MANAUS – A busca pela felicidade tem sido uma constante na vida humana ao longo dos tempos. Embora o conceito de felicidade tenha mudado conforme a cultura e o momento histórico, a sua importância permanece inalterada. Desde as reflexões de William James, filósofo e psicólogo americano, que enxergava a felicidade como um componente central para o desenvolvimento pessoal, até as recentes explorações da ciência da felicidade, é evidente que essa busca é essencial tanto para o indivíduo quanto para a sociedade.
Ser feliz não é apenas uma experiência pessoal de bem-estar; é uma força vital que molda as interações e colaborações humanas, contribuindo para uma sociedade mais saudável e conectada.
Segundo Lucia Barros, especialista em Ciência da Felicidade e criadora do método Reprogramação Geral da Presença (RGP), pessoas felizes vivem mais, são mais resilientes e cooperativas, têm melhores relacionamentos e são mais produtivas. Isso demonstra que a felicidade genuína transcende o bem-estar individual, pois promove um ambiente de apoio e inovação, no qual as pessoas podem florescer. A felicidade sustentável, nesse contexto, não é uma questão de hedonismo, mas sim de cultivar qualidades que tornam a vida verdadeiramente satisfatória e significativa.
Por muito tempo, acreditava-se que a personalidade era fixa – a chamada “Síndrome de Gabriela”: “Eu nasci assim, cresci assim, vou ser sempre assim”. No entanto, com as descobertas sobre neuroplasticidade, sabemos que o cérebro humano é capaz de se transformar ao longo da vida. Essa capacidade nos permite aprender e desenvolver características que contribuem para a felicidade, como a compaixão, a paciência e a paz interior. São habilidades que podem ser aprimoradas pela prática consciente de mindfulness, gratidão, perdão e otimismo. Assim, podemos assumir um papel ativo na nossa jornada em direção a uma vida mais feliz e equilibrada.
O conceito contemporâneo de felicidade leva em conta, liberdade e aparência. Na sociedade contemporânea, o conceito de felicidade é fortemente influenciado pelo individualismo, em que cada um é responsável por buscar e consumir sua própria felicidade. Com isso, a felicidade passou a ser encarada como uma soma de prazer e liberdade, uma conquista individual que deve ser exibida – e é aqui que as redes sociais entram, reforçando uma visão superficial e distorcida. O que vemos é uma “felicidade de vitrine”, em que momentos de alegria e sucesso são enfatizados, e os aspectos desafiadores da vida são minimizados ou ocultos.
Esse cenário resulta em uma “infelicidade de não ser feliz o suficiente”, comparando constantemente nossa vida com a aparente perfeição alheia. Nosso cérebro, programado para a comparação, nos leva a acreditar que somos os únicos a enfrentar dificuldades, já que só temos acesso à totalidade da nossa vida – com os altos e baixos – enquanto as redes sociais nos mostram apenas os “melhores momentos” dos outros. Isso contribui, como afirma Lúcia Barros, para o fenômeno da positividade tóxica, onde apenas emoções positivas são valorizadas, enquanto sentimentos como tristeza, frustração e raiva são rejeitados.
Felicidade Sustentável é aceitar a completa experiência humana. Lucia Barros descreve a felicidade sustentável como aquela que abrange toda a gama de emoções humanas, reconhecendo que momentos de tristeza e frustração são naturais e têm um papel importante na construção de uma vida plena. Ter momentos de tristeza não torna a vida infeliz; pelo contrário, entender e aceitar essas emoções como parte da experiência humana nos permite fazer escolhas conscientes sobre como lidar com elas.
“Eu escolho não ficar preso na tristeza, mas também sei me conectar com as emoções positivas e com o sentido da vida”, explica Lucia. Isso nos ajuda a construir uma felicidade duradoura e autêntica, que não depende exclusivamente de prazeres momentâneos, mas de um equilíbrio entre as emoções e o propósito de vida.
A nossa visão distorcida de felicidade, influenciada pela busca desenfreada por perfeição, riqueza e status, contribui para o que Lucia chama de “pandemia de infelicidade” – um fenômeno marcado pelo vazio existencial, pela ansiedade e pela depressão. Buscamos preencher essa lacuna com consumo e perfeição, na esperança de alcançar uma felicidade idealizada. No entanto, essa abordagem frequentemente leva à frustração e ao esgotamento, pois não atende às necessidades mais profundas do ser humano.
Felicidade, no sentido mais amplo, é a experiência de alegria e contentamento combinada com a percepção de que a vida é boa, significativa e digna de ser vivida. Compreender a felicidade como um processo que inclui tanto as emoções positivas quanto os desafios emocionais nos permite ressignificar nossa relação com ela. A busca por felicidade torna-se, assim, uma prática de desenvolvimento pessoal, um processo contínuo de autoconhecimento e aceitação.
Por fim, como Willian James destacou, a busca pela felicidade é uma força transformadora, e a forma como encaramos essa busca pode mudar profundamente a sociedade. Pessoas felizes tendem a ser mais colaborativas, criativas e compassivas, o que beneficia a todos. Ao entender e praticar a felicidade de forma sustentável, estamos contribuindo para um mundo mais harmônico e empático – e isso é algo que realmente vale a pena.
Roseane Mota é jornalista, formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e aluna do programa mentorado Bússola Executiva. É servidora pública do quadro efetivo do Estado e coordenadora de Comunicação na Unidade Gestora de Projetos Especiais - UGPE, do Governo do Amazonas.
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