvo de pedido de pesquisa cujo marido tinha empresa contratada pelo senador Omar Aziz, também, no contexto de desestabilizar os trabalhos da CPI da Covid.
Para a PF, houve desvirtuamento do emprego da ferramenta tecnológica. “A presente investigação identificou indícios do desvirtuamento das atividades do órgão ou mesmo de seu produto, ocasionando uma espécie de mescla das ações legítimas com ações com desvio de finalidade”, diz o relatório final.