EDITORIAL
MANAUS – A relação do brasileiro com funcionários públicos nunca foi amistosa, mas nesses tempos de pandemia e de polarização que gera grosseria exacerbada, a categoria ficou muito mais vulnerável. Os casos de violência verbal e física extrapolaram todos os limites.
Neste domingo, reportagem publicada pelo ATUAL mostra diversos casos de servidores da saúde que sofreram agressões por usuários apenas por exigir que esses cumprissem medidas de segurança ou por não aceitarem a demora da espera em meio ao caos gerado pela alta demanda.
Entre uma agressão e outra, aparece o insulto “Nós pagamos o teu salário!”. Tal frase é uma grosseria inaceitável, apesar de muito indiretamente o cidadão cumpridor dos seus deveres e em dia com seus impostos, bancar os custos dos serviços públicos.
O problema é que o servidor, na ponta, geralmente cumpre ordens de encarregados, diretores, secretários, ministros entre outros. Há casos, é verdade, em que o servidor opta por prestar um péssimo atendimento ao cidadão, mas essa não é a regra.
As agressões verbais e físicas, a qualquer pessoa, revelam o nível de tolerância de um indivíduo e como ele é capaz de conviver em sociedade. Na maioria das vezes o agressor quer transferir para o agredido uma falha de personalidade própria, um desvio de caráter que o faz enxergar o outro como inferior.
A situação piora quando os agressores “se comportam de forma animalesca”, como relata uma médica de Maceió, na reportagem citada acima. As pessoas chutam a porta, gritam, ameaçam a equipe. A pressão é tamanha que a unidade de saúde colocou seguranças para proteger os profissionais de saúde, que estão trabalhando em plantões dobrados na pandemia.
Uma enfermeira de município de Santa Catarina relatou que levou um soco no olho ao tentar separar uma briga entre pacientes iniciada por reclamação no atendimento na unidade de saúde. Ela e o segurança que a ajudou a conter a briga tiveram que sair escoltados. No dia seguinte, esvaziaram os quatro pneus do carro da enfermeira.
Outro enfermeiro no Rio de Janeiro relata: “As pessoas nos chamam de vagabundos, dizem que são elas que pagam os nossos salários. Chegam quando a unidade já está fechada e querem ser testadas, gritam, xingam”.
E um médico em São Paulo relata ameaça de morte por pessoas que prometem esperá-lo na saída do plantão.
No primeiro ano da pandemia, os médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde em todo o mundo foram tratados como heróis e receberam homenagens por enfrentar a Covid-19 num momento em que o risco de morte era incalculável.
Passados dois anos, esses mesmos profissionais estão recebendo o mesmo tratamento que sempre receberam no Brasil, principalmente nos serviços públicos.
É preciso ter mais respeito com os profissionais de saúde e punir severamente os autores de atos de agressão.