Da Redação
MANAUS – O empresário Gutemberg Alencar, preso na Operação Sangria, em Manaus, alegou sequelas da Covid-19 ao pedir a revogação da prisão temporária determinada pelo ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Francisco Falcão na segunda fase da ação da Polícia Federal e MPF (Ministério Público Federal) que investiga compra de respiradores pela Secretaria de Saúde do Amazonas.
O pedido, no entanto, foi negado e Alencar deixou o Batalhão de Choque da Polícia Militar após o fim do prazo, no domingo, 18. No mesmo dia, Dayana Priscila Mejia deixou o CDPF (Centro de Detenção Provisória Feminino) e Rodrigo Tobias Lima, Ronald Caldas Santos e Luiz Carlos Avelino Júnior o CDPM II (Centro de Detenção Provisória Masculino 2).
A defesa de Alencar alegou que ele estava em tratamento médico de recuperação após contaminação pela Covid-19, cujo quadro clínico “foi severamente grave e causou sequelas em seu organismo”. José Luiz Franco Júnior, advogado de Alencar, apresentou um relatório médico emitido no dia 8 de outubro e assinado por uma cardiologista.
No documento, a médica afirma que Alencar esteve internado no Hospital Vila Nova Star entre os dias 4 e 11 de setembro devido a grave infecção pelo coronavírus. “Foi internado na Unidade de Terapia Intensiva, tendo necessidade de oxigênio e de terapias específicas anti-inflamatórias, anticoagulantes e imunológicas”, diz trecho do documento.
De acordo com a médica, Alencar encontra-se em “reabilitação motora e respiratória para uma reavaliação que deverá ser realizada em 15 dias”. Para Franco Júnior, a manutenção da prisão impediria o empresário de realizar o tratamento “indispensável à recuperação das sequelas causadas pela grave contaminação de Covid-19”.
“O requerido (Alencar) está sob tratamento médico, inclusive fisioterápico, para o restabelecimento de todas as funções dos seus órgãos internos, em especial os pulmões gravemente atingidos pela contaminação do Covid-19, conforme demonstra o Relatório Médico que acompanham a petição”, diz trecho do pedido da defesa de Alencar.
Ao se manifestar contra o pedido de revogação da prisão de Alencar, no último dia 13 de outubro, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo sustentou que o empresário já foi acometido pela Covid-19 há mais de um mês e que não haveria risco concreto de que ele fosse novamente infectado e que transmitisse o vírus a outros presos.
Ainda de acordo com Lindôra Araújo, o único documento apresentado pela defesa do empresário se limitou a informar que Alencar encontrava-se em “reabilitação motora e respiratória”. Para a subprocuradora, “não há provas que o investigado esteja extremamente debilitado por motivo de doença grave”.
“Não há nos autos, outrossim, informações mais detalhadas sobre quais seriam os procedimentos referentes à “reabilitação motora e respiratória” a que submetido o preso, o que é essencial para se avaliar a viabilidade de o tratamento continuar sendo feito nas dependências em que o preso se encontra recolhido”, afirmou Lindôra Araújo.
Leia também: Ex-gerente da Secretaria de Saúde disse que Gutemberg Alencar operou compra de respiradores
Segundo a investigação da ‘Sangria’, a Secretaria de Saúde comprou, com dispensa de licitação, 28 respiradores de uma importadora de vinhos (Fjap Importadora). Em uma manobra conhecida como triangulação, a Sonoar Equipamentos vendeu respiradores à adega por R$ 2,480 milhões.
No mesmo dia, a importadora de vinhos revendeu os equipamentos para o estado por R$ 2,976 milhões, ou seja, com superfaturamento de, pelo menos, R$ 496 mil, segundo a Polícia Federal. De acordo com as investigações da ‘Sangria’, após receber valores milionários em sua conta, a adega os repassou integralmente à organização de saúde.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Gutemberg Alencar.