Por Ana Estela de Souza Pinto, da Folhapress
BRUXELAS – A pandemia de coronavírus fez o Brasil despencar no ranking de felicidade do WHR, grupo de estudo coordenado entre outros pelo economista Jeffrey Sachs, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia (EUA), pelo Centro de Pesquisa de Bem-estar da Universidade de Oxford (Reino Unido) e pelo Programa de Bem-Estar da London School of Economics and Political Science.
Considerando apenas o ano de 2020, o Brasil ficou em 41º lugar entre 95 países pesquisados pelo instituto Gallup. No ranking de 2019 do WHR (que usa a média dos três anos anteriores), ele ocupava a 29ª posição.
Usando essa comparação, os brasileiros ficaram relativamente mais infelizes (ou seja, perderam posições no ranking) de forma mais acentuada que seus vizinhos de continente. Argentinos passaram de 45º para 47º, chilenos, de 34º para 38º (ultrapassado o Brasil), e uruguaios, de 25º para 30º.
O trabalho deste ano usou essa comparação apenas com 2020 para poder observar o impacto específico da pandemia. Mas a infelicidade provocada pela pandemia fez o país recuar também quando se considera o resultado médio de 2018 a 2020, conforme a metodologia do WHR. Nessa comparação, o Brasil caiu seis pontos, para o 35º lugar.
Independentemente do recorte feito, a Finlândia continuou ocupando o primeiro lugar no estudo, que tem como objetivo oferecer uma forma de comparar a sensação de bem-estar de populações e servir como ferramenta para avaliar o impacto de políticas públicas.
No ano da pandemia, havia dois objetivos principais: observar o efeito da Covid-19 na qualidade e estrutura de vida das pessoas e descrever e avaliar como governos de todo o mundo lidaram com a crise. Os pesquisadores também tentam explicar por que alguns países se saíram tão melhor que os outros.
Acesso imediato a bons exemplos, liderança eficaz – capaz de agir de forma rápida e adequada – e uma sociedade receptiva são as conclusões do estudo. “Em conjunto, nossas medidas de riscos de infecção e apoios de políticas se combinam para explicar dois terços das diferenças nas taxas de mortalidade entre os países”, afirmam.
Países em que a mortalidade foi muito maior que a prevista foram em geral aquele “onde havia ceticismo no mais alto nível político sobre a gravidade do vírus”. Como exemplo, os autores citam Brasil e Estados Unidos, sob o governo Trump. Outra causa para um aumento excessivo de mortes foi a falsa disputa entre saúde e economia, grupo no qual também incluem Suécia e Reino Unido.
“As evidências de 2020 sugerem fortemente que os países que priorizaram a supressão da transmissão também conseguiram obter melhores resultados nas dimensões econômica e social”, afirmam. Isso aconteceu tanto globalmente quanto dentro de cada região, onde o risco de doenças e a exposição são mais comparáveis.
Segundo os pequisadores, o caminho para o sucesso em ambos os campos – na saúde e na economia – veio de uma intervenção rápida e decisiva, incluindo testes, rastreamento, isolamento e informação sobre medidas para evitar a transmissão, como uso de máscaras e distanciamento físico.
O pior efeito da pandemia nas medidas gerais de felicidade foram os 2 milhões de mortes por Covid-19 em 2020, um aumento de quase 4% no número anual de mortes em todo o mundo, que, segundo os autores do estudo, representa uma grave perda de bem-estar social.
“Para os vivos, tem havido maior insegurança econômica, ansiedade, perturbação de todos os aspectos da vida e, para muitas pessoas, estresse e desafios para a saúde física e mental”, escrevem.
Com base em amostras do Reino Unido, eles detectaram mudanças bruscas em emoções positivas e negativas no ano passado, com quedas rápidas no balanço há confinamento, mas recuperação também rápida quando ele é retirado.
Uma das chaves para entender as diferenças internacionais é a confiança e a capacidade de contar com os outros (por exemplo, acreditar que uma carteira perdida na rua será devolvida). Segundo os autores do estudo, a confiança afeta mais a sensação de felicidade que outros quatro itens avaliados: renda, saúde, liberdade e generosidade.
Para o mundo como um todo, a mudança mais relevante foi entre os que se disseram tristes ou preocupados no dia anterior da pesquisa: o aumento médio foi de 10%.
Não poder trabalhar teve um impacto negativo no bem-estar, num ano em que o PIB global encolheu 5%, segundo estimativas, na maior crise econômica das últimas décadas.
Nos cálculos do estudo, o desemprego durante a pandemia está associado a um declínio de 12% na satisfação com a vida e a um aumento de 9% nos afetos negativos. Para a inatividade no mercado de trabalho, esses valores são de 6,3% e 5%, respectivamente.
Embora os jovens relatem níveis mais baixos de bem-estar do que outras faixas etárias, o efeito de não poder trabalhar é menos grave do que entre os mais velhos, sugerindo que eles podem ser mais otimistas sobre as oportunidades futuras.
Os pesquisadores ressalvam, porém, que suas conclusões sobre o efeito da Covid-19 na felicidade são provisórias, porque “a pandemia ainda está longe do fim”.