Por Valmir Lima, da Redação
A anunciada filiação do deputado federal Hissa Abrahão (que deve deixar o PPS) ao PDT bagunçou ainda mais o coreto em uma legenda marcada pelas disputas internas de egos e interesses pessoais. Em outubro do ano passado, o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, esteve em Manaus e deu uma bronca nos principais nomes do partido, em especial o deputado estadual Dermilson Chagas e Stone Machado, que disputavam a direção do PDT no Amazonas. “Não estou aqui para ser babá de homem velho”, disse Lupi, na ocasião.
Agora, com a anunciada filiação de Hissa, são os vereadores de Manaus que se rebelam na legenda. Aliados do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), Gilmar Nascimento e Francisco Jornada se sentem carta fora do baralho e já pensam em migrar para outro partido até o dia 18 deste mês, prazo permitido para troca sem risco de perda do cargo. Gilmar Nascimento está licenciado da Câmara Municipal de Manaus e é o atual secretário de Administração da gestão Arthur. Jornada é da base aliada do prefeito e tem uma relação estreita com a administração municipal.
Hissa Abrahão quer ser candidato a prefeito de Manaus e é, de longe, o adversário mais raivoso de Arthur, pelos episódios que sucederam as eleições de 2012. Eleito vice-prefeito e nomeado secretário de Infraestrutura do município, Hissa não ficou um ano no cargo e foi demitido durante uma entrevista do prefeito a uma emissora de rádio. Em 2014, o partido do vice-prefeito deixou a administração municipal e ele se elegeu deputado federal numa coligação com o PMDB de Eduardo Braga, outro adversário histórico de Arthur.
Desconforto
O presidente estadual do PDT, deputado Dermilson Chagas, reconhece o desconforto para os vereadores provocado pela entrada de Hissa na legenda, como também reconhece que o partido fica ainda mais dividido. “O partido tem muitos problemas internos e espero que sejam resolvidos com a vinda do deputado Hissa”, disse Chagas, sem demonstrar qualquer contentamento com a aquisição do PDT.
Sobre os vereadores, Dermilson disse que ambos devem decidir nos próximos dias se ficam na legenda. No início deste semana. O deputado e os dois vereadores de Manaus foram a Brasília e se reuniram com o presidente nacional Carlos Lupi. “Nós fomos falar do partido, como está a divisão, a situação atual. O partido tem uma multa alta no TRE-AM por não prestar contas. Há um ano, não presta contas. Temos problemas também de dupla filiação no Estado. Fomos discutir esses problemas com o presidente”, disse Chagas.
O parlamentar, no entanto, não quis falar do que foi discutido sobre Hissa Abrahão. O AMAZONAS ATUAL apurou que Lupi foi questionado sobre a aceitação de Hissa no partido, mas argumentou que foi o próprio Hissa quem procurou a legenda. Ouviu dos parlamentares que o deputado federal não tem o perfil do partido, mas não conseguiram sensibilizar Lupi. Para o PDT, ganhar um deputado federal ajuda tanto no tempo de televisão para a partido em todo o país quanto no aumento dos recursos do Fundo Partidário.
O namoro com o PDT, no entanto, não começou agora. Desde o ano passado, Hissa vinha conversando com a direção nacional e com membros do partido no Amazonas. Em Manaus, tinha o apoio da Juventude do PDT, mas evitou dialogar com os dirigentes mais alinhados com Arthur e com o governador José Melo (Pros). Preferiu costurar o acordo por cima.
A troca do PPS pelo PDT é boa em vários aspectos para o futuro candidato. A primeira legenda tem, com Hissa, 11 parlamentares na Câmara dos Deputados. A segundo tem 18 deputados. Nessa troca, o PDT pode acabar aumentando a bancada, o que conta muito para os candidatos a cargos majoritários. Mas Hissa Abrahão vai precisar, como sugere Dermilson Chagas, resolver os problemas do partido, que não são poucos, antes de partir para uma campanha.