Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Os candidatos que gastam mais com a campanha eleitoral tendem a ganhar, mas a popularidade e a organização do partido também pesam independente de quanto em dinheiro foi investido, afirma o o cientista político Tiago Jacaúna.
Dados disponíveis no Divulgacandcontas, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mostram que o custo por voto dado a Amazonino Mendes (Podemos) no primeiro turno foi maior do que o de David Almeida (Avante). O voto a Mendes custou R$ 14,82 por eleitor, enquanto o de Almeida foi de R$ 9,49.
Os valores consideram o montante arrecadado na campanha dividido pelo número de votos recebidos. Amazonino declarou receita de R$ 3,47 milhões e recebeu 234.088 votos. Almeida declarou arrecadação de R$ 2,08 milhões e recebeu 218.929 votos.
“Quando a gente avalia as campanhas eleitorais no Brasil acabamos constatando que candidatos que gastam mais tendem a ser eleitos. Isso é um ponto que a gente vem verificando ano após ano nas campanhas eleitorais com raras exceções”, diz Jacaúna.
O analista avalia que a popularidade tem influência importante na decisão do voto. “É difícil dizer que uma campanha mais elaborada e mais cara pesaria mais que a popularidade. Eu vejo que as duas coisas são importantes”.
Segundo ele, alguns candidatos aproveitam que já são conhecidos por um público para investir menos em publicidade. “Algumas vezes, candidatos muito populares que têm uma certa visibilidade por serem apresentadores de programas de TV, alguma popularidade musical por ser um artista, precisam de menos gastos de campanha porque já têm uma visibilidade consolidada”, diz.
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Além desses dois fatores, há a organização da sigla partidária. Quanto mais estruturada maiores as chances de seus filiados se elegerem. “Então, candidatos que estão filiados, representados por partidos políticos mais organizados e com uma coordenação mais centralizada têm melhores condições de ganhar um pleito também”, afirma.
Publicidade
Os valores destinados à publicidade tendem a ser muito mais importantes que os demais gastos na campanha eleitoral, segundo o analista. De acordo com o Divulgacandcontas, Amazonino, que recebeu R$ 3,47 milhões em recursos, gastou R$ 2,27 milhões. David, que recebeu R$ 2,08 milhões, declarou despesas de R$ 2,11 milhões até então.
Apesar de ter menos gastos no total, quem mais investiu em publicidade foi David. Números atualizados na prestação de contas mostram que o candidato pagou R$ 125,4 mil em impulsionamento de conteúdo e Amazonino, R$ 100 mil. Com a produção de programas de rádio, televisão e vídeo, David investiu R$ 800 mil e Amazonino investiu R$ 500 mil.
Em publicidade por materiais impressos, David pagou R$ 198,1 mil, e não há gastos com isso na prestação de contas de Amazonino.
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Apesar de custarem menos que os programas eleitorais veiculados na televisão e rádio, Jacaúna afirma que focar apenas nas mídias sociais não garante a redução nos custos de campanha. “Quando se fala nas redes sociais, nas mídias digitais, na primeira análise é que isso pode diminuir sim os custos das campanhas eleitorais. Mas as peças de publicidade elas apenas podem ser deslocadas da propaganda eleitoral gratuita e o custo ser igual”, diz.
Na avaliação de Jacaúna, a visibilidade gerada pelas redes sociais e o uso frequente dos candidatos poderá encarecer a divulgação pelo meio.
Apesar do uso massivo das redes, Jacaúna avalia que o presencial ainda tem impacto nas eleições, o que foi afetado pela pandemia de Covid-19. “As redes sociais elas podem sim potencializar a visibilidade do candidato, talvez até maior que a propaganda eleitoral. A campanha eleitoral de dois anos atrás ela meio que deu esse tom. Embora ainda seja muito forte no Brasil, eu avalio, que o corpo a corpo ainda é um fator muito importante. Principalmente em virtude da nossa desigualdade social, pouco acesso aos meio de comunicação”, afirma.