MANAUS – Na segunda parte deste artigo sobre Felicidade Sustentável, exploraremos o tema sob a perspectiva das práticas diárias, dos relacionamentos e do propósito de vida — elementos que fundamentam uma vida significativa e conectada.
Enquanto o bem-estar individual é crucial, a noção de uma vida plena e feliz transcende o eu e se enraíza na contribuição que fazemos para e com o outro. Esse tipo de felicidade, que podemos chamar de “felicidade social”, está ancorado em nossa capacidade de cooperação e na sensação de pertencimento a algo maior que nós mesmos.
Essa visão alinha-se com o que Yuval Harari aponta como a vantagem evolutiva da espécie humana: nossa habilidade para colaborar em larga escala. Nosso cérebro é moldado para encontrar satisfação e até mesmo felicidade em ajudar, servir e nos conectar com outros.
Felicidade também não é um estado fixo nem determinada unicamente por componentes genéticos. Embora fatores genéticos possam estabelecer uma base, eles não são definitivos. Segundo Lucia Barros, mesmo pessoas predispostas ao pessimismo podem cultivar uma visão mais otimista e feliz, enquanto aqueles geneticamente inclinados ao otimismo podem perder essa capacidade se não a nutrirem. Essa compreensão reforça a ideia de que nossas escolhas e hábitos diários são essenciais para construir uma felicidade consciente e sustentável.
Após ultrapassar as necessidades básicas, a condição de vida, especialmente financeira, tem um impacto menos direto sobre a felicidade do que muitas vezes imaginamos. Do contrário, não haveria pessoas ricas infelizes e pessoas pobres felizes, e vice-versa. O dinheiro pode aumentar nossa liberdade e proporcionar segurança e conforto, elementos que contribuem para o bem-estar, mas não garante felicidade.
A prática da felicidade vem de pequenas decisões e rotinas diárias: cultivar emoções positivas, momentos de mindfulness, meditação, compaixão e autocompaixão. Cuidar de nossos relacionamentos, tanto internos quanto com aqueles ao nosso redor, é fundamental para sustentar um estado de bem-estar duradouro.
A felicidade é, em última análise, um projeto coletivo. Colaborar, ser compassivo e ajudar uns aos outros torna a vida menos pesada para todos. Reconhecemos nossa humanidade compartilhada e praticamos a compaixão, percebendo que a vida é um desafio, mas que juntos somos mais resilientes. Essa perspectiva nos conecta a algo maior — muitos chamam de espiritualidade ou até de Deus. Esse vínculo com um sentido transcendental nos ajuda a encontrar propósito e significado.
Por fim, precisamos atentar à metanarrativa: a história que contamos para nós mesmos. Muitas vezes, nossos pensamentos são críticos e nos sabotam. Reescrever essa narrativa com compaixão, como faria um amigo próximo, como fariam uma mãe e um pai amorosos, permite uma visão mais equilibrada e positiva sobre nossa jornada.
A felicidade é multifacetada e envolve as emoções cotidianas, a satisfação com a vida e os vínculos que cultivamos. Nossas escolhas, atitudes, valores e o modo como cuidamos de nossos relacionamentos moldam nossa felicidade e, com ela, nossa resiliência para lidar com a ansiedade e a depressão.
Em resumo, estabelecer hábitos positivos gera uma espiral ascendente de bem-estar, blindando-nos das pressões e desafios da vida. Assim, construímos uma felicidade ampla, enraizada e significativa — uma felicidade sustentável, não apenas a alegria do momento.
Roseane Mota é jornalista, formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e aluna do programa mentorado Bússola Executiva. É servidora pública do quadro efetivo do Estado e coordenadora de Comunicação na Unidade Gestora de Projetos Especiais - UGPE, do Governo do Amazonas.
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