Da Redação
MANAUS – Donos de mandatos conquistados no passado graças à exposição na TV e no rádio, ex-apresentadores de programas populares que disputaram a eleição para o cargo de vereador de Manaus nas eleições deste ano tiveram baixa aceitação do eleitorado e ficaram de fora da lista dos 41 eleitos e reeleitos no domingo, 15.
Entre os que tinham visibilidade que não tiveram votos suficientes para vencer o pleito estão o vereador Carlos Portta (PSB), que teve 946 votos; Mirtes Sales (Republicanos), 1.116 votos; Reizo Castelo Branco (PTB), 1.779 votos; Elias Emanuel (PSDB), 3.646 votos; Socorro Sampaio (PSDB), 1.717 votos; Henrique Oliveira (Pros), 715 votos; Liliane Araújo (PSL), 1.963 votos; e Willace Souza (Avante), 1.828 votos.
Henrique Oliveira, apresentador do “Fogo Cruzado”, exibido na TV Band Amazonas, teve votação ínfima comparada aos total de votos que recebeu em 2008. Naquele ano, ele foi o vereador eleito mais votado com 35.518 confirmações. O desgaste da imagem de Oliveira se deu após a cassação da chapa que ele formava com o ex-governador José Melo em maio de 2017 por compra de votos.
Oliveira chegou a ter a inelegibilidade anulada pelo TRE-AM (Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas) em junho de 2019 após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Em agosto de 2018, a Suprema Corte atendeu parcialmente o recurso ajuizado pelo ex-vice-governador para manter os direitos políticos dele e afastar a inelegibilidade por compra de votos.
À época, Henrique disse a reportagem do ATUAL que a decisão da Justiça confirmava a inocência dele e comentou que passou por momentos difíceis para “pagar pelo erro” de aceitar participar de uma chapa com um “grupo que não conhecia” e que fazia oposição. Ele chegou a anunciar que deixaria o Pros, mas se candidatou pelo mesmo partido neste ano.
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Carlos Portta, nome popular de Carlos Renê de Souza Fernandes, foi eleito em 2016 com 6.610 votos prometendo “quebrar o pau na Câmara Municipal de Manaus”, neste ano teve apenas 14% dos votos recebidos há quatro anos.
Na televisão e na internet, Portta apresentou até 10 de agosto (último dia para apresentadores candidatos aparecerem em programas) o humorístico “Programa do Presidente”, que, segundo ele, tem “entrevistas divertidas, brincadeiras irreverentes e atrações cheias de humor”.
Elias Emanuel foi reeleito vereador da CMM (Câmara Municipal de Manaus) com 6.397 votos em 2016 e neste ano ficou com pouco mais da metade.
Ele ganhou visibilidade após atuar como repórter na antiga Rádio Amazonas FM (hoje CBN Amazônia) e na TV Amazonas, da Rede Amazônica. Emanuel também atuou como apresentador do Programa Amazônia em Debate, do canal Amazonsat, do mesmo grupo de comunicação.
Desprestígio
Para o analista político Afrânio Soares, presidente da Action Pesquisas de Mercado, a função de apresentador de rádio ou TV, principalmente de programas populares, já foi muito útil para eleição de candidatos a vereador e deputado estadual no Amazonas.
Soares cita o caso de Wallace Souza, que ganhou evidência por apresentar o programa policial Canal Livre e que, nas eleições de 1998, foi o candidato mais votado com 51.181 confirmações.
“O fato de ser apresentador de TV já foi muito útil para candidatos não só a vereador, mas a deputado. Relembra aí o Wallace Souza, Sabino Castelo Branco, Marcos Rotta, enfim, diversos. Mais recentemente, vindo da televisão e rádio, Álvaro Campelo, Elias Emanuel, que era apresentador também, dentre outros. O próprio governador Wilson Lima”, afirmou Soares.
Para o analista político, esse cenário de “desprestígio” da classe dos apresentadores de programas populares está ligado, de forma indireta, com a avaliação negativa do governador Wilson Lima. Vindo de um programa popular na televisão, onde era apresentador, Lima enfrentou diversas crises na gestão estadual após assumir o comando do Governo do Amazonas.
Novos rostos
O Canal Livre, que evidenciou Wallace Souza o tornando o mais votado na eleição de 1998, não turbinou a campanha do filho dele, Willace Souza, neste ano. O programa policial começou a ser transmitido em formato on-line em janeiro deste ano.
Esse caso é citado pelo cientista político para descrever que o desprestígio da classe de apresentadores também alcança novos rostos que ganharam visibilidade recentemente.
De acordo com Soares, a apresentadora Nath Nascimento (PSC), que é do mesmo veículo que evidenciou Wilson Lima, foi quem se destacou “um pouco mais” nas eleições de domingo. Ela obteve 4.371 votos. Apesar de ter mais voto que dez vereadores eleitos, o partido da apresentadora só conseguiu votos suficientes para ter direito a quatro vagas na CMM.
“Mas foi bem aquém, digamos assim, a aceitação de apresentadores de TV, que são muito mais conhecidos. Ou seja, essa parte do processo de vir a ser conhecido pela população era uma vantagem que os candidatos apresentadores tinham uma vez que eles já eram conhecidos, e os outros, seus concorrentes, ainda necessitavam vir a ser conhecidos”, disse Soares.
O analista político também cita a regra da lei eleitoral que determina que apresentadores se afastem de suas funções três meses antes do pleito.
‘Recado’
Em entrevista recente ao ATUAL, Henrique Oliveira disse que o resultado das urnas é um recado da população. “Foi uma eleição bem atípica por causa da pandemia, por causa do descrédito da classe política, a necessidade que o eleitor viu de renovação, a questão realmente de abuso do poder econômico por parte de alguns candidatos. Em relação à minha eu não vou espernear, eu entendi o recado da população”, disse Oliveira.
Para o ex-vice-governador, há diferenças entre fã e eleitor. “A população gosta demais de mim, a população assiste os meus programas, gosta da minha trajetória, tem um carinho enorme pela figura do Henrique Oliveira, mas escolheu outro candidato. Então, a gente tem que respeitar isso, ser fã é uma coisa, ser eleitor do Henrique Oliveira é uma coisa bem diferente”, disse.
Os apresentadores de tv usam seus programas sensacionalistas para enganar o povo sofrido de nossa cidade, mas o povo está aprendendo que jornalista falastrão, é que nem cachorro bravo desdentado, ou seja: late muito mais não morde. Ir para frente de uma câmera e falar mal do poder público e prometer resolver tudo é muito fácil, principalmente quando quer enganar os outros. Estamos de olho!